Partir pela manhã na minha herdada barcaça, na subida da maré, indo até à Ilha do Rato é um ritual que sigo desde que me lembro de existir. Comecei esta romaria com meu Pai, o saudoso Júlio “Custou” Caxias. A alcunha provém das semelhanças físicas e de hábitos com o velho lobo-do-mar francês. Meu pai era um homem fantástico, com uma cultura alicerçada nas horas passadas a jogar à bisca de nove com outros marinheiros, com um charme natural capaz de amolecer o coração duma estátua de bronze, com um sentido de humor capaz de fazer chorar a rir um calhau da calçada. Para além de marinheiro e estudioso do mar foi também amolador de pedra-pomes, escritor, pintor e ainda teve tempo para criar a Fundação Caxias.
A Fundação, com gabinete no Bar Sedução, tem a responsabilidade cívica de apoiar desportistas (jogadores de dominó, descascadores de ervilhas, jogadores do chinquilho, etc.), poetas, músicos e todos aqueles que de alguma forma desejem viver da sua arte. Os tipos de apoio variam consoante a qualidade e experiência a nível artístico, podendo ir desde a motivante palmadinha nas costas até uma bolsa mensal. A bolsa pode alternar entre o azul-bebé, o amarelo e o preto e tem fecho éclair, podendo conter variadas coisas como uma malha, canetas Bic, um baralho de cartas, uma cassete pirata dos i-glamour ou fantásticos conselhos manuscritos de lendas da região como Licínio Chispes, “Facadas” Canhoto ou Tia Albertina.
Agora vou porque o tempo voa. A Ilha do Rato espera-me. Voltarei na descida da maré.