quarta-feira, novembro 30, 2005

O Código 14 – Capítulo IX

O barco a remos que os transportava para a Ilha do Rato era propriedade de Tia Albertina. Senhora de grandes virtudes, dona de casa a tempo inteiro, vendedora de jogo ilícito e atleta de levantamento de copo 3 nas horas vagas. A custo conseguiram convence-la a emprestar-lhes o batel. Aliás… a muito custo. Foram necessários 250 euros e a promessa de que o barco sobreviveria à viagem sob pena de serem severamente punidos fisicamente. Quando uma ameaça destas vem de alguém com 140 quilos, com pernas e braços facilmente confundíveis com troncos de árvore, deve ser levada a sério.
A maré subia rapidamente. Pedrito cadenciava a remada, procurando ignorar o cheiro a peixe, impregnado na madeira da embarcação, e os gemidos de Piaçá que começava a ficar almareado com o balanço provocado pelo rio.
Aproximavam-se da Ilha rapidamente. Alguns barcos de pescadores circundavam-na, muitos outros para ela se dirigiam. Era a romaria habitual ditada pela maré e pelo bom tempo. Fizeram o desembarque pela parte sul da ilha. O curto areal, repleto de mosquitos e cascas de canivetes serviu para se sentarem a retemperar forças e a definir estratégias.
- Fazes alguma ideia por onde devemos começar? – Questionou Pedrito Bodega ainda ofegante pelo esforço despendido.
- Faço. Pela casa em ruínas. Tudo o resto é areia, lodo e vegetação. Tem que estar ali.
Após o breve descanso, começaram a cortar caminho por entre a vegetação. A ilha não teria mais de 10 hectares. Na parte central existia o que restava duma pequena casota: a laje térrea em betão revestida com ladrilhos hidráulicos, algumas paredes de tijolo, destroços de mobiliário.
Entraram nas ruínas. O cheiro naquele local fazia o barco da Tia Albertina parecer um prado de flores num matinal dia de Primavera. As paredes estavam recheadas de alusões clubistas, juras de amor, frases de cariz político, símbolos erótico-pornográficos. Mas de todas as gravuras, houve uma que prendeu a atenção de Piaçá. A sigla dos Cavaleiros da Tasca, GCT, estava desenhada a tinta vermelha, na parede nascente, com uma seta apontada para o chão. Piaçá agarrou num pedaço de madeira, que teria sido em tempos a perna duma cadeira, e começou a bater na laje junto à parede onde estava a seta. O som oco indicava que havia ali algo. Entusiasmado bateu com mais força. O pau soltou-se da mão, batendo-lhe no pé direito. O incidente provocou-lhe imensas dores, iniciando então uma série de movimentos, que foram desde o saltar ao pé-coxinho, até ao cantarolar do “Fado do 31” deitado no chão, agarrado ao pé, como um futebolista após uma entrada mais dura. Pedrito Bodega decidiu agir. Agarrou o pau e ele próprio bateu naquela zona da laje. Com facilidade o ladrilho partiu e vislumbrou-se o que parecia uma pequena câmara circular com menos de 1 m de diâmetro. Após olhar para o seu interior, Bodega introduziu o braço direito apercebendo-se que, por entre pedaços cerâmicos e teias de aranha, a profundidade era de 50 cm. Reparou também na existência dum saco plástico com algo lá dentro. Fez emergir o saco. Era um saco do Feira-Nova duma campanha de Natal. Abriu o saco e tirou do seu interior uma caixa de sapatos (da Sapataria Tó-Zé) já meio deteriorada pelo tempo. O seu coração pulsava descontroladamente. Será que finalmente encontrara o que durante meia vida procurou?
O abrir da caixa de sapatos fez os olhos de Pedrito encherem-se de lágrimas. Piaçá, já menos dorido, rastejou até ele e olhou para o conteúdo da caixa. Estava revelado o segredo. O Graal estava ali, na Ilha do Rato: era uma pequena taça de cortiça. Junto à taça estava um manuscrito, com aspecto antiquíssimo, enrolado com uma fita doirada. Ao abrirem o manuscrito puderam ler:

Ó Pedrito foste apanhado
Tu e o lunático do Piaçá
É que o Graal foi comprado
Numa loja em Massamá


FIM

segunda-feira, novembro 28, 2005

O Código 14 – Capítulo VIII

“Já consegui decifrar o código”. Teria sido uma frase apreciada por Pedrito Bodega, se ele tivesse prestado atenção a Piaçá, que a repetia como um puto mimado. Mas a mágoa impedia-o prestar atenção. Tinha sido traído e desrespeitado por aqueles que julgava serem seus amigos. Aproximando-se do jovem disse:
- Piaçá, não obtive nada lá de dentro. Estou um farrapo. Não sei o que fazer.
- Mas Sr. Pedrito não me ouviu?
- O quê? Eu… não, não ouvi o que estavas a dizer…
- Eu disse que já consegui decifrar o código.
- Qual código?
- Então… aqueles números que aparecem no fim da folha. A mesma que nos trouxe até aqui? Dah!! – Disse Piaçá fazendo uma careta suficientemente ridícula para o eleger como cromo-mor duma qualquer irmandade de cromos.
- Já conseguiste? E como fizeste isso?
- Pensei sobre aquela sequência. – Começou por dizer Piaçá, que em simultâneo tirou uma folha rascunhada do bolso. A folha estava dobrada, mostrando a Pedrito apenas uma face da dobra, onde estava a sequência escrita. – Estamos diante dum código onde a cada número corresponde uma letra. Depois de inúmeras tentativas, não cheguei a nada de lógico. E havia algo de estranho no código, tínhamos letras repetidas, ou melhor, números repetidos.

9___7-6-13-13-12___9-5-13-13___10-13___5-12-6-13

- Sim. O 13. – Disse Pedrito olhando para a folha.
- Exacto. Daí conclui que para cada número pode corresponder mais do que uma letra. Foi então que me recordei do fim do capítulo III do livro do seu antepassado Raimundo. Ele pega numa carta do Almirante Caxias para El-Rei, contando a sua chegada à praia da Barra a Barra, e decifra uma sequência numérica a qual apelida de código catorze. Está lá tudo! Eu experimentei e resultou com a nossa.
Nisto desdobra uma vez a sua folha de rascunho e mostra-a a Pedrito.



____1_2___
__9____3__
_8__14__4__
__7____5__
____6____

- O que é isto? – Perguntou Bodega um pouco confuso.
- Isto ajuda-nos a contar os números até chegar a determinada letra de forma cíclica. Ao número que chegarmos subtraímo-lo ao 14 e temos o número correspondente. Por exemplo o a, corresponde ao número 1. Subtraindo-o a 14 temos o número 13. No entanto repare que a cada número corresponde mais que uma letra, o que torna as coisas confusas.
Com mais uma parte da folha desdobrada, Piaçá mostrou o seguinte a Bodega:

9___7-6-13-13-12___9-5-13-13___10-13___5-12-6-13

E___G H A A B ___E I A A___D A___I B H A
O___
Q R J J L ___O S J J ___N J ___S L R J
Z ______T T U _____Z T T___X T______U T


- E desta sopa de letras consegues perceber alguma coisa?
- Sim. Seleccionando a letra certa de cada número chego à seguinte frase…
Agora abrindo a totalidade da folha podia ler-se:

O GRAAL ESTA NA ILHA

- Na ilha!!!!?? O Graal está na Ilha do Rato!!!!!????????? – Disse Pedrito Bodega quase sem conseguir respirar.
- É o que diz o código. E que tal se fossemos averiguar?

sexta-feira, novembro 25, 2005

O Código 14 – Capítulo VII

Pedrito Bodega não tinha dúvidas, era Albino Calhau, ex-capitão do navio pirata “Lenita do Coina”, que em tempos assolara o Mar da Palha, lançando o terror nos Cacilheiros e nas canoas desportivas do Tejo. Começou então a observar os presentes, um a um. Apesar das fantasias conseguiu identificar (pelo menos assim ele julgou) um grande número deles. Fosse pela voz, pela barriga saliente, pelo amarelado dos dentes, ou pela pulseira banhada a oiro do Ti Bezana, Pedrito conseguiu ligar nomes a quase todos os indivíduos que ali se encontravam. O medo inicial transformou-se em raiva. Raiva que sentia por ter sido colocado de parte. Estavam ali amigos, companheiros de longa data, ex-colegas e ele não tinha sido convidado. Sentia-se dividido. Por um lado a investigação que estava a levar a cabo, por outro a vontade de estragar aquela reunião. Resistiu. Deixou-se ficar quieto a observar.
Aparentemente estaria a principiar um Ritual Iniciático. Um indivíduo, que Pedrito não conseguiu reconhecer, foi para o centro do círculo e deitou-se no chão de barriga para cima. Dois outros foram buscar uma pipa de vinho, colocando a torneira junto aos lábios do caloiro. O líder ordenou que o mancebo abrisse a boca. Em seguida os dois tasqueiros que haviam trazido a pipa, abriram a torneira que começou a jorrar vinho tinto para as entranhas do iniciado. Em uníssono a rapaziada começou a cantarolar “Se quiseres ser cá da malta, tens que beber esta pomada até ao fim, até ao fim…”. Alguns litros à posteriori, o novo membro era levado em ombros para o logradouro da Tasca, inconsciente.
Teve então início um sermão proferido pelo Grão-mestre. Pedrito ouviu coisas que lhe pareceram sem nexo: “Somos o que resta da Atlântida”, “ A Ilha Achada guarda o segredo”, “ Rapaz trás ai mais um copo 3 se faz favor”. Tudo aquilo era estranho. Que ilha seria aquela? Será que falavam da Ilha do Rato?
Nisto, enquanto continuava perdido em dúvidas, numa névoa de pensamentos, ouviu uma frase que o deixou em alerta: “ Parece-me que hoje não somos 16, mas sim 17. Estará cá alguém a mais ou é o tinto já a fazer efeito?”
Pedrito tinha sido descoberto. Não estava preocupado com isso. A irritação que sentia afogara-lhe o medo.
- Deve ser da bebida Binito. – Disse Pedrito Bodega – Sim porque eu sei que és tu. Estou muito desapontado contigo e com vocês também – Acrescentou ainda, apontando para os companheiros de círculo.
- Aqui não há Binitos, nem Zés, nem Maneis nem um raio que o parta! – Respondeu o Grão-mestre irado. – Entraste sem ser convidado. Andas atrás de alguma coisa. Que queres saber?
- Quero saber que segredo existe sobre a Ilha do Rato.
- Eu já te dou o segredo. Hornak mostra a porta de saída a este senhor.
Nisto surgiu o Homem das Cavernas, agarrou em Pedrito como se fosse uma saca de batatas e transportou-o até à porta, largando-o de seguida no chão frio da calçada.
- Senhor Pedrito – Exclamou Piaçá, que continuava sentado no passeio do outro lado da rua, com aquele seu sorriso parvo nos lábios. – Já consegui decifrar o código!!

quarta-feira, novembro 23, 2005

O Código 14 – Capítulo VI

Quinta-feira à noite, Bairro das Palmeiras. Duas figuras, uma alta e esguia e outra roliça e atarracada abeiraram-se da porta da Tasca do Azedo. Vinham de acordo com o aconselhado por Mr. Stylish, de túnica preta e máscara. Pedrito optara por uma mascarilha à Zorro, Piaçá trazia a máscara do Incrível Hulk.
- Que raios Piaçá… isso é caraça de se apresente?
- Era esta ou a do Topo Gijo…
A porta da tasca encontrava-se fechada, como aliás seria de esperar, a folga do pessoal era às quintas-feiras. Bateram (ambos) à porta. A porta foi aberta de forma brusca e do seu interior surgiu um indivíduo. Ali estava a prova que faltava aos defensores da teoria de que o Homem de Neandertal sobrevivera até aos nossos dias. Era uma criatura maciça, com cerca de 1,70 m de altura e a largura dum camião TIR. O pescoço confundia-se com os ombros. O semblante era de tal modo duro e agressivo que os nossos investigadores chegaram a questionar se teria ou não uma máscara colocada. Não tinha. Com uma voz gutural proferiu:
- Porque é que as gaivotas andam atrás dos pescadores?
Fez-se luz na mente de Pedrito. Afinal a primeira frase do enigma também estava resolvida, era uma senha de entrada. Orgulhoso em relação à sua perspicácia proferiu:
- Porque pensam que vão comer tainhas.
- E o que acontece às vezes? – Retorquiu o Homem das Cavernas.
- Por vezes os pescadores andam à caça do berbigão. – Respondeu Pedrito confiante.
- Ok. O consumo mínimo é uma garrafa de vinho. – Disse o porteiro estendendo a mão.
Pedrito tinha, como indicado pelo músico mistério dos i-glamour, uma garrafa de vinho tinto. Deu-a ao porteiro e entrou esquecendo-se de esperar por Piaçá. Este tinha trazido uma garrafa de groselha, que era a coisa mais parecida com vinho que tinha lá em casa. Foi-lhe vedada a entrada. Insistiu. Ficou a conhecer as pedras da calçada do passeio do outro lado da rua. E ali permaneceu sentado, aguardando novidades do interior do estabelecimento.
A Tasca estava irreconhecível. O balcão, as mesas e os bancos tinham desaparecido. No local onde normalmente estava o balcão, encontrava-se um cadeirão de madeira com adornos manuelinos esculpidos, bem por debaixo das prateleiras com garrafas de bebidas variadas e com o cartaz do Zé-povinho a alertar o facto do estabelecimento não permitir fiados.
A sala teria cerca de dezena e meia de pessoas, todos mascarados, aparentemente todos homens. Murmuravam entre si em grupos de dois ou três. Ouvia-se música ambiente de estilo New Age com sons da natureza. A iluminação estava a cargo de velas colocadas no chão junto às paredes e de tochas seguradas por 4 indivíduos a cada canto da sala. As máscaras destes quatro eram idênticas entre si, todas com a figura do Sapo Cocas.
Subitamente ouviu-se por três vezes o rufar dum tambor. Fez-se silêncio e em seguida ouviu-se uma voz proferir:
- Sua Excelência o Grão-mestre dos Glamourosos Cavaleiros da Tasca.
Entrou um indivíduo na sala, provocando vénias cerimoniais dos presentes. Trazia a mesma vestimenta dos outros. No entanto havia algo que o distinguia. A máscara era bela, doirada, provavelmente com a figura do deus Neptuno e trazia um bastão em ferro com a esfera armilar no topo, a luzir prateada. Sentou-se no cadeirão, todos os restantes sentaram-se no chão formando um círculo. Pedrito estava de frente para o Grão-mestre.
- Que a Ilha Perdida se reveja na Ilha Achada. – Disse o líder do grupo, recebendo em troca em uníssono um “Que assim seja”.
Pedrito sentiu um calafrio e pensou: “Que estranha frase… e esta voz… é-me familiar. Será que é de quem eu estou a pensar?”

segunda-feira, novembro 21, 2005

O Código 14 – Capítulo V

Quem é do Barreiro, ou arredores, tem no seu subconsciente as imagens das enormes chaminés de fábrica, brancas às riscas encarnadas (ou vice-versa). Com o passar dos anos as fábricas foram fechando. As chaminés foram-se tornando simples recordações dum passado glorioso, quais rainhas depostas da Indústria portuguesa.
Mr. Stylish decidiu remodelar uma delas. Uma com vista ampla sobre Lisboa e o Tejo. Criou três pisos no seu topo, abrindo vastas janelas para o rio. É aí que habita e trabalha.
Pedrito Bodega e Nuno Piaçá fizeram-se anunciar por intermédio dum comunicador situado no sopé da chaminé, junto à porta de entrada. Foram subindo por um elevador interior. Ao chegarem ao chamado piso 1, tinham uma senhora de idade, roliça e sorridente que os recebeu.
- Entrem por favor. Eu sou a Lurdes, sou assistente de Mr. Stylish. Ele está a acabar de receber uma cliente. Queiram aguardar na sala.
Mr. Stylish era cartomante, para além de baterista dos I-Glamour. Estava a terminar a consulta a uma jovem desesperada. Pelos vistos a consulta tinha corrido muito bem, uma vez que a rapariga saiu com um sorriso nos lábios do interior do seu gabinete.
- Por aqui por favor – Indicou a Dona Lurdes aos dois pesquisadores.
O gabinete de Stylish era uma bela sala. Situada na parte norte do piso 1, tinha um envidraçado a toda a altura com uma vista fantástica sobre Lisboa. O dia claro permitia ver o rio, os barcos, a Sé, o Castelo, as duas pontes, a serra de Sintra. Stylish estava sentado como normalmente o fazia, no centro da sala, num banco rotativo, de costas para os nossos investigadores, junto a uma mesa redonda, onde também se encontravam duas cadeiras brancas de plástico.
- Bem-vindos. Façam o favor de se sentarem. Então Sr. Bodega em que posso ser útil?
Bodega e Piaçá sentaram-se nas duas cadeiras.
- Mas… - Disse baixinho Piaçá estranhando a forma como Stylish os recebia – ele está de cost…
- Chiu… – Interrompeu Bodega com uma cotovelada à mistura, não se mostrando surpreendido perante o comportamento do músico/cartomante – Mr. Stylish nós desejávamos obter informações sobre a ligação dos I-Glamour aos Glamourosos Cavaleiros do Charme.
- Informações?! – Disse Mr. Stylish. – Ah ah ah. Não há ligação nenhuma. Onde foram tirar essa ideia?
- Repare neste manuscrito. – Disse Pedrito.
Pedrito Bodega ordenou a Piaçá que entregasse a Stylish a folha. Este sem saber bem o que fazer esticou o braço de forma indecisa e lenta. Stylish num gesto rápido arranca-lhe a folha da mão e coloca-a sobre a mesa mesmo à sua frente, ou por outra, atrás de si.
- Ora bem deixem-me ver…. – Disse Stylish dando a entender que lia a folha. – Não posso dizer nada sobre isto.
- Não pode?! Vá lá. Há ligação entre os I-Glamour e os Cavaleiros ou não?
- Eu não disse nada! Eu não disse nada!
- Isso quer dizer que há! E que tipo de ligação? Diga-me.
- Não sei… não sei. Já ouviu falar das reuniões secretas na tasca do Azedo às 5ª Feiras à noite? Eu cá não sei de nada disso, mas se aparecer lá com uma máscara e uma túnica preta e levar uma garrafa de vinho é capaz de entrar. Mas é como lhe digo… eu não sei nada. Já agora meu rapaz – Diz Stylish virando a nuca na direcção de Piaçá – Aposto que não tens namorada, queres descobrir quando vais arranjar uma?
- Pode ser? – Perguntou o entusiasmado rapaz a Pedrito Bodega, como se este fosse seu pai.
- Pode. Agora só 5º Feira é que entramos em acção…

sexta-feira, novembro 18, 2005

O Código 14 – Capítulo IV

- Ora diz-me lá o que já entendeste desses rabiscos. – Pediu Pedrito Bodega, após olhar durante largos minutos para a folha, sem nada entender.
- Então é assim: A primeira parte, a das gaivotas, como o senhor já calcula, não sei o que significa. A segunda parte é claramente uma alusão aos Glamourosos Cavaleiros da Tasca: "GTV Allez Allez, GTV Allez Allez!!".
Estas últimas palavras foram proferidas numa espécie de cântico. Piaçá levantou-se do chão, iniciando uns pulos ridículos, que tornavam o seu cabelo ainda mais caricato. Com os braços complementava a coreografia, em movimentos dos antebraços para a frente e para trás, ao estilo polícia sinaleiro.
- Ok, ok, pára lá com isso. – Interrompeu Pedrito – E como fizeste essa ligação? Só por causa das iniciais?
- Não está a ver a lógica?! As iniciais e uma palavra francesa repetida em seguida?!! - Perguntou Piaçá com ar de entendido na matéria. – As iniciais levam-nos para essa sociedade secreta que como se sabe é erudita. Todos os eruditos são intelectuais, os intelectuais falam francês…
- Ehhhhhh não me digas, tens toda a razão!!! – Desabafou Pedrito ao mesmo tempo que batia com a palma da mão na testa, ao jeito do anúncio da Santa Casa.
- Digo sim. E há mais: O jogo do galo resolvido mostra uma clara alusão esotérica antiga. Onde a resolução dum enigma aparece como símbolo de sabedoria e de intervenção critica perante a Sociedade. Para além de indicar que eram dois os consultores da obra e que um deles jogava mal como o caraças! A frase que aparece em seguida é que me tem dado cabo do canastro. “Na tasca do Azedo tens um cu que mete medo”. Tenho vindo aqui há semanas e ainda não tive medo de nenhum traseiro… enfim. A última coisa, os números, pois… também não faço a mínima ideia. Parece-me um código.
Nisto Pedrito levanta-se e cerra o punho num gesto de vitória exclamando “é isso catano”.
- É isso o quê?
- Então mas tu és jovem e não conheces essa frase? – Perguntou Pedrito.
- A do traseiro que amedronta? Eu não!
- É parte duma letra duma banda de música famosíssima por estas zonas…
- A Banda Filarmónica do Gaio-Rosário?
- Não rapaz!! Os I-Glamour. E repara no nome… Glamour. Isto não te recorda nada?
- Pladur? O meu papá trabalha nisso, ele…
- Não meu atadinho. – Interrompeu Pedrito já irritado. – Faz lembrar Glamourosos. Glamourosos Cavaleiros da Tasca. Aposto que se falarmos com a rapaziada da banda vamos chegar a mais conclusões.
Nisto partiram dali. Nuno Piaçá tinha vindo de autocarro, pelo que Pedrito Bodega lhe deu boleia na sua “pasteleira”. A velha bicicleta quase não aguentava com o peso dos dois investigadores. O que valia era a pouca duração da viagem. A casa de Mr. Stylish, reconhecidamente o mais misterioso dos I-Glamour, era já ali ao virar da esquina.

quarta-feira, novembro 16, 2005

O Código 14 – Capítulo III

Pedrito não podia estar menos preparado para ouvir Piaçá. A fé em se envolver numa trama esotérica tinha ruído face à primeira impressão deixada pelo rapaz. Mesmo assim, encostou-se na cadeira e proferiu:
- Sou todo ouvidos. Diz lá o que tens a dizer.
O rapaz esboçou um sorriso no limiar do ridículo, sentou-se no chão com as pernas em posição de Buda e começou a falar:
- Sr. Pedrito, certo dia tinha eu acabado de entrar na Torre do Lombo, em busca duns bifes de porco para panar, quando o empregado, após a pesagem dos ditos, os envolve numa folha que desde logo me pareceu estranha. Não era a normal embalagem de papel. Era um pergaminho antiquíssimo!!!
- O que?!! – Questionou Pedrito incrédulo – Nessa não acredito.
- Eu também não acreditei. Mas depois perguntei ao Zorro, que é o nome do empregado, que raio de papel era aquele. Ele disse-me que tinham acabado as embalagens de papel que normalmente encomendam na tipografia Troca-tintas, e que por conseguinte estavam a utilizar livros do arquivo, porque ninguém lhes ligava peva!
- Sacrilégio!! – Gritou Pedrito Bodega já quase morto pelo choque.
- Eu então pedi-lhe o que restava do livro e dei-lhe em troca umas revistas que trago comigo, coisas relacionadas com estudos anatómicos e assim. Reparei então aliviado que a folha que cobria os meus bifes era a primeira arrancada. Tinha em minha posse o livro por inteiro! E mais… o livro era antiquíssimo, datado do século XIV, altura da descoberta da Ilha do Rato.
- Graças aos Deuses da Cultura!!! – Desabafou Pedrito Bodega agora mais calmo.
- Mas foi quando cheguei a casa e comecei a desfolhar o livro que reparei no tesouro que me caiu em mãos. O livro foi escrito por Raimundo Bodega, que descreve a Descoberta da Ilha do Rato e acrescenta factos até agora desconhecidos do público em geral.
- Raimundo Bodega é um tetravô meu. Era conhecido como amolador de pedra-pomes e como pescador, não fazia ideia que tinha sido cronista!!! – Disse Pedrito Bodega já totalmente rendido à trama. – Mas que factos são esses?
- Ele diz que a Ilha do Rato já era conhecida antes de Caxias lá ter chegado. E diz também que a ilha guarda um grande segredo mas que não sabe qual é. Para além disso o livro mostra anotações à mão que indicam ter sido consultado posteriormente e eu até aposto que foi há pouco tempo.
- Porque dizes isso?
- Repare nas anotações que são todas na última página do livro, todas com a mesma letra, cujo estilo revela a actualidade das mesmas.
Abrindo o canhenho na última página lia-se:


- Sr. Bodega, parte destas anotações está decifrada. Para as restantes conto com a sua colaboração…

segunda-feira, novembro 14, 2005

O Código 14 – Capítulo II

Apressadamente Pedrito estacionou a sua “pasteleira”, prendendo-a a um sinal de trânsito com um cadeado, junto à Tasca do Azedo. Não era a primeira vez que entrava naquele mítico estabelecimento. Era homem vivido, conhecia a região como a palma de suas mãos. A amizade que mantinha com inúmeras personalidades da terra tinha ganho corpo ali. Talvez por isso achava estranho não se recordar de Nuno Jerico. Quem seria esta personagem que afirmava frequentar a Tasca do Azedo?
Ao entrar na Tasca, sentiu algo no ar que o fez viajar no tempo. Era uma miscelânea de aroma a bafo de álcool, cheiro a fritos e fedor a transpiração. Olhou em redor e não viu ninguém que correspondesse à descrição do anúncio. Sentiu fome. Dirigiu-se ao balcão e disse para o empregado:
- Olá Manel tudo bem!
- Olá Sr. Bodega como está? Já não aqui vinha há muito tempo!
- É verdade. Sabes como é. Olha… quero duas coisas. Para comer quero uns pipis fritos com arroz de tomate acompanhados por vinho tinto da casa. E depois quero uma informação sobre um tal de Nuno Jerico.
- Nuno Jerico?! – Mostrou-se surpreendido.
- Uh… é um jovem que diz que o tratam por Piaçá – lembrou-se Pedrito de acrescentar.
- Ahh… o cromo da juba!!! É pá o tipo deve estar para ai a chegar. Ele vem sempre cá almoçar.
- Ok. Mas porque é que eu não me lembro dele sendo ele um frequentador assíduo?
- Ele começou a vir para cá apenas há alguns meses. Costuma sentar-se numa cadeira ali ao canto. Farta-se de observar as pessoas e de tirar notas para um caderninho. Olhe… até houve um dia que apanhou o Sr. Azedo mais mal disposto e levou um enxerto de porrada.
Ainda mais intrigado, Pedrito sentou-se e aguardou. Entretanto chegou o petisco e começou a comer. Quando já ia a meio do repasto, absorvido por pensamentos é surpreendido por um estrondo que vinha da zona da porta de entrada. Virou-se e contemplou o que se passava. Um rapaz, que não teria mais de 20 anos, de óculos, com o cabelo mais volumosos e grosso que alguma vez tinha visto, estava estatelado no chão. Em redor do corpo inerte, espalhados pela queda, estavam papeis soltos, livros, disquetes, canetas, marcadores, uma bússola, um jornal, duas revistas Gina, dois bonecos de plástico (o Homem Aranha e o Incrível Hulk) e uma pasta de cabedal. De repente o jovem levantou-se atrapalhado e começou a apanhar as coisas colocando-as dentro da pasta e proferindo algumas palavras do género “ai só a mim”, “eu tenho um azar do caraças…chiça”. Após concluir a operação dirigiu-se a Pedrito e identificou-se:
- Olá Sr. Pedrito Bodega, eu sou o Nuno Piaçá.
Pedrito sentiu um calafrio em forma de desilusão. Tinha perante ele o maior cromo que alguma vez tinha visto. A história do enigma seria certamente um engano. Aquele rapaz magro, de sobretudo até aos pés, com um cabelo que contrariava a lei da gravidade, com quase tantas borbulhas na cara como chaparros há no Alentejo, certamente não teria nada de estrondoso para lhe revelar. Tentando disfarçar a desilusão disse:
- Olá Nuno. Então diz-me o que é aquele enigma? Que mistérios se escondem por detrás de tão enigmática frase?
- Ai Sr. Pedrito – Disse Piaçá sem conseguir esconder o entusiasmo. – Esta frase guia-nos ao Graal e a outros mistérios ainda mais profundos. Prepare-se para o que eu lhe vou dizer.

quinta-feira, novembro 10, 2005

O Código 14 – Capítulo I

Pedrito Bodega é um dos grandes intelectuais de toda a costa sul do Mar da Palha. Reformado da antiga Setnave, passava agora o seu tempo a deambular por entre estudos diversos, absorvendo cultura como as esponjas absorvem a humidade. Dedicava-se à escrita biográfica, à literatura erótica, ao pensamento erudito de filósofos esquecidos em prateleiras poeirentas de bibliotecas, ao desbravar de revistas e jornais em busca de mensagens ocultas, enfim… demandava o Graal e a verdade sobre os Glamourosos Cavaleiros da Tasca, também conhecidos por Tasqueiros.
Decorria a manhã duma bela terça-feira primaveril. Andorinhas inquietas construíam os seus ninhos nos beirais dos prédios. Pedrito bebia a sua xícara de chá preto indiano acompanhada duma carcaça com torresmos e banana, no Snack-bar do Quim Bagaços. Ao folhear o “Noticias da Vinha das Pedras”, procurando a solução para o Su Doku da página 3 (aparentemente de solução impossível), Pedrito Bodega deparou com um estranho enigma. Nunca tinha visto nada assim. O que inicialmente parecia um anúncio, revelou tratar-se duma estranha mensagem codificada, que por incrível que pudesse parecer, lhe era aparentemente dirigida.

PROCURA-SE
Sr. Bodega leia isto e decifre por favor, está relacionado com a Descoberta:

AS GAIVOTAS QUANDO ANDAM ATRÁS DOS PESCADORES É PORQUE PENSAM QUE VÃO COMER TAINHAS. MAS POR VEZES OS PESCADORES ANDAM À CAÇA DO BERBIGÃO.
(Infelizmente não lhe posso revelar quem sou por razões de segurança pessoal e sua também. Mas caso não me consiga identificar pela charada, queira dirigir-se à tasca do Azedo situada no Bairro das Palmeiras porque costumo lá estar. Sou aquele jovem de óculos de massa pretos com cabelo volumoso e despenteado que todos tratam por Nuno Piaçá, embora o meu verdadeiro sobrenome seja Jerico.)


Pedrito ficou atónico. “Mas que raio será isto?! Santa Intelectualidade me acuda!”, pensou para si enquanto acariciava a farta barba acinzentada. Aquela charada era completamente diferente de todas as outras com que se tinha deparado até então. Era confusa, um pouco absurda até, o que a tornava um aliciante desafio. Juntar Tainhas, Berbigão e Pescadores na mesma frase era sem dúvida um acto de uma profundidade esotérica gritante. A mensagem estava sem dúvida repleta de mistério.
Após horas de análise, de consulta de documentos antigos, de importantes telefonemas a amigos académicos, Pedrito tomou uma decisão: Ir até à Tasca do Azedo e conversar com o tal Nuno Jerico.

terça-feira, novembro 08, 2005

Star Wars of Charm – Episódio VI

Há pouco… pouquíssimo tempo até, numa galáxia aqui bem perto….


Episódio VI – O Regresso dos Caminhantes
A fuga de Style Solo e Sparks Moonwalker para
Disco foi detectada pelas forças Imperiais. Duque
Vader e a própria Imperatriz comandam a Frota
Imperial que se dirige agora para o pequeno planeta





O planeta Disco não era um planeta como os outros. Situado num sistema longínquo, era visto como antro de diversão popular, sem requinte, desprezado pelos intelectuais do Império. Ali havia Carnaval todos os dias. Embora de forma inconsciente, o Charme era fortíssimo no planeta. Talvez por essa razão tenha sido o local escolhido para refúgio do que restava da grande Força de Elite Inter-planetária: Os Caminhantes do Estilo.
Style tinha ouvido dizer que um antigo Mestre Caminhante seu conhecido, Yoda Seducer, deambulava por SayFreak City, capital do Disco. Era sua intenção contar com a ajuda de Yoda para treinar o jovem Moonwalker, pois não se sentia seguro como instrutor. De facto tinham decorrido demasiados invernos desde a sua última missão como Caminhante. A implantação do Império enferrujara-lhe o Charme.
Juntamente com Sparks, Style dirigiu-se a um bar onde a presença de Yoda era provável. O tiro saiu certeiro. Agarrado a uma caneca de café com leite, trajando a velha vestimenta dos Caminhantes, com a túnica prateada e sandálias com meia branca, lá estava Mestre Seducer com o ar de profunda tranquilidade que lhe era característico.
- Olá Seducer – Abordou-o Style Solo – Como vai isso?
- Olá Style… então tudo bem? – Respondeu Seducer com ar feliz e surpreso - E este não me digas que é quem eu penso?
- É o Moonwalker…mas … mas como soubeste? – Perguntou Style perplexo.
- Sabes que o Charme se revela de inúmeras formas. E claro… não se fala noutra coisa na televisão, nos jornais, na rádio. Aliás parece que vem aí uma frota da Imperatriz para destruir o Disco.
- Ah sim!? E como consegues ficar tão calmo?! – Perguntou um Style aflitíssimo. – Tens que me ajudar, tens que me ajudar a treinar o Moonwalker, ele tem que aprender os movimentos rapidamente… temos que lhe incutir o Charme.
- Calma Solo. – Respondeu Seducer com uma serenidade quase irritante – Já não é a primeira vez que tentam acabar com o Disco. Quanto a ajudar-te… temos um problema. É que a minha especialidade não é o moonwalking. Eu sempre fui perito na dança dos “Cabeçudos da Moita”.
- Está bem. E eu também não sou um expert em moonwalking. Eu sou mais um…
Nisto Style é interrompido. Da boca de Yoda surgem sons a lembrar o troar de tambores. O seu corpo inicia então movimentos estranhos, onde os pés saltitam de forma tresmalhada e os braços se encontram presos ao corpo, simulando “Gigantones”. As pessoas que se encontravam no bar começaram então a bater palmas ao ritmo do “pum pum pum” que jorrava da garganta de Yoda.
Nisto irrompem pelo Bar nada mais nada menos que a Imperatriz, o Duque, Ubi e Chewbacca amarrados por cordéis e uma hoste de Trombones armados com antipatia até aos dentes. Faz-se um silêncio sepulcral. Por instantes o lado luzente do Charme é consumido pelo poder negro da Imperatriz e do sinistro Duque Vader.
- Come-se alguma coisa nesta espelunca? – Questionou de forma seca a Imperatriz, acrescentando de seguida – Sentem-se connosco Caminhantes, vamos conversar.
De certa forma o ambiente desanuviou. Mas o que quereria a Matrona? Essa questão perturbava os nossos heróis. A dúvida desfez-se rapidamente.
- Jovem Moonwalking, porque não vens trabalhar comigo hum? Sabes… se ficares com esses tipos não vais passar da cepa torta, não passam duma cambada de malucos. O lado negro da força já seduziu um Moonwalker – Referiu olhando sobranceiramente para Vader, que permanecia quieto e cabisbaixo – Espero que te seduza a ti também.
O jovem Moonwalker parecia ceder. Olhou para o seu “parente” que permanecia cabisbaixo e sentiu respeito. Um estranho respeito. Ele também poderia vir a usar um elmo como aqueles, ser tratado por Duque, Conde ou até quem sabe Príncipe.
Tudo parecia perdido. Mas foi então que aconteceu um milagre. A TV estava ligada num canal de música que passava telediscos antigos. Começou a dar o “Star Move Criminal” do grande Guru do Charme Michael Jet Sun. Para além de teledisco, era um ancestral vídeo de ensinamentos utilizado pelos Mestres Caminhantes. Sparks olhou e sentiu-se impelido por um estranho chamamento. Nisto levantou-se, começou a cantarolar a música e a mover-se como se nas solas dos seus ténis estivessem rolamentos. Era o Moonwalking!!!! Os restantes Caminhantes ficaram sem reacção, boquiabertos. A Imperatriz começa a rir à gargalhada entrando por isso em pânico. Duque Vader levanta-se rapidamente e tenta deter Sparks para evitar a catástrofe que se adivinhava. Em vês de o fazer parar, inadvertidamente inicia uma coreografia com ele, mostrando perceber muito bem da poda. A Imperatriz e os Trombones desfazem-se em fumo, num fantástico efeito especial de filme de baixo orçamento. A máscara do Duque salta revelando sem surpresa para Solo e companhia de quem se tratava. Era Steve Moonwalker, um antigo companheiro Caminhante.
O lado negro do Charme tinha sido destruído. A Paz e a Loucura Saudável estavam de regresso à Galáxia. Os Caminhantes do Estilo também.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Star Wars of Charm – Episódio V

Há pouco… pouquíssimo tempo até, numa galáxia aqui bem perto….


Episódio V – O Império Contra-Ataca
A Imperatriz Matrona descobre os intentos
dos Rebeldes. Num acesso de fúria lança as suas
naves contra Glamour. As forças Rebeldes tentam
reorganizar-se agora com o apoio de Ubi Wan Talk



A situação poderia estar melhor. Centenas de naves imperiais em órbita do planeta Glamour. Os rebeldes ao verem a triste figura do seu suposto “Salvador”, Moonwalker Sparks, entraram em estado choque e refugiaram-se nas montanhas.
Solo, Chewbacca, Ubi Wan e Moonwalker ficaram…aguardando a chegada do Duque Vader, Trombas Mor do Império.
O Duque era uma figura sinistra. Metade humano, metade aquecedor eléctrico. Vestido com um uniforme metálico, tipo armadura medieval, de cor bege, elmo da mesma cor, máscara em gradeamento que aparentemente escondia uma ventoinha, uma capa negra e sapatos de vela. Dizia-se que era o brinquedo favorito da Imperatriz. Viviam uma relação nupcial. Sempre que ela precisava dum aconchego mais amornado era só carregar no botão.
O rendez-vous negocial, entre o Duque e o que restava dos rebeldes iria ter lugar num local emblemático, o antigo templo dos Caminhantes do Estilo. Vader fazia-se acompanhar pela sua guarda pessoal, os Trombones, todos vestidos de igual com uniforme azul-bebé, capacete de obra branco e faces absolutamente amorfas. Era um sítio familiar para o Duque, que transpôs o portão principal e se dirigiu ao local pré-combinado. Ao fim de 200 metros chegou a um pequeno barracão. Abriu a porta e lá estavam velhos conhecidos seus e uma cara nova. Sem perder tempo e de forma seca proferiu:
- Então que têm a propor? Devo dizer-lhes que vos resta 15 minutos até que este planeta seja dizimado.
- Eu também tenho saudades tuas – Ironizou Ubi Wan, que acrescentou em seguida – temos aqui o último dos Moonwalkers. Como deves saber, segundo a profecia, ele tem o poder de destruir o lado negro do Charme. O que eu peço é que tu e a tua patroa acabem com esta palhaçada e que libertem a Galáxia, senão meto o Sparks a fazer o moonwalking.
O bluff não resultou.
- AH AH AH AH AH AH AH AH – Vader libertou sinistras gargalhadas e disse ainda – O lado negro do Charme é indestrutível velho Mestre Caminhante. A concentração, a sisudez, a antipatia, a capacidade de conversar durante horas sem contar uma piada e sem achar graça a nada … isso são coisas eternas… AH AH AH AH AH AH AH AH Ah.
- Mas oh Vader pá… - Referiu Style Solo – Isso não são gargalhadas? Não estarás a achar piada?
Por momentos Vader sentiu-se confuso. Ubi Wan aproveitou o momento e iniciou o moonwalking acompanhado de Chewbacca. O Duque e os trombones tentam resistir ao ataque, contra-atacando com caretas de reprovação. O Duque era poderoso, grande era o lado negro do Charme em si.
Ubi e Chewbacca ficaram reféns, presos num limbo de intelectualidade ferida, onde o seu sorriso estava cativo, onde apenas fórmulas matemáticas e livros chatos sobre decoração lhes vinham à ideia. Foram levados para a Nave Mãe.
Style Solo conseguiu fugir com Sparks apanhando o último comboio para o planeta Disco, local onde se supõe estarem refugiados os últimos Caminhantes do Estilo sobreviventes da Guerra dos Cones. Será o local ideal para ele, um antigo Caminhante, ensinar ao jovem Sparks os ensinamentos do Charme e libertar o Moonwalker que há nele. Assim se espera.