sexta-feira, dezembro 23, 2005

É Natal !!! O Amigo Secreto

Já está a tornar-se uma tradição. Eu e um grupo de amigos, juntamo-nos em vésperas de Natal para trocar presentes simbólicos entre nós. Após um sorteio prévio, ficamos a saber a quem deveremos fornecer a prenda, informação que deverá ser mantida secreta até ao jantar de Natal organizado, onde, em apoteose, é revelado o “Amigo Secreto”de cada um.
Somam-se apostas, são definidas estratégias, até já existiram alianças impensáveis, tudo com a intenção de se saber previamente quem fica com quem.
Este ano calhou-me o Crazy Charm. Levou com a prenda com que tem sonhado nos últimos 5 anos: uma boneca insuflável com abertura bocal alargada. Eu levei com a excentricidade do Mr. Stylish que me ofereceu um Horóscopo Sexual, onde fiquei a saber que os nativos do meu signo são danados para a brincadeira, especialmente quando Vénus está alinhado com a Constelação da Jeropiga e desde que as luas de Saturno continuem a circular sem chocarem umas com as outras.
Este ano correu tudo bem. No ano passado não foi assim. Miss Susy, namorada de Stylish, e a minha Anuska, combinaram entre elas uma marosca. Veio a acontecer que nos papelinhos do sorteio haviam apenas dois nomes: os delas. Apenas elas receberam presentes. O caldo ficou entornado!!! Após morosas negociações (e porque era Natal) os presentes foram divididos por todos. Eu fiquei com um livro de fazer chorar as pedras da calçada dum homónimo do Sparks, Stylish ficou com um ursito de peluche, Crazy Charm com uma sexy lingerie preta.
Jurei ficar zangado com a Anusca depois daquela cena pelo menos por uma semana!! Mas que raios… Vénus nessa noite estava alinhado com a Constelação da Jeropiga…
Um Santo Natal para todos e se virem o Pai Natal digam-lhe que ainda estou à espera daquele boneco do Action Man que lhe pedi vai para 22 anos! (Não sei se me fiz entender a alguém …)

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Conto de Natal – O Sentido da Música

A noite estava gélida. A neblina, provocada pela proximidade do Rio, e o silêncio tornavam o ambiente quase sinistro. Os relógios estavam sintonizados. Faltavam apenas 3 minutos para passarmos à acção.
O segurança de serviço, sobrinho do primo do Seducer, tinha sido pago para não surgir na Ala Este do Edifício. O nosso vigia informara-nos pelo walkie-talkie, comprado na loja dos chineses, que o rapazito já tinha gasto o nosso suborno, estando agora de ressaca, dormindo dentro dum carrinho de compras.
Hora de entrar em acção! A invasão do Edifício foi rápida e limpa. Sexy Sparks era perito em arrombamentos sem deixar rasto visível. Com as luzes apagadas era mais complicado encontrar o balcão de informações. Stylish e o seu sentido de orientação tipo rato bêbado dentro dum labirinto, levou-nos para o sitio oposto, para junto das casas de banho. A tempo veio a correcção de Charm, que munido dum faro impar e reparando na luz de presença que iluminava tenuemente o balcão, guiou-nos até ao local.
Chegados ao balcão de informações, foi tempo de realizar a operação: roubar todos os cd´s com canções de Natal que aí se encontravam e que repetidamente eram postos a tocar durante todo o dia pelos funcionários, penetrando as músicas sem piedade, nos ouvidos dos clientes.
Missão cumprida!! Amanhã quando for às compras estarei a salvo daquela música maquiavélica que apela ao consumismo exacerbado.
Para todos um Santo Natal.

(Nota: Exceptuando o sentido de orientação de Mr. Stylish este texto é pura ficção)

terça-feira, dezembro 20, 2005

Glamour Gold II

As Crónicas do Zé Caxias - Acalmia depois da Tempestade

Findou-se o clima de guerrilha urbana entre mim e “Facadas”. Já não era sem tempo. Chegámos a acordo em relação ao facto de não nos agredirmos mais verbalmente, nem de qualquer outra forma. Anteontem até pegámos em nós e para selarmos este acordo fomos a uma casita de alterne que há lá para os lados das Arroteias. Foi como nos velhos tempos. Um show de strip à antiga portuguesa. A música, a passerelle, o tubo e a Sensual Berta com os seus 58 anitos de puro charme e sedução. Foi qualquer coisa de extraordinário. Paguei uma “individual” ao “Facadas”. Eu disse-lhe: “companheiro esquece a brasileira que tem pouca experiência, escolhe a Berta”, mas ele não foi nisso. Quis a miúda com 20 anitos, peitos firmes, pernas macias, rabo sem efeitos da gravidade. Claro que a Berta ao ver a fraca performance da miúda, veio, qual elefante ferido, numa louca correria em auxílio do “Facadas” e em defesa da “casa” que lhe dá trabalho há já 35 anos. Com dois bruscos movimentos da Berta, já a brasuca estava sentada num sofá a 15 metros de distância e o “Facadas” preso entre dois poderosos troncos de arvore a que alguém chama de pernas da Berta. Em poucos segundos os seios da Berta estavam ao léu, enormes, gigantescos até. “Facadas” como que aterrorizado foi esbofeteado vezes sem conta por aqueles dois descomunais balões de ar meio vazios, que transformaram os seus óculos de farmácia em estilhaços projectados a largas dezenas de metros. A “casa” pagou-lhe os óculos. Eu paguei-lhe a pomada para as nódoas negras.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

A Tertúlia

Fui acusado pelo comentador/critico de Blog, Sr. Loureiro Lopes, de ser um intelectual de 5ª categoria. Para repor a verdade, contrariando tais blasfémicas afirmações decidi formar uma tertúlia. A garagem onde o Stylish guarda a BMX e os patins de rolamentos serviu na perfeição para o encontro.
Um mesa redonda. Quatro vultos da mais rochosa intelectualidade. Uma garrafa de Sumol de laranja. Quatro canecas de barro. Um saco com dois quilos de tremoços.
Estava criado o ambiente para o inicio duma amena cavaqueira. Jornais cuidadosamente espalhados (o Record, A Bola, o Jornal do Lidl), um baralho de cartas e um prato para pôr as cascas de tremoço ornamentavam a mesa.
O calendário da Miss Outubro de 1991 pregado junto ao poster da selecção portuguesa do México 86 servia de inspiração para o inicio da conversa cujo tema a ser discutido seriam as Presidenciais 2006.

Talk Talk – Pois é meus amigos… isto deve ir dar Cavaco…
Mr. Stylish – Sim.
Crazy Charm – Para mim é igual ao litro.
Rebel Seducer – Porque dizes isso?
Crazy Charm – E porque é que haveria de não dizer isso?
Rebel Seducer – Quando é que joga o Sporting?
Mr. Stylish – É hoje… o Porto é que só joga amanhã.
Talk Talk - Mas que grande par!!!
Crazy Charm – Quem, o Porto e o Sporting?!
Talk Talk – Não…as mamas da Miss Outubro ali na parede.

Num curtíssimo espaço de tempo falou-se de política, hidráulica, desporto, matemática e anatomia. Agora venham-me dizer que os i-Glamour não são uns intelectuais de 1ª água, capazes de argumentar sobre todo e qualquer tipo de assunto!!!
Engula em seco Sr. Loureiro Lopes!!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Hoje o Stylish faz anos!!!

Falar do Stylish é falar na Amizade. Pura e incondicional. Um aniversário do Stylish festejado entre amigos é muito mais do que a comemoração do nascimento dum petiz que abraçou o charme punk rock mistério. É a comemoração do inicio de algo que durará uma vida.
Parece que foi ontem que nos juntámos naquele restaurante numa festa de pais-natal, mas já passaram 10 anos. Na altura houve quem afirmasse tratar-se do aniversário do Stylish, mas eu duvido, com tanto cromo de barrete vermelho na cabeça a dizer ho ho ho, era impossível ser uma festa dum punk rocker alternativo, que gostava de se vestir de preto e que andava com pregos e parafusos nos bolsos para o que desse e viesse.
Atrevo-me a dizer que o charme místico da banda nasceu naquele local, entre o vinho verde, o bacalhau assado, as azeitonas e as assoadelas em guardanapos de pano que alguém mais familiarizado com a etiqueta recordou que eram para colocar no colo.
Depois daquele jantar nunca mais fui o mesmo. Mr. Stylish passou a fazer parte da minha vida.
Posso também referir o seu segundo aniversário que passámos juntos. Dessa vez não houve pais-natal mas houve polícia, não houve bacalhau assado mas houve bifes de 3 contos, não houve dinheiro para mais nada e… também não houve livro de reclamações. Sei que ele ainda me culpa pelo estranho episódio.
Atrevo-me a dizer que apesar de tudo nada mudou naquele jantar. A amizade já tinha nascido e amadurecia forte.

Parabéns Amigo e obrigado por seres quem és.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Bandas Reunidas – Missão Cumprida!!!!

É a minha última participação (como administrador) neste Blog. Sinto um misto de felicidade e tristeza. Felicidade porque a reunião dos nossos rapazes correu tão bem que eles estão de volta, não sendo os meus serviços necessários a partir desta data. Tristeza porque estava a começar a gostar disto. Bem… mas é como diz esse grande poeta naquela grande canção: “Live is live, lala lalala”
Mas indo ao que interessa, o último episódio do “Bandas Reunidas”…
A rapaziada dos I-Glamour juntou-se no Armazém do Vinho Tinto, propriedade do Ti’Bezana, para a realização dum concerto que supostamente seria único.
Crazy Charm chegou com os seus Bonga-bongas (entretanto repatriados pelo Serviço de Estrangeiros, apesar dos esforços para casar os bongas com portuguesas e as bongas com portugueses). Mr. Stylish apareceu já com o seu inconfundível estilo de retaguarda. Rebel Seducer e Talk Talk chegaram juntos, estranhamente atrasados, ao que apurámos devido a problemas do foro intestinal do Talk motivados por excesso de bolacha baunilha consumida.
Juntaram-se fãs de todas as faixas etárias e de todos os quadrantes: eu na casa dos 50`s e do Barreiro, a mulher do Talk nos 20`s e da Moita, o Ti’Bezana com 77 anos e da Baixa da Banheira (conseguindo aguentar-se consciente durante 10 minutos do concerto) e uma tal de Marrrrluce de idade e morada incertas. Os Bonga-bongas não contam para esta estatística uma vez que se ficaram pela adega do Armazém a … digamos … familiarizarem-se com a cultura lusitana. Sexy Sparks, o manager da banda não pôde vir mas mandou uma mensagem lida em voz alta pelo Talk que dizia: “É pá… mossos…hum … é pá, fiche vocês estarem de volta, depois agente fala.”
Após 10 músicas tocadas, algum vinho consumido, duas interrupções do Talk para ir à casa-de-banho, uma tentativa de agressão do Seducer à Marrrrluce, findou-se o concerto.
No final a banda prestou juramento à Sandes de Coirato, depositada sobre a mesa de madeira, ao lado do pires com os caroços de azeitona, oficializando-se a reconciliação.
Os i-Glamour estão de volta!!!!!!!!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Bandas Reunidas – O Corridinho do Talk Talk

O casal Talk sempre me foi especial. Juntos formam uma dupla, por vezes tão alucinada como os próprios I-Glamour. Neste caso, Anuska é o oposto da Yoko do Lennon. Ver o marido de novo na Banda é para ela um grande desejo. Ela sabe o que o faz feliz. Daí eu ter recebido dela uma mensagem com a indicação do local onde eles se encontravam, contrariando a vontade do Talk que queria manter-se incógnito.
Cheguei à hora exacta. Após terem passado o dia no campo, algures na serra algarvia, na apanha da alfarroba e do figo, encontravam-se agora na Sociedade Recreativa Alcagoitas do Arade. Pertenciam ao rancho folclórico daquela colectividade, Anuska na voz e nos ferrinhos e Talk no cavaquinho. Foi giro ver um tipo tão grande com um instrumento tão pequeno (falo obviamente do cavaquinho), ainda com os tiques de charming punk rockeiro, visíveis na forma como mexia os ombros e nas caretas que fazia aplicando movimentos com as beiças. O Corridinho soava diferente, provocava um “frisson” especial. Os bailarinos misturavam a coreografia tradicional com algo novo. Aquele olhar ritmado de soslaio dos homens e o abanar da anca estilo 70´s das mulheres (já para não falar da batida duma música dos Bee Gees que se ouvia em fundo), demonstravam a “mãozinha” do Talk, revelando que o “bichinho” ainda o remoía.
No fim do show quando Talk se apercebeu que eu estava ali aproximou-se e disse-me:
- Não me tentes… não vou voltar. Decidi está decidido.
- Vá lá!! Só faltas tu… e os fãs o que irão dizer?
- Não vou. Podem fazer isso sem mim.
Aquela atitude requeria medidas drásticas. Tinha que atacar a “fera” onde sabia que ela era vulnerável. Tinha que lhe chegar ao coração…
- Talk pá, o que será dos I-Glamour sem o seu baixista hum? E depois ainda há outra coisa, uma surpresa que tinha preparada para ti…
- O quê?! O quê? – Aquele olhar esbugalhado fez-me perceber que o jogo mudava a meu favor.
- Descobri uma mercearia que vende as bolachas baunilha que tanto gostas … as avulso, aquelas mesmo que quando ainda eras um petiz, trincavas com leite frio, como se o amanhã não existisse. Mas só te digo onde é se fores ao concerto…
- Minha pipa de vinho manipuladora!!! Ok… ok… conta comigo.
O sonho vai realizar-se!! O charming punk rock vai voltar à margem sul do Mar da Palha.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Bandas Reunidas – Mr. Stylish, de baterista a marialva

- Cala-te vinho!!
Com este mote, Mr Stylish, ou como agora é conhecido, Chico Estilos, o Anjo da Mouraria, silenciou a audiência do Restaurante Repasto Saloio, dando inicio à sua actuação. Com uma cassete gravada com a voz do “Facadas” Canhoto e o Zé Pincel na guitarra portuguesa foi um verdadeiro “ver se te avias”, numa panóplia riquíssima de temas do Fado Marialva. De lenço vermelho ao pescoço, boina verde na cabeça e de frente para o público, Stylish (ou melhor, Chico) estava irreconhecível.
No fim do espectáculo veio sentar-se na minha mesa. Olhou-me nos olhos pela primeira vez. Foi estranho conversar com ele sem estar a mirar-lhe a nuca. Foi até bizarro vê-lo a beber uma água ardente de forma normal, como o mais comum dos mortais.
- Olá Licínio. Tenho lido o Blog. Já sei o que pretendes…
- E… aceitas a proposta de te juntares aos teus companheiros?
- Se o Talk aceitar, coisa que eu duvido, vamos a isso!
- Mas Estilos, achas que o Talk não vai aceitar?
- Não sei, vamos ver. Mas por agora podes tratar-me de novo por Stylish, já tinha saudades.
E com esta última frase deu-se uma estranha mas ao mesmo tempo feliz metamorfose. Chico Estilos, ou melhor, Mr. Stylish, virou-se na cadeira, retirou o lenço vermelho e bebeu o que restava da água ardente ao jeito dos velhos tempos, despejando-a no cachaço e gritando: “Chiça que até me queimou os pêlos do peito !!!”.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Bandas Reunidas – Rebel Seducer e a Feira de Carcavelos

A 2ª etapa desta tarefa, que tanto anseio tem provocado nos fãs dos i-Glamour, levou-me à Feira de Carcavelos. Procurar por Rebel Seducer não foi difícil. Bastava seguir o som da música do Nel Monteiro até à Discoteca Ambulante do Chico Maia.
A bancada de vendas era um recheado de música da mais alta qualidade. Chico tinha resistido às tecnologias e às pressões comerciais. Mesmo ao lado, noutra banca, a sua mulher vendia farturas, pipocas e calçado da melhor qualidade.
Chico tinha dado emprego a Seducer. O trabalho consistia em rebobinar as cassetes de música após estas serem ouvidas. Lá estava o nosso guitarra ritmo, com uma caneta bic a girar a uma velocidade impressionante a cassete dos Modern Talking, que iria ser posta a tocar logo a seguir.
Aproximei-me do nosso rapaz e cumprimentei-o:
- Rebel como vais?
- Olha o Licínio. Então por aqui?
- Sim. Vinha à tua procura. Agora sou eu o gestor do Blog dos I-Glamour…
- Eu sei…
- Pois… é pá e introduzi lá uma rubrica nova. O Bandas Reunidas. E agora ando a ver se junto os I-Glamour numa sala para um concerto. A ideia é juntar a malta, pô-los a falar e quem sabe… a tocar qualquer coisita para uma sala cheia de fãs.
- Ah ah ah ah ah. Estás louco!! Então o Crazy agora deu em Chefe Tribal e anda lá para as Áfricas…
- Mas eu já falei com ele. Ele disse que sim.
- Disse?! Então eu também alinho. Só há é um problema…
- Qual?
- As cordas da guitarra… vendia-as à Dona Maria que fez delas um estendal.
- Não há problema. – Disse eu – Vi ali uns tipos a vender arame. A gente trata já disso. Depois é só dares uma afinadela no instrumento.
E assim já temos metade do grupo. E é como diz o povo: “Só custa as duas primeiras metades”.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Bandas Reunidas – Em busca de Crazy Charm

Recebemos unidades de e-mails. Todos exigiam que tentássemos reunir de novo os I-Glamour. E é isso que eu ando a tentar fazer. Comecei por ir à procura do Crazy Charm. As informações que possuía indicavam que o gajo estava no norte do Congo. Para lá parti, graças ao dinheiro dos Fundos para o Movimento de Autodeterminação da Ilha do Rato, que como tesoureiro-mor, a mim estão confiados.
Já no terreno consegui arranjar um guia, um rapazolas de 14 anos, ex-tenente do Exército Congolês, de nome Tongo. Com ele fiquei a saber que o Crazy Charm tinha alterado o nome para Ni Pilonga e que agora era considerado Chefe da tribo dos Bonga-bongas.
Acompanhado por Tongo penetrei nas densas florestas nortenhas do Congo. Comecei a ouvir tambores e a sentir o cheiro de castanha assada, cada vez mais intensos. Cheguei a uma zona desflorestada recheada de cabanas de folhas e canas. Num trono com 2 metros de altura feito de pau, estava o Crazy Charm, ou aliás o Ni Pilonga. Completamente irreconhecível. Vestido com pele de leopardo, com a face coberta de pinturas de guerra, trincava umas castanhas assadas e bebia, ao que parece, água pé. Aos pés do trono estavam 3 matronas, cada uma com dois petizes mulatos ao colo, todos com um ar que me pareceu familiar. Eu e o Tongo fomos surpreendidos por uma armadilha que nos fez ficar de cabeça para baixo, presos a cabos pendurados a uma árvore. Dezenas (se não centenas) de lanças afiadas cercaram-nos. Vozes gritavam para nós numa língua que eu nunca tinha ouvido. O Tongo ia respondendo como podia, à medida que ia encaixando uns pontapés na cabeça.
De repente Crazy Charm gritou qualquer coisa naquela estranha forma de falar. Eles libertaram-nos e transportaram-nos em ombros por entre berros, demonstrando enorme alegria. Largaram-nos como sacos de batatas no chão, à beira do trono. Já recomposto, reconheço uma voz que me perguntou:
- Licínio que fazes aqui meu amigo?
- Eu vim cá para te tentar convencer a entrar no novo programa do Blog I-Glamour. É o Bandas Reunidas. Basicamente é para reunir bandas famosas e…
- Eu sei o que é. – Interrompeu-me. - Não sei Licínio… o que disseram os outros?
- És o primeiro que eu consulto…aceitas?
- Ok. Podes contar comigo. Mas escuta… só vou se levar os meus Bonga-bongas.
Como poderia dizer que não? Um já estava, faltavam agora os outros três.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Bandas Reunidas – Os Esquilo Esquizofrénico do Esquema Esquisito

É impossível não nos recordarmos desta banda, impulsionadora do rock regressivo da Baixa da Banheira. Se por acaso não se recordarem, contrariando a minha afirmação, não digam nada por forma a dar alguma credibilidade a este texto.
A banda separou-se vai para 15 anos. O som violento que impingiam nos instrumentos, provocava efeitos de alucinação e histeria nos fãs. Quem poderá esquecer o concerto da Vinha das Pedras, onde Peter, o vocalista, se lançou do palco para a plateia em busca do moch perfeito. Desde então ficou conhecido por “Gesso” Peter. A digressão foi retomada 232 sessões de fisioterapia depois.
Na manhã do último sábado desloquei-me ao refugio de Frankie Goes to Baixa da Banheira, baterista dos Esquilo Esquizofrénico do Esquema Esquisito. Ele seria o primeiro que eu tentaria convencer a reunir-se na mesma sala com os restantes elementos da banda. Frankie mora no antigo Bairro da Caixa, no Vale da Amoreira, num prédio de 4 andares bastante degradado. Com a avaria no elevador e com dois putos que, enquanto fumavam uns charros, me barravam a passagem pelas escadas, restou-me a alternativa de gritar pelo nome do Frankie. Mirando para cima por entre os lanços de escada gritei:
- Frankie… é o Licínio pá, o novo administrador do Blog I-Glamour. Ando a fazer um programa…
Nisto sou brutalmente interrompido pela queda duma torradeira, que caiu matreira na minha cachimónia. Levei 7 pontos. Enquanto fazia o curativo no Hospital do Barreiro, recebi um SMS do Frankie que dizia: “Reunir a banda? Nah… i´m out!! PS: Não fui eu que mandei a torradeira. A minha continua sobre o frigorifico, é que eu adoro torradas”.
Bem... com estes nada feito. Mas é como diz o povo: "Com o primeiro milho não enche o papo a galinha".

terça-feira, dezembro 06, 2005

Blog em autogestão

Com o fim dos i-glamour foi-me dada a honra de gerir este Blog até que, com a queda de visitantes que se adivinha, o Blog termine por si. Até lá vou honrar o que aqui foi feito. Como tal iniciarei um programa de música: O Bandas Reunidas.
O objectivo é simples e baseia-se na procura de grandes grupos musicais da nossa região que por qualquer motivo tenham desaparecido de cena. É verdade que quase todas tiveram um fim critico, terminando com pedras da calçada a voar em direcção ao palco nas Festas em Honra de São José Operário, ou em tentativas goradas de “moches”, ou ainda na distribuição dos membros da banda por distintos institutos prisionais do nosso país. No entanto iremos tentar juntar algumas bandas num concerto único.
Para que não desanimem por não terem o Talk Talk para ler, e de forma a dignificar este espaço, vou deixar-vos com uma poesia de minha autoria, intitulada “O Sumo das Palavras”, lá vai:


As quadras que escrevo
Têm sumo, são de relevo
Se forem bem espremidas
Matam sede como bebidas

Não tanto como a pomada
Que se bebe lá no Azedo
Que escorrega apressada
P´la goela, como um torpedo

Se depois de uma rodada
Tudo o que vês é a dobrar
Não metas culpa na pomada
É o teu estômago a fraquejar

Come pataniscas e chourição
Rissóis, torresmos, tremoços
E não te esqueças do belo pão
Tem cálcio, é bom prós ossos

segunda-feira, dezembro 05, 2005

I-Glamour – A Rotura

É com lágrima ao canto do olho e um profundo pesar no coração, que vos divulgo o fim da maior banda charming punk rockeira do Planeta. Chegou ao fim um projecto de 10 anos, que teve como objectivo primordial a divulgação do charme puro e duro através de melodias rebeldes, mas carregadas de simbolismo e tradição lusitana.
Era inevitável o fim. Crazy Charm há muito que tinha optado pela causa humanitária, pondo de parte a carreira como vocalista e guitarrista da banda. Há meses que não dava noticias. Viemos a saber que se encontrava algures no Congo, a viver com uma tribo indígena, alimentando-se de raízes e insectos, uivando e tocando tambores em noites de lua cheia, sonhando em segredo com a descoberta do Reino de Prestes João.
Rebel Seducer fez a opção séria de se dedicar ao seu sonho de criança: rebobinador de cassetes piratas na Feira de Carcavelos. As cordas da sua guitarra servem agora de estendal de roupa na barraca da Dona Maria. Ao que parece são resistentes e não sujam as toalhas.
Mr. Stylish profissionalizou-se na arte da cartomancia e vai finalmente dedicar-se ao fado marialva, actuando todas as terças-feiras à noite no Restaurante Repasto Saloio, no Lavradio. Como a sua voz soa a rajadas de vento a assobiar nos telhados, empresta apenas o estilo, fazendo playback. A voz fica a cargo de “Facadas” Canhoto. Para além disso começou a andar ao contrário, ou seja, de frente. As articulações já começam a habituar-se aos novos movimentos corporais.
Sexy Sparks, o nosso manager, ainda não sabe que a banda terminou. Aliás, quando lhe tentámos dizer ele riu à gargalhada e saiu da sala para ir comprar um pacote de sugos, julgando que estávamos a gozar. Não o voltei a ver. Acho que irá continuar a trabalhar para nós sem se aperceber que terminámos. Nada mudará na sua actuação.
Eu… pois eu pensei em seguir uma carreira a solo, mas depois caí em mim e optei por outra via. Amanhã começo uma nova vida. A apanha da alfarroba na Serra do Caldeirão é chão que está a dar muita uva. E nem preciso de levar escadote.
Aproveito para me despedir dos fãs e para lhes desejar felicidades. Foi-se o glamour mas ficou o mito! Até sempre!

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Glamour Gold

De vez em quando irei republicar uns textos mais antigos. Duma altura em que ainda não haviam (ou eram escassas e anónimas) visitas de pessoas que não me conhecem pessoalmente. A intenção é familiarizar os novos visitantes com o “Mundo” I-Glamour, pois sem se lerem algumas coisas mais antigas, estes novos textos poderão ser (ainda mais) confusos.
Por agora deixo-vos com um texto da rubrica “As Crónicas do Zé Caxias”.

Quinta da Fonte da Prata

Em tempos descobri um oásis. O meu cantinho de repouso. Trata-se duma vivenda que ocupei na Quinta da Fonte da Prata. Duas assoalhadas, ar incondicional (falta metade do telhado), casa de banho na natureza, construção rústica (algum tijolo, alguma madeira, muito fibrocimento), perto do rio (eu diria dentro do rio na maré cheia), bicharada a lembrar o campo (principalmente mosquitos e “amesteres” gigantes). Enfim… um autentico paraíso.
Ali descanso, ali escrevo, ali durmo, para ali levo companhia quando o coração se sente sozinho e o corpo pede aconchego. Tenho especial carinho por este bairro. Aqui vivi grandes dias como futebolista no Fonte Pratense Futebol e Chinquilho. Foram anos e anos a disputar a difícil 3ª divisão distrital em jogos de apoteose que chegavam a roçar o extraordinário. Era ponta-esquerda descaído para o banco, tal era o número de vezes que por lá ficava, tapado pelo “Facadas” Canhoto. O tipo jogava porque era sobrinho dum director e também porque era o único capaz de fazer um centro para a área sem ter que recorrer à força de braços.
Uma vez cheguei a marcar um golo. Foi num treino. Num dia em que o Zé Manel (o nosso guarda-redes) não apareceu. Estava um boneco a fazer de guardião, era um espantalho que o mister arranjou no caminho para o Gaio. Apesar de um pouco estático o tipo era bom, ainda defendeu 3 ou 4 remates!!!

quarta-feira, novembro 30, 2005

O Código 14 – Capítulo IX

O barco a remos que os transportava para a Ilha do Rato era propriedade de Tia Albertina. Senhora de grandes virtudes, dona de casa a tempo inteiro, vendedora de jogo ilícito e atleta de levantamento de copo 3 nas horas vagas. A custo conseguiram convence-la a emprestar-lhes o batel. Aliás… a muito custo. Foram necessários 250 euros e a promessa de que o barco sobreviveria à viagem sob pena de serem severamente punidos fisicamente. Quando uma ameaça destas vem de alguém com 140 quilos, com pernas e braços facilmente confundíveis com troncos de árvore, deve ser levada a sério.
A maré subia rapidamente. Pedrito cadenciava a remada, procurando ignorar o cheiro a peixe, impregnado na madeira da embarcação, e os gemidos de Piaçá que começava a ficar almareado com o balanço provocado pelo rio.
Aproximavam-se da Ilha rapidamente. Alguns barcos de pescadores circundavam-na, muitos outros para ela se dirigiam. Era a romaria habitual ditada pela maré e pelo bom tempo. Fizeram o desembarque pela parte sul da ilha. O curto areal, repleto de mosquitos e cascas de canivetes serviu para se sentarem a retemperar forças e a definir estratégias.
- Fazes alguma ideia por onde devemos começar? – Questionou Pedrito Bodega ainda ofegante pelo esforço despendido.
- Faço. Pela casa em ruínas. Tudo o resto é areia, lodo e vegetação. Tem que estar ali.
Após o breve descanso, começaram a cortar caminho por entre a vegetação. A ilha não teria mais de 10 hectares. Na parte central existia o que restava duma pequena casota: a laje térrea em betão revestida com ladrilhos hidráulicos, algumas paredes de tijolo, destroços de mobiliário.
Entraram nas ruínas. O cheiro naquele local fazia o barco da Tia Albertina parecer um prado de flores num matinal dia de Primavera. As paredes estavam recheadas de alusões clubistas, juras de amor, frases de cariz político, símbolos erótico-pornográficos. Mas de todas as gravuras, houve uma que prendeu a atenção de Piaçá. A sigla dos Cavaleiros da Tasca, GCT, estava desenhada a tinta vermelha, na parede nascente, com uma seta apontada para o chão. Piaçá agarrou num pedaço de madeira, que teria sido em tempos a perna duma cadeira, e começou a bater na laje junto à parede onde estava a seta. O som oco indicava que havia ali algo. Entusiasmado bateu com mais força. O pau soltou-se da mão, batendo-lhe no pé direito. O incidente provocou-lhe imensas dores, iniciando então uma série de movimentos, que foram desde o saltar ao pé-coxinho, até ao cantarolar do “Fado do 31” deitado no chão, agarrado ao pé, como um futebolista após uma entrada mais dura. Pedrito Bodega decidiu agir. Agarrou o pau e ele próprio bateu naquela zona da laje. Com facilidade o ladrilho partiu e vislumbrou-se o que parecia uma pequena câmara circular com menos de 1 m de diâmetro. Após olhar para o seu interior, Bodega introduziu o braço direito apercebendo-se que, por entre pedaços cerâmicos e teias de aranha, a profundidade era de 50 cm. Reparou também na existência dum saco plástico com algo lá dentro. Fez emergir o saco. Era um saco do Feira-Nova duma campanha de Natal. Abriu o saco e tirou do seu interior uma caixa de sapatos (da Sapataria Tó-Zé) já meio deteriorada pelo tempo. O seu coração pulsava descontroladamente. Será que finalmente encontrara o que durante meia vida procurou?
O abrir da caixa de sapatos fez os olhos de Pedrito encherem-se de lágrimas. Piaçá, já menos dorido, rastejou até ele e olhou para o conteúdo da caixa. Estava revelado o segredo. O Graal estava ali, na Ilha do Rato: era uma pequena taça de cortiça. Junto à taça estava um manuscrito, com aspecto antiquíssimo, enrolado com uma fita doirada. Ao abrirem o manuscrito puderam ler:

Ó Pedrito foste apanhado
Tu e o lunático do Piaçá
É que o Graal foi comprado
Numa loja em Massamá


FIM

segunda-feira, novembro 28, 2005

O Código 14 – Capítulo VIII

“Já consegui decifrar o código”. Teria sido uma frase apreciada por Pedrito Bodega, se ele tivesse prestado atenção a Piaçá, que a repetia como um puto mimado. Mas a mágoa impedia-o prestar atenção. Tinha sido traído e desrespeitado por aqueles que julgava serem seus amigos. Aproximando-se do jovem disse:
- Piaçá, não obtive nada lá de dentro. Estou um farrapo. Não sei o que fazer.
- Mas Sr. Pedrito não me ouviu?
- O quê? Eu… não, não ouvi o que estavas a dizer…
- Eu disse que já consegui decifrar o código.
- Qual código?
- Então… aqueles números que aparecem no fim da folha. A mesma que nos trouxe até aqui? Dah!! – Disse Piaçá fazendo uma careta suficientemente ridícula para o eleger como cromo-mor duma qualquer irmandade de cromos.
- Já conseguiste? E como fizeste isso?
- Pensei sobre aquela sequência. – Começou por dizer Piaçá, que em simultâneo tirou uma folha rascunhada do bolso. A folha estava dobrada, mostrando a Pedrito apenas uma face da dobra, onde estava a sequência escrita. – Estamos diante dum código onde a cada número corresponde uma letra. Depois de inúmeras tentativas, não cheguei a nada de lógico. E havia algo de estranho no código, tínhamos letras repetidas, ou melhor, números repetidos.

9___7-6-13-13-12___9-5-13-13___10-13___5-12-6-13

- Sim. O 13. – Disse Pedrito olhando para a folha.
- Exacto. Daí conclui que para cada número pode corresponder mais do que uma letra. Foi então que me recordei do fim do capítulo III do livro do seu antepassado Raimundo. Ele pega numa carta do Almirante Caxias para El-Rei, contando a sua chegada à praia da Barra a Barra, e decifra uma sequência numérica a qual apelida de código catorze. Está lá tudo! Eu experimentei e resultou com a nossa.
Nisto desdobra uma vez a sua folha de rascunho e mostra-a a Pedrito.



____1_2___
__9____3__
_8__14__4__
__7____5__
____6____

- O que é isto? – Perguntou Bodega um pouco confuso.
- Isto ajuda-nos a contar os números até chegar a determinada letra de forma cíclica. Ao número que chegarmos subtraímo-lo ao 14 e temos o número correspondente. Por exemplo o a, corresponde ao número 1. Subtraindo-o a 14 temos o número 13. No entanto repare que a cada número corresponde mais que uma letra, o que torna as coisas confusas.
Com mais uma parte da folha desdobrada, Piaçá mostrou o seguinte a Bodega:

9___7-6-13-13-12___9-5-13-13___10-13___5-12-6-13

E___G H A A B ___E I A A___D A___I B H A
O___
Q R J J L ___O S J J ___N J ___S L R J
Z ______T T U _____Z T T___X T______U T


- E desta sopa de letras consegues perceber alguma coisa?
- Sim. Seleccionando a letra certa de cada número chego à seguinte frase…
Agora abrindo a totalidade da folha podia ler-se:

O GRAAL ESTA NA ILHA

- Na ilha!!!!?? O Graal está na Ilha do Rato!!!!!????????? – Disse Pedrito Bodega quase sem conseguir respirar.
- É o que diz o código. E que tal se fossemos averiguar?

sexta-feira, novembro 25, 2005

O Código 14 – Capítulo VII

Pedrito Bodega não tinha dúvidas, era Albino Calhau, ex-capitão do navio pirata “Lenita do Coina”, que em tempos assolara o Mar da Palha, lançando o terror nos Cacilheiros e nas canoas desportivas do Tejo. Começou então a observar os presentes, um a um. Apesar das fantasias conseguiu identificar (pelo menos assim ele julgou) um grande número deles. Fosse pela voz, pela barriga saliente, pelo amarelado dos dentes, ou pela pulseira banhada a oiro do Ti Bezana, Pedrito conseguiu ligar nomes a quase todos os indivíduos que ali se encontravam. O medo inicial transformou-se em raiva. Raiva que sentia por ter sido colocado de parte. Estavam ali amigos, companheiros de longa data, ex-colegas e ele não tinha sido convidado. Sentia-se dividido. Por um lado a investigação que estava a levar a cabo, por outro a vontade de estragar aquela reunião. Resistiu. Deixou-se ficar quieto a observar.
Aparentemente estaria a principiar um Ritual Iniciático. Um indivíduo, que Pedrito não conseguiu reconhecer, foi para o centro do círculo e deitou-se no chão de barriga para cima. Dois outros foram buscar uma pipa de vinho, colocando a torneira junto aos lábios do caloiro. O líder ordenou que o mancebo abrisse a boca. Em seguida os dois tasqueiros que haviam trazido a pipa, abriram a torneira que começou a jorrar vinho tinto para as entranhas do iniciado. Em uníssono a rapaziada começou a cantarolar “Se quiseres ser cá da malta, tens que beber esta pomada até ao fim, até ao fim…”. Alguns litros à posteriori, o novo membro era levado em ombros para o logradouro da Tasca, inconsciente.
Teve então início um sermão proferido pelo Grão-mestre. Pedrito ouviu coisas que lhe pareceram sem nexo: “Somos o que resta da Atlântida”, “ A Ilha Achada guarda o segredo”, “ Rapaz trás ai mais um copo 3 se faz favor”. Tudo aquilo era estranho. Que ilha seria aquela? Será que falavam da Ilha do Rato?
Nisto, enquanto continuava perdido em dúvidas, numa névoa de pensamentos, ouviu uma frase que o deixou em alerta: “ Parece-me que hoje não somos 16, mas sim 17. Estará cá alguém a mais ou é o tinto já a fazer efeito?”
Pedrito tinha sido descoberto. Não estava preocupado com isso. A irritação que sentia afogara-lhe o medo.
- Deve ser da bebida Binito. – Disse Pedrito Bodega – Sim porque eu sei que és tu. Estou muito desapontado contigo e com vocês também – Acrescentou ainda, apontando para os companheiros de círculo.
- Aqui não há Binitos, nem Zés, nem Maneis nem um raio que o parta! – Respondeu o Grão-mestre irado. – Entraste sem ser convidado. Andas atrás de alguma coisa. Que queres saber?
- Quero saber que segredo existe sobre a Ilha do Rato.
- Eu já te dou o segredo. Hornak mostra a porta de saída a este senhor.
Nisto surgiu o Homem das Cavernas, agarrou em Pedrito como se fosse uma saca de batatas e transportou-o até à porta, largando-o de seguida no chão frio da calçada.
- Senhor Pedrito – Exclamou Piaçá, que continuava sentado no passeio do outro lado da rua, com aquele seu sorriso parvo nos lábios. – Já consegui decifrar o código!!

quarta-feira, novembro 23, 2005

O Código 14 – Capítulo VI

Quinta-feira à noite, Bairro das Palmeiras. Duas figuras, uma alta e esguia e outra roliça e atarracada abeiraram-se da porta da Tasca do Azedo. Vinham de acordo com o aconselhado por Mr. Stylish, de túnica preta e máscara. Pedrito optara por uma mascarilha à Zorro, Piaçá trazia a máscara do Incrível Hulk.
- Que raios Piaçá… isso é caraça de se apresente?
- Era esta ou a do Topo Gijo…
A porta da tasca encontrava-se fechada, como aliás seria de esperar, a folga do pessoal era às quintas-feiras. Bateram (ambos) à porta. A porta foi aberta de forma brusca e do seu interior surgiu um indivíduo. Ali estava a prova que faltava aos defensores da teoria de que o Homem de Neandertal sobrevivera até aos nossos dias. Era uma criatura maciça, com cerca de 1,70 m de altura e a largura dum camião TIR. O pescoço confundia-se com os ombros. O semblante era de tal modo duro e agressivo que os nossos investigadores chegaram a questionar se teria ou não uma máscara colocada. Não tinha. Com uma voz gutural proferiu:
- Porque é que as gaivotas andam atrás dos pescadores?
Fez-se luz na mente de Pedrito. Afinal a primeira frase do enigma também estava resolvida, era uma senha de entrada. Orgulhoso em relação à sua perspicácia proferiu:
- Porque pensam que vão comer tainhas.
- E o que acontece às vezes? – Retorquiu o Homem das Cavernas.
- Por vezes os pescadores andam à caça do berbigão. – Respondeu Pedrito confiante.
- Ok. O consumo mínimo é uma garrafa de vinho. – Disse o porteiro estendendo a mão.
Pedrito tinha, como indicado pelo músico mistério dos i-glamour, uma garrafa de vinho tinto. Deu-a ao porteiro e entrou esquecendo-se de esperar por Piaçá. Este tinha trazido uma garrafa de groselha, que era a coisa mais parecida com vinho que tinha lá em casa. Foi-lhe vedada a entrada. Insistiu. Ficou a conhecer as pedras da calçada do passeio do outro lado da rua. E ali permaneceu sentado, aguardando novidades do interior do estabelecimento.
A Tasca estava irreconhecível. O balcão, as mesas e os bancos tinham desaparecido. No local onde normalmente estava o balcão, encontrava-se um cadeirão de madeira com adornos manuelinos esculpidos, bem por debaixo das prateleiras com garrafas de bebidas variadas e com o cartaz do Zé-povinho a alertar o facto do estabelecimento não permitir fiados.
A sala teria cerca de dezena e meia de pessoas, todos mascarados, aparentemente todos homens. Murmuravam entre si em grupos de dois ou três. Ouvia-se música ambiente de estilo New Age com sons da natureza. A iluminação estava a cargo de velas colocadas no chão junto às paredes e de tochas seguradas por 4 indivíduos a cada canto da sala. As máscaras destes quatro eram idênticas entre si, todas com a figura do Sapo Cocas.
Subitamente ouviu-se por três vezes o rufar dum tambor. Fez-se silêncio e em seguida ouviu-se uma voz proferir:
- Sua Excelência o Grão-mestre dos Glamourosos Cavaleiros da Tasca.
Entrou um indivíduo na sala, provocando vénias cerimoniais dos presentes. Trazia a mesma vestimenta dos outros. No entanto havia algo que o distinguia. A máscara era bela, doirada, provavelmente com a figura do deus Neptuno e trazia um bastão em ferro com a esfera armilar no topo, a luzir prateada. Sentou-se no cadeirão, todos os restantes sentaram-se no chão formando um círculo. Pedrito estava de frente para o Grão-mestre.
- Que a Ilha Perdida se reveja na Ilha Achada. – Disse o líder do grupo, recebendo em troca em uníssono um “Que assim seja”.
Pedrito sentiu um calafrio e pensou: “Que estranha frase… e esta voz… é-me familiar. Será que é de quem eu estou a pensar?”

segunda-feira, novembro 21, 2005

O Código 14 – Capítulo V

Quem é do Barreiro, ou arredores, tem no seu subconsciente as imagens das enormes chaminés de fábrica, brancas às riscas encarnadas (ou vice-versa). Com o passar dos anos as fábricas foram fechando. As chaminés foram-se tornando simples recordações dum passado glorioso, quais rainhas depostas da Indústria portuguesa.
Mr. Stylish decidiu remodelar uma delas. Uma com vista ampla sobre Lisboa e o Tejo. Criou três pisos no seu topo, abrindo vastas janelas para o rio. É aí que habita e trabalha.
Pedrito Bodega e Nuno Piaçá fizeram-se anunciar por intermédio dum comunicador situado no sopé da chaminé, junto à porta de entrada. Foram subindo por um elevador interior. Ao chegarem ao chamado piso 1, tinham uma senhora de idade, roliça e sorridente que os recebeu.
- Entrem por favor. Eu sou a Lurdes, sou assistente de Mr. Stylish. Ele está a acabar de receber uma cliente. Queiram aguardar na sala.
Mr. Stylish era cartomante, para além de baterista dos I-Glamour. Estava a terminar a consulta a uma jovem desesperada. Pelos vistos a consulta tinha corrido muito bem, uma vez que a rapariga saiu com um sorriso nos lábios do interior do seu gabinete.
- Por aqui por favor – Indicou a Dona Lurdes aos dois pesquisadores.
O gabinete de Stylish era uma bela sala. Situada na parte norte do piso 1, tinha um envidraçado a toda a altura com uma vista fantástica sobre Lisboa. O dia claro permitia ver o rio, os barcos, a Sé, o Castelo, as duas pontes, a serra de Sintra. Stylish estava sentado como normalmente o fazia, no centro da sala, num banco rotativo, de costas para os nossos investigadores, junto a uma mesa redonda, onde também se encontravam duas cadeiras brancas de plástico.
- Bem-vindos. Façam o favor de se sentarem. Então Sr. Bodega em que posso ser útil?
Bodega e Piaçá sentaram-se nas duas cadeiras.
- Mas… - Disse baixinho Piaçá estranhando a forma como Stylish os recebia – ele está de cost…
- Chiu… – Interrompeu Bodega com uma cotovelada à mistura, não se mostrando surpreendido perante o comportamento do músico/cartomante – Mr. Stylish nós desejávamos obter informações sobre a ligação dos I-Glamour aos Glamourosos Cavaleiros do Charme.
- Informações?! – Disse Mr. Stylish. – Ah ah ah. Não há ligação nenhuma. Onde foram tirar essa ideia?
- Repare neste manuscrito. – Disse Pedrito.
Pedrito Bodega ordenou a Piaçá que entregasse a Stylish a folha. Este sem saber bem o que fazer esticou o braço de forma indecisa e lenta. Stylish num gesto rápido arranca-lhe a folha da mão e coloca-a sobre a mesa mesmo à sua frente, ou por outra, atrás de si.
- Ora bem deixem-me ver…. – Disse Stylish dando a entender que lia a folha. – Não posso dizer nada sobre isto.
- Não pode?! Vá lá. Há ligação entre os I-Glamour e os Cavaleiros ou não?
- Eu não disse nada! Eu não disse nada!
- Isso quer dizer que há! E que tipo de ligação? Diga-me.
- Não sei… não sei. Já ouviu falar das reuniões secretas na tasca do Azedo às 5ª Feiras à noite? Eu cá não sei de nada disso, mas se aparecer lá com uma máscara e uma túnica preta e levar uma garrafa de vinho é capaz de entrar. Mas é como lhe digo… eu não sei nada. Já agora meu rapaz – Diz Stylish virando a nuca na direcção de Piaçá – Aposto que não tens namorada, queres descobrir quando vais arranjar uma?
- Pode ser? – Perguntou o entusiasmado rapaz a Pedrito Bodega, como se este fosse seu pai.
- Pode. Agora só 5º Feira é que entramos em acção…

sexta-feira, novembro 18, 2005

O Código 14 – Capítulo IV

- Ora diz-me lá o que já entendeste desses rabiscos. – Pediu Pedrito Bodega, após olhar durante largos minutos para a folha, sem nada entender.
- Então é assim: A primeira parte, a das gaivotas, como o senhor já calcula, não sei o que significa. A segunda parte é claramente uma alusão aos Glamourosos Cavaleiros da Tasca: "GTV Allez Allez, GTV Allez Allez!!".
Estas últimas palavras foram proferidas numa espécie de cântico. Piaçá levantou-se do chão, iniciando uns pulos ridículos, que tornavam o seu cabelo ainda mais caricato. Com os braços complementava a coreografia, em movimentos dos antebraços para a frente e para trás, ao estilo polícia sinaleiro.
- Ok, ok, pára lá com isso. – Interrompeu Pedrito – E como fizeste essa ligação? Só por causa das iniciais?
- Não está a ver a lógica?! As iniciais e uma palavra francesa repetida em seguida?!! - Perguntou Piaçá com ar de entendido na matéria. – As iniciais levam-nos para essa sociedade secreta que como se sabe é erudita. Todos os eruditos são intelectuais, os intelectuais falam francês…
- Ehhhhhh não me digas, tens toda a razão!!! – Desabafou Pedrito ao mesmo tempo que batia com a palma da mão na testa, ao jeito do anúncio da Santa Casa.
- Digo sim. E há mais: O jogo do galo resolvido mostra uma clara alusão esotérica antiga. Onde a resolução dum enigma aparece como símbolo de sabedoria e de intervenção critica perante a Sociedade. Para além de indicar que eram dois os consultores da obra e que um deles jogava mal como o caraças! A frase que aparece em seguida é que me tem dado cabo do canastro. “Na tasca do Azedo tens um cu que mete medo”. Tenho vindo aqui há semanas e ainda não tive medo de nenhum traseiro… enfim. A última coisa, os números, pois… também não faço a mínima ideia. Parece-me um código.
Nisto Pedrito levanta-se e cerra o punho num gesto de vitória exclamando “é isso catano”.
- É isso o quê?
- Então mas tu és jovem e não conheces essa frase? – Perguntou Pedrito.
- A do traseiro que amedronta? Eu não!
- É parte duma letra duma banda de música famosíssima por estas zonas…
- A Banda Filarmónica do Gaio-Rosário?
- Não rapaz!! Os I-Glamour. E repara no nome… Glamour. Isto não te recorda nada?
- Pladur? O meu papá trabalha nisso, ele…
- Não meu atadinho. – Interrompeu Pedrito já irritado. – Faz lembrar Glamourosos. Glamourosos Cavaleiros da Tasca. Aposto que se falarmos com a rapaziada da banda vamos chegar a mais conclusões.
Nisto partiram dali. Nuno Piaçá tinha vindo de autocarro, pelo que Pedrito Bodega lhe deu boleia na sua “pasteleira”. A velha bicicleta quase não aguentava com o peso dos dois investigadores. O que valia era a pouca duração da viagem. A casa de Mr. Stylish, reconhecidamente o mais misterioso dos I-Glamour, era já ali ao virar da esquina.

quarta-feira, novembro 16, 2005

O Código 14 – Capítulo III

Pedrito não podia estar menos preparado para ouvir Piaçá. A fé em se envolver numa trama esotérica tinha ruído face à primeira impressão deixada pelo rapaz. Mesmo assim, encostou-se na cadeira e proferiu:
- Sou todo ouvidos. Diz lá o que tens a dizer.
O rapaz esboçou um sorriso no limiar do ridículo, sentou-se no chão com as pernas em posição de Buda e começou a falar:
- Sr. Pedrito, certo dia tinha eu acabado de entrar na Torre do Lombo, em busca duns bifes de porco para panar, quando o empregado, após a pesagem dos ditos, os envolve numa folha que desde logo me pareceu estranha. Não era a normal embalagem de papel. Era um pergaminho antiquíssimo!!!
- O que?!! – Questionou Pedrito incrédulo – Nessa não acredito.
- Eu também não acreditei. Mas depois perguntei ao Zorro, que é o nome do empregado, que raio de papel era aquele. Ele disse-me que tinham acabado as embalagens de papel que normalmente encomendam na tipografia Troca-tintas, e que por conseguinte estavam a utilizar livros do arquivo, porque ninguém lhes ligava peva!
- Sacrilégio!! – Gritou Pedrito Bodega já quase morto pelo choque.
- Eu então pedi-lhe o que restava do livro e dei-lhe em troca umas revistas que trago comigo, coisas relacionadas com estudos anatómicos e assim. Reparei então aliviado que a folha que cobria os meus bifes era a primeira arrancada. Tinha em minha posse o livro por inteiro! E mais… o livro era antiquíssimo, datado do século XIV, altura da descoberta da Ilha do Rato.
- Graças aos Deuses da Cultura!!! – Desabafou Pedrito Bodega agora mais calmo.
- Mas foi quando cheguei a casa e comecei a desfolhar o livro que reparei no tesouro que me caiu em mãos. O livro foi escrito por Raimundo Bodega, que descreve a Descoberta da Ilha do Rato e acrescenta factos até agora desconhecidos do público em geral.
- Raimundo Bodega é um tetravô meu. Era conhecido como amolador de pedra-pomes e como pescador, não fazia ideia que tinha sido cronista!!! – Disse Pedrito Bodega já totalmente rendido à trama. – Mas que factos são esses?
- Ele diz que a Ilha do Rato já era conhecida antes de Caxias lá ter chegado. E diz também que a ilha guarda um grande segredo mas que não sabe qual é. Para além disso o livro mostra anotações à mão que indicam ter sido consultado posteriormente e eu até aposto que foi há pouco tempo.
- Porque dizes isso?
- Repare nas anotações que são todas na última página do livro, todas com a mesma letra, cujo estilo revela a actualidade das mesmas.
Abrindo o canhenho na última página lia-se:


- Sr. Bodega, parte destas anotações está decifrada. Para as restantes conto com a sua colaboração…

segunda-feira, novembro 14, 2005

O Código 14 – Capítulo II

Apressadamente Pedrito estacionou a sua “pasteleira”, prendendo-a a um sinal de trânsito com um cadeado, junto à Tasca do Azedo. Não era a primeira vez que entrava naquele mítico estabelecimento. Era homem vivido, conhecia a região como a palma de suas mãos. A amizade que mantinha com inúmeras personalidades da terra tinha ganho corpo ali. Talvez por isso achava estranho não se recordar de Nuno Jerico. Quem seria esta personagem que afirmava frequentar a Tasca do Azedo?
Ao entrar na Tasca, sentiu algo no ar que o fez viajar no tempo. Era uma miscelânea de aroma a bafo de álcool, cheiro a fritos e fedor a transpiração. Olhou em redor e não viu ninguém que correspondesse à descrição do anúncio. Sentiu fome. Dirigiu-se ao balcão e disse para o empregado:
- Olá Manel tudo bem!
- Olá Sr. Bodega como está? Já não aqui vinha há muito tempo!
- É verdade. Sabes como é. Olha… quero duas coisas. Para comer quero uns pipis fritos com arroz de tomate acompanhados por vinho tinto da casa. E depois quero uma informação sobre um tal de Nuno Jerico.
- Nuno Jerico?! – Mostrou-se surpreendido.
- Uh… é um jovem que diz que o tratam por Piaçá – lembrou-se Pedrito de acrescentar.
- Ahh… o cromo da juba!!! É pá o tipo deve estar para ai a chegar. Ele vem sempre cá almoçar.
- Ok. Mas porque é que eu não me lembro dele sendo ele um frequentador assíduo?
- Ele começou a vir para cá apenas há alguns meses. Costuma sentar-se numa cadeira ali ao canto. Farta-se de observar as pessoas e de tirar notas para um caderninho. Olhe… até houve um dia que apanhou o Sr. Azedo mais mal disposto e levou um enxerto de porrada.
Ainda mais intrigado, Pedrito sentou-se e aguardou. Entretanto chegou o petisco e começou a comer. Quando já ia a meio do repasto, absorvido por pensamentos é surpreendido por um estrondo que vinha da zona da porta de entrada. Virou-se e contemplou o que se passava. Um rapaz, que não teria mais de 20 anos, de óculos, com o cabelo mais volumosos e grosso que alguma vez tinha visto, estava estatelado no chão. Em redor do corpo inerte, espalhados pela queda, estavam papeis soltos, livros, disquetes, canetas, marcadores, uma bússola, um jornal, duas revistas Gina, dois bonecos de plástico (o Homem Aranha e o Incrível Hulk) e uma pasta de cabedal. De repente o jovem levantou-se atrapalhado e começou a apanhar as coisas colocando-as dentro da pasta e proferindo algumas palavras do género “ai só a mim”, “eu tenho um azar do caraças…chiça”. Após concluir a operação dirigiu-se a Pedrito e identificou-se:
- Olá Sr. Pedrito Bodega, eu sou o Nuno Piaçá.
Pedrito sentiu um calafrio em forma de desilusão. Tinha perante ele o maior cromo que alguma vez tinha visto. A história do enigma seria certamente um engano. Aquele rapaz magro, de sobretudo até aos pés, com um cabelo que contrariava a lei da gravidade, com quase tantas borbulhas na cara como chaparros há no Alentejo, certamente não teria nada de estrondoso para lhe revelar. Tentando disfarçar a desilusão disse:
- Olá Nuno. Então diz-me o que é aquele enigma? Que mistérios se escondem por detrás de tão enigmática frase?
- Ai Sr. Pedrito – Disse Piaçá sem conseguir esconder o entusiasmo. – Esta frase guia-nos ao Graal e a outros mistérios ainda mais profundos. Prepare-se para o que eu lhe vou dizer.

quinta-feira, novembro 10, 2005

O Código 14 – Capítulo I

Pedrito Bodega é um dos grandes intelectuais de toda a costa sul do Mar da Palha. Reformado da antiga Setnave, passava agora o seu tempo a deambular por entre estudos diversos, absorvendo cultura como as esponjas absorvem a humidade. Dedicava-se à escrita biográfica, à literatura erótica, ao pensamento erudito de filósofos esquecidos em prateleiras poeirentas de bibliotecas, ao desbravar de revistas e jornais em busca de mensagens ocultas, enfim… demandava o Graal e a verdade sobre os Glamourosos Cavaleiros da Tasca, também conhecidos por Tasqueiros.
Decorria a manhã duma bela terça-feira primaveril. Andorinhas inquietas construíam os seus ninhos nos beirais dos prédios. Pedrito bebia a sua xícara de chá preto indiano acompanhada duma carcaça com torresmos e banana, no Snack-bar do Quim Bagaços. Ao folhear o “Noticias da Vinha das Pedras”, procurando a solução para o Su Doku da página 3 (aparentemente de solução impossível), Pedrito Bodega deparou com um estranho enigma. Nunca tinha visto nada assim. O que inicialmente parecia um anúncio, revelou tratar-se duma estranha mensagem codificada, que por incrível que pudesse parecer, lhe era aparentemente dirigida.

PROCURA-SE
Sr. Bodega leia isto e decifre por favor, está relacionado com a Descoberta:

AS GAIVOTAS QUANDO ANDAM ATRÁS DOS PESCADORES É PORQUE PENSAM QUE VÃO COMER TAINHAS. MAS POR VEZES OS PESCADORES ANDAM À CAÇA DO BERBIGÃO.
(Infelizmente não lhe posso revelar quem sou por razões de segurança pessoal e sua também. Mas caso não me consiga identificar pela charada, queira dirigir-se à tasca do Azedo situada no Bairro das Palmeiras porque costumo lá estar. Sou aquele jovem de óculos de massa pretos com cabelo volumoso e despenteado que todos tratam por Nuno Piaçá, embora o meu verdadeiro sobrenome seja Jerico.)


Pedrito ficou atónico. “Mas que raio será isto?! Santa Intelectualidade me acuda!”, pensou para si enquanto acariciava a farta barba acinzentada. Aquela charada era completamente diferente de todas as outras com que se tinha deparado até então. Era confusa, um pouco absurda até, o que a tornava um aliciante desafio. Juntar Tainhas, Berbigão e Pescadores na mesma frase era sem dúvida um acto de uma profundidade esotérica gritante. A mensagem estava sem dúvida repleta de mistério.
Após horas de análise, de consulta de documentos antigos, de importantes telefonemas a amigos académicos, Pedrito tomou uma decisão: Ir até à Tasca do Azedo e conversar com o tal Nuno Jerico.

terça-feira, novembro 08, 2005

Star Wars of Charm – Episódio VI

Há pouco… pouquíssimo tempo até, numa galáxia aqui bem perto….


Episódio VI – O Regresso dos Caminhantes
A fuga de Style Solo e Sparks Moonwalker para
Disco foi detectada pelas forças Imperiais. Duque
Vader e a própria Imperatriz comandam a Frota
Imperial que se dirige agora para o pequeno planeta





O planeta Disco não era um planeta como os outros. Situado num sistema longínquo, era visto como antro de diversão popular, sem requinte, desprezado pelos intelectuais do Império. Ali havia Carnaval todos os dias. Embora de forma inconsciente, o Charme era fortíssimo no planeta. Talvez por essa razão tenha sido o local escolhido para refúgio do que restava da grande Força de Elite Inter-planetária: Os Caminhantes do Estilo.
Style tinha ouvido dizer que um antigo Mestre Caminhante seu conhecido, Yoda Seducer, deambulava por SayFreak City, capital do Disco. Era sua intenção contar com a ajuda de Yoda para treinar o jovem Moonwalker, pois não se sentia seguro como instrutor. De facto tinham decorrido demasiados invernos desde a sua última missão como Caminhante. A implantação do Império enferrujara-lhe o Charme.
Juntamente com Sparks, Style dirigiu-se a um bar onde a presença de Yoda era provável. O tiro saiu certeiro. Agarrado a uma caneca de café com leite, trajando a velha vestimenta dos Caminhantes, com a túnica prateada e sandálias com meia branca, lá estava Mestre Seducer com o ar de profunda tranquilidade que lhe era característico.
- Olá Seducer – Abordou-o Style Solo – Como vai isso?
- Olá Style… então tudo bem? – Respondeu Seducer com ar feliz e surpreso - E este não me digas que é quem eu penso?
- É o Moonwalker…mas … mas como soubeste? – Perguntou Style perplexo.
- Sabes que o Charme se revela de inúmeras formas. E claro… não se fala noutra coisa na televisão, nos jornais, na rádio. Aliás parece que vem aí uma frota da Imperatriz para destruir o Disco.
- Ah sim!? E como consegues ficar tão calmo?! – Perguntou um Style aflitíssimo. – Tens que me ajudar, tens que me ajudar a treinar o Moonwalker, ele tem que aprender os movimentos rapidamente… temos que lhe incutir o Charme.
- Calma Solo. – Respondeu Seducer com uma serenidade quase irritante – Já não é a primeira vez que tentam acabar com o Disco. Quanto a ajudar-te… temos um problema. É que a minha especialidade não é o moonwalking. Eu sempre fui perito na dança dos “Cabeçudos da Moita”.
- Está bem. E eu também não sou um expert em moonwalking. Eu sou mais um…
Nisto Style é interrompido. Da boca de Yoda surgem sons a lembrar o troar de tambores. O seu corpo inicia então movimentos estranhos, onde os pés saltitam de forma tresmalhada e os braços se encontram presos ao corpo, simulando “Gigantones”. As pessoas que se encontravam no bar começaram então a bater palmas ao ritmo do “pum pum pum” que jorrava da garganta de Yoda.
Nisto irrompem pelo Bar nada mais nada menos que a Imperatriz, o Duque, Ubi e Chewbacca amarrados por cordéis e uma hoste de Trombones armados com antipatia até aos dentes. Faz-se um silêncio sepulcral. Por instantes o lado luzente do Charme é consumido pelo poder negro da Imperatriz e do sinistro Duque Vader.
- Come-se alguma coisa nesta espelunca? – Questionou de forma seca a Imperatriz, acrescentando de seguida – Sentem-se connosco Caminhantes, vamos conversar.
De certa forma o ambiente desanuviou. Mas o que quereria a Matrona? Essa questão perturbava os nossos heróis. A dúvida desfez-se rapidamente.
- Jovem Moonwalking, porque não vens trabalhar comigo hum? Sabes… se ficares com esses tipos não vais passar da cepa torta, não passam duma cambada de malucos. O lado negro da força já seduziu um Moonwalker – Referiu olhando sobranceiramente para Vader, que permanecia quieto e cabisbaixo – Espero que te seduza a ti também.
O jovem Moonwalker parecia ceder. Olhou para o seu “parente” que permanecia cabisbaixo e sentiu respeito. Um estranho respeito. Ele também poderia vir a usar um elmo como aqueles, ser tratado por Duque, Conde ou até quem sabe Príncipe.
Tudo parecia perdido. Mas foi então que aconteceu um milagre. A TV estava ligada num canal de música que passava telediscos antigos. Começou a dar o “Star Move Criminal” do grande Guru do Charme Michael Jet Sun. Para além de teledisco, era um ancestral vídeo de ensinamentos utilizado pelos Mestres Caminhantes. Sparks olhou e sentiu-se impelido por um estranho chamamento. Nisto levantou-se, começou a cantarolar a música e a mover-se como se nas solas dos seus ténis estivessem rolamentos. Era o Moonwalking!!!! Os restantes Caminhantes ficaram sem reacção, boquiabertos. A Imperatriz começa a rir à gargalhada entrando por isso em pânico. Duque Vader levanta-se rapidamente e tenta deter Sparks para evitar a catástrofe que se adivinhava. Em vês de o fazer parar, inadvertidamente inicia uma coreografia com ele, mostrando perceber muito bem da poda. A Imperatriz e os Trombones desfazem-se em fumo, num fantástico efeito especial de filme de baixo orçamento. A máscara do Duque salta revelando sem surpresa para Solo e companhia de quem se tratava. Era Steve Moonwalker, um antigo companheiro Caminhante.
O lado negro do Charme tinha sido destruído. A Paz e a Loucura Saudável estavam de regresso à Galáxia. Os Caminhantes do Estilo também.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Star Wars of Charm – Episódio V

Há pouco… pouquíssimo tempo até, numa galáxia aqui bem perto….


Episódio V – O Império Contra-Ataca
A Imperatriz Matrona descobre os intentos
dos Rebeldes. Num acesso de fúria lança as suas
naves contra Glamour. As forças Rebeldes tentam
reorganizar-se agora com o apoio de Ubi Wan Talk



A situação poderia estar melhor. Centenas de naves imperiais em órbita do planeta Glamour. Os rebeldes ao verem a triste figura do seu suposto “Salvador”, Moonwalker Sparks, entraram em estado choque e refugiaram-se nas montanhas.
Solo, Chewbacca, Ubi Wan e Moonwalker ficaram…aguardando a chegada do Duque Vader, Trombas Mor do Império.
O Duque era uma figura sinistra. Metade humano, metade aquecedor eléctrico. Vestido com um uniforme metálico, tipo armadura medieval, de cor bege, elmo da mesma cor, máscara em gradeamento que aparentemente escondia uma ventoinha, uma capa negra e sapatos de vela. Dizia-se que era o brinquedo favorito da Imperatriz. Viviam uma relação nupcial. Sempre que ela precisava dum aconchego mais amornado era só carregar no botão.
O rendez-vous negocial, entre o Duque e o que restava dos rebeldes iria ter lugar num local emblemático, o antigo templo dos Caminhantes do Estilo. Vader fazia-se acompanhar pela sua guarda pessoal, os Trombones, todos vestidos de igual com uniforme azul-bebé, capacete de obra branco e faces absolutamente amorfas. Era um sítio familiar para o Duque, que transpôs o portão principal e se dirigiu ao local pré-combinado. Ao fim de 200 metros chegou a um pequeno barracão. Abriu a porta e lá estavam velhos conhecidos seus e uma cara nova. Sem perder tempo e de forma seca proferiu:
- Então que têm a propor? Devo dizer-lhes que vos resta 15 minutos até que este planeta seja dizimado.
- Eu também tenho saudades tuas – Ironizou Ubi Wan, que acrescentou em seguida – temos aqui o último dos Moonwalkers. Como deves saber, segundo a profecia, ele tem o poder de destruir o lado negro do Charme. O que eu peço é que tu e a tua patroa acabem com esta palhaçada e que libertem a Galáxia, senão meto o Sparks a fazer o moonwalking.
O bluff não resultou.
- AH AH AH AH AH AH AH AH – Vader libertou sinistras gargalhadas e disse ainda – O lado negro do Charme é indestrutível velho Mestre Caminhante. A concentração, a sisudez, a antipatia, a capacidade de conversar durante horas sem contar uma piada e sem achar graça a nada … isso são coisas eternas… AH AH AH AH AH AH AH AH Ah.
- Mas oh Vader pá… - Referiu Style Solo – Isso não são gargalhadas? Não estarás a achar piada?
Por momentos Vader sentiu-se confuso. Ubi Wan aproveitou o momento e iniciou o moonwalking acompanhado de Chewbacca. O Duque e os trombones tentam resistir ao ataque, contra-atacando com caretas de reprovação. O Duque era poderoso, grande era o lado negro do Charme em si.
Ubi e Chewbacca ficaram reféns, presos num limbo de intelectualidade ferida, onde o seu sorriso estava cativo, onde apenas fórmulas matemáticas e livros chatos sobre decoração lhes vinham à ideia. Foram levados para a Nave Mãe.
Style Solo conseguiu fugir com Sparks apanhando o último comboio para o planeta Disco, local onde se supõe estarem refugiados os últimos Caminhantes do Estilo sobreviventes da Guerra dos Cones. Será o local ideal para ele, um antigo Caminhante, ensinar ao jovem Sparks os ensinamentos do Charme e libertar o Moonwalker que há nele. Assim se espera.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Star Wars of Charm – Episódio IV

Há pouco… pouquíssimo tempo até, numa galáxia aqui bem perto….


Episódio IV - Uma Nova Esperança?!
O Império domina a Galáxia. No pequeno planeta
Glamour, as forças Rebeldes, chefiadas pelo Capitão
Solo, procuram solução para destronar o maléfico
poder da Imperatriz. Pretende-se descobrir o último
dos Moonwalkers, aquele de que fala a Profecia




A reunião era para ser secreta. Por isso é que os rebeldes decidiram encontrar-se numa casa de banho pública. Simulou-se uma lesão no Crazy Chewbacca, o gigante de pêlo branco, transportou-se a criatura para um cubículo livre, sentando-o numa sanita e iniciou-se a reunião. O espaço era minúsculo, muitos tiveram que se empoleirar nas paredes laterais para visionar o briefing dado por Style Solo. Enquanto Solo falava, alguém massajava o pé esquerdo do Yeti das Estrelas. A cena parecia credível como disfarce.
As notícias que provinham através de palavras sussurradas pelo vento (ou isso ou bufos comprados com cromos dos Pokeamon) indicavam que existia de facto um sobrevivente do clã Moonwalker, um Caminhante do Estilo, escondido algures na Galáxia.
A Profecia era clara nessa questão. Um Caminhante do Estilo, de nome Moonwalker, iria certo dia, durante um qualquer jantar na presença da Imperatriz, executar a famosa dança moonwalking, inventada pelo Guru do Charme, Michael Jet Sun. Esse acto iria, de acordo com a Profecia, destruir o lado Negro do Charme e salvar a Galáxia das terríveis garras da Imperatriz Matrona.
O briefing foi rápido e incisivo. Ficou decidido que Solo e Chewbacca iriam ao Planeta das Iscas na demanda dum velho amigo, Ubi Wan Talk, o último a usar as insígnias dos Caminhantes. Acreditava-se que este saberia do paradeiro do “Desejado”.
Ubi Wan comia a sua sopa da pedra, acompanhada por pão alentejano quando subitamente ouve o tocar da campainha. “Quem será a uma hora destas?”. Ao abrir a porta, a sua pergunta obtém resposta.
- O quê!? Não posso acreditar nisto! Vocês devem ser almas penadas ou assim…
- Nada disso Ubi. – Respondeu-lhe Solo. – Não estás contente por nos ver?
- Então agora são rebeldes hã? Sim senhor… vejo que o arrependimento não mata. Que querem de mim? – Perguntou Ubi Wan.
- Queremos que nos digas onde está o último dos Moonwalker – Respondeu-lhe Solo.
- A velha profecia? Eu também acredito no coelhinho da Páscoa e no Pai Natal… – ironizou Ubi Wan.
- Vá lá, não podemos perder tempo. – Interrompeu Solo. - Sei que detestas a Matrona… sabes onde ele está?
Ubi nunca acreditou na profecia, mas ao mesmo tempo viu ali a única esperança de derrubar a Imperatriz e restituir a Galáxia ao verdadeiro Charme. Então disse:
- Venham comigo. Temo que fiquem desiludidos.
Encaminhando os “convidados” por um corredor, abre a última porta à sua esquerda. No seu interior encontrava-se um jovem. O rapaz dançava, de forma particularmente ridícula, ao som duma música da Britney Space Tears. Os dois rebeldes ficam de olhar esbugalhado e é então que Solo pergunta:
- Quem é este calhau com dois olhos?!
- Eu sou o Sparks. – Responde-lhe o moçoilo com ar feliz – Sou o Moonwalker Sparks.

sábado, outubro 29, 2005

Star Wars of Charm – Let’s look at the trailer ….

A Aventura que não esperava…
“Há pouco… pouquíssimo tempo até, numa galáxia aqui bem perto….”


O escritor é o snifador de cascas de tremoço do costume…
“Enquanto Solo falava, alguém massajava o pé esquerdo do Yeti das Estrelas”


Com os “actores” da Última Bala…
“…um sobrevivente do clã Moonwalker, um Caminhantes do Estilo, escondido algures na Galáxia…
- Quem é este calhau com dois olhos?!
- Eu sou o Sparks. – Responde-lhe o moçoilo com ar feliz – Sou o Moonwalker Sparks.”

Brevemente num Blog perto de si…

sexta-feira, outubro 28, 2005

O Padrinho – Capítulo 5

Dom Caxias era um homem satisfeito. A confiança no seu campeão para bater Martelini era imensa. Especialmente agora. Sim… porque Dom Caxias não se deixa levar por nomes, dicas ou “diz que disse”. Quis testar a nova aquisição e preparou-nos uma surpresa. Mandou instalar o equipamento na arrecadação da tasca do Azedini: computador, monitor, 4 volantes. Fez-se uma corrida. Angelo Stylish simulou uma lesão para não entrar em confronto, Crazy “Olives” recusou-se a jogar. Joguei eu, o Benedito, o Santini e o campeão. Inicialmente as coisas até estavam a correr-me bem. Julguei ir em primeiro. Só depois reparei que o meu carro era o amarelo, o que vinha em marcha-atrás na direcção contrária à da corrida. Estive durante 10 minutos a olhar para o carro do Santini a pensar que era eu que o estava a guiar. O campeão ganhou com 3 voltas de avanço sobre o Santini, 4 sobre o Benedito e a mim… digamos que me ganhou por 13 voltas de avanço num circuito de 10!!
Após a constatação da perícia foi altura das apresentações formais. Jo Cesarini de seu nome, trabalhava por conta própria fazendo de tudo um pouco: Fornecedor de material informático pirata e de resumos de aulas escolares, alentejano de fim-de-semana, criador de frases mordazes.
Era altura do grande desafio. Cesarini versus Martelini. Este último utilizou um truque de última hora que nos deixou preocupados. O jogo que trouxe e que seria o utilizado no confronto não era o mesmo que tinha servido de treino a Cesarini. Este não se mostrou preocupado:
- Ok…tudo bem. Então como é que são os comandos?
Doze minutos depois as 34 horas de treino neste jogo tinham-se demonstrado estupidamente desaproveitadas por Martelini. A derrota foi avassaladora.
A Organização estendeu os seus tentáculos até ao negócio das unhas de Yeti, ao mesmo tempo que cresceu em efectivo de homens.
E é assim que funciona o tráfego de influências. Dom Caxias vai reformar-se em breve. Aguardo serenamente que escolha o novo Padrinho. Talvez venha a ser eu, o seu mais antigo colaborante. Talvez ele venha a escolher outro… o Stylish, o “Olives” ou até quem sabe o Martelini. Claro que se alguma coisa de mal acontecer a Dom Caxias, sem que a sua vontade seja anteriormente expressa, serei eu o nomeado. E vocês sabem… acidentes acontecem.
FIM

quarta-feira, outubro 26, 2005

O Padrinho – Capítulo 4

Dom Caxias não queria acreditar quando ouviu a nossa versão (devidamente romanceada por Stylish) dos factos. Um tipo sozinho tinha sido suficiente para cinco profissionais! E não tínhamos ficado assim lá muito bem tratados. No entanto Dom Caxias é homem de muitos recursos. A sua mente, talhada para grandes raciocínios e esquemas mirabolantes, já tinha uma espécie de alternativa para fazer frente a Martelini, o Toiro Dourado.
Martelini era viciado no jogo. Não na roleta russa, no jogo de cartas ou no dominó, mas sim nos jogos de computador de Corridas de Automóveis. Era esse o seu ponto fraco. Claro que primeiro teríamos que convencê-lo a aceitar o desafio, enfrentando o nosso campeão numa aposta em que poria em jogo a sua empresa. Quanto ao nosso campeão e a dificuldade em arranjá-lo seria um passo posterior.
Numa carta selada, com aviso de recepção (sim porque nenhum de nós queria estar de novo na presença do Martelini), foi a nossa proposta assinada à mão por Dom Caxias. A resposta foi célere: um ornamento taurino muito bem desenhado numa folha de papel A4 com palavras que antigamente não constavam dos dicionários.
A nossa contra-resposta foi cruel. A ira tomou conta de Dom Caxias e de certa forma de nós também. Martelini ao acordar, na manhã seguinte à sua resposta, tinha uma surpresa deitada a seu lado. A parte superior do seu Joystick, que tinha sido brutalmente cortada do resto do “corpo”, jazia inerte no seu leito ao lado dum urso de peluche de cor lilás. O pânico apoderou-se de Martelini. Finalmente compreendeu que se estava a meter com pessoas de mente perversa, capazes de tudo para atingir determinados objectivos. Decidiu então aceitar o desafio e pôr a sua empresa nas mãos do seu talento para jogar computador.
Recebemos a notícia com alegria e até com certo orgulho. Íamos agora decidir quem seria o campeão a enfrentar o terror das estradas virtuais.
Eu demarquei-me logo, dando a entender que jogos mais complexos que o Tetris não eram para mim. Crazy "Olives" acha que os jogos não são suficientemente cool, portanto também não era a pessoa indicada. Seducer é mais homem das arcadas e dos matrecos. Sparks não iria aguentar a pressão da competição. Jony sabia que Dom Caxias não admitia qualquer jogo viciado. Stylish era homem dos jogos de futebol, perito em bater recordes de golos em apenas 3 minutos (ao que consta o recorde vai em 20 golos!), corridas não eram com ele. O campeão teria que vir de fora, alguém em quem confiar e que poderia bater Martelini.

segunda-feira, outubro 24, 2005

O Padrinho – Capítulo 3

A minha mania de chegar adiantado aos encontros enervava de sobremaneira o resto do grupo. Ali estávamos nós, numa esplanada dum café de Setúbal, aguardando Martelini, que se não chegasse atrasado, estaria lá dentro de 15 minutos. O encontro tinha sido marcado atempadamente por SMS. As modernices estavam a implantar-se na Organização.
Entre pensamentos mais ou menos profundos os 15 minutos voaram e com o seu fim surgiu no horizonte Martelini, acompanhado de três raparigas loiras com ar escandinavo.
Martelini era um tipo com uns trinta anos, alto, entroncado e curiosamente também com ar escandinavo, loiro e de olhos azuis. Mostrou-se sorridente e apresentou-se a si e às suas amigas: A Guita, a Linda e a outra não me lembro do nome (era a menos engraçada diga-se).
Elas estavam muito…descontraídas. Durante as normais trocas de galhardetes, nos chamados preliminares, onde se falou do tempo, do futebol, da situação difícil do país, Martelini, enervado com a atenção que as suas amigas estavam a dar ao nosso grupo, deixou escapar:
- Bem… elas como vieram da Holanda e lá é só loiros estão admiradas com vocês, por isso é que estão assim tão dadas, é que vocês são todos morenos.
- Não pá – Disse-lhe Crazy Charm enquanto cuspia mais um caroço de azeitona – isto é tudo uma questão de estilo… de charme, digamos.
Tentando interromper o inicio duma discussão filosófica iniciei as hostilidades de forma educada:
- Sr. Martelini, queremos propor-lhe um negócio irrecusável em nome de Dom Caxias. Ele vê como relevante a sua entrada no mundo dos negócios das Unhas de Yeti, propondo o seguinte: Em troca de boa-vontade e protecção, Dom Caxias pretende uma sociedade igualitária consigo e com o Jony, numa fusão entre as vossas duas empresas. Que me diz?
A resposta de Martelini não podia ser mais directa. Já havia algum tempo que não via uma representação em carne e osso do Zé-povinho, essa mítica figura criada pelo grande Bordalo Pinheiro.
Numa mistura de sentimentos entre o saudosismo e a calma forçada repliquei:
- Então Martelini não quer reconsiderar?
- Não – Disse-me de forma seca.
A conversa, por estranho que possa parecer, continuou apesar do clima tenso. As holandesas estavam entusiasmadíssimas e faziam perguntas. Jony ainda não tinha aberto a boca. Por um lado tinha recebido indicações de Dom Caxias para assim permanecer, por outro o seu inglês era fraco demais para manter uma conversa com as raparigas. Uma delas, reparando no seu silêncio questionou-o:
- You are so quiet. You don’t speak english?
Denotando uma dificuldade imensa Jony apenas conseguiu dizer:
- Hum… I… hum… just a little “bitch”.
O erro provocou o descalabro. Eu e a rapaziada não nos conseguimos conter e rimos desalmadamente, as raparigas ficaram sérias sem perceber o que se passava, Martelini ficou enfurecido e desatou a descarregar a ira sobre nós. Sparks foi o primeiro a sofrer caindo como uma árvore abatida no chão, “Olives” “desapareceu” de cena rapidamente, eu “fui” à sua procura, Seducer ainda tentou elevar uma das mesas mas já foi tarde, Stylish simulou uma lesão, utilizando a mesma táctica que usa nas peladinhas de fim-de-semana, Jony ainda foi o único a “molhar a sopa” com um pontapé, mas na resposta caiu sobre Sparks, o que lesionou este último ainda mais.
O tipo era danado para a pancada. Para atingirmos os nossos objectivos teríamos que alterar a táctica.

sexta-feira, outubro 21, 2005

O Padrinho – Capítulo 2

A Tasca do Azedini vinha mesmo a calhar. Andar a cavalo cansa. Um repasto de peixe frito com arroz de tomate, regado a vinho tinto era o elixir de que necessitávamos para o retemperamento das forças. Dom Caxias aguardava-nos lá pacientemente. A nossa chegada e a boa-nova que trazíamos, fê-lo transformar-se por momentos numa espécie de vendedor ambulante cigano, tal a gritaria que lhe saiu das entranhas. Dom Caxias estava no seu escritório particular, uma divisão em pladur, situada no logradouro da Tasca. De seguida ordenou que fossemos comer, queria fumar o seu cachimbo em paz, enquanto meditava sobre os negócios.
- Onde estão as minhas azeitonas? Azedini, onde estão a porra das minhas azeitonas? – Perguntou Crazy “Olives” já em desespero.
- Oh meu… passa mas é para cá a vinhaça. – Ordenou Santini Seducer.
- Eu cá quero é água! – Exclamou Angelo Stylish quase ao mesmo tempo.
Ao ver um Azedini totalmente perdido decidi pôr alguma calma na situação:
- Vá lá pessoal… o homem é só um…
- É só um uma merda!!!!! Eu tenho fome! Eu quero comer. – Gritou Benedito Sparks com o seu esbugalhar de olhos tão característico.
É fácil adivinhar que se iniciou uma discussão. As azeitonas do Crazy, que entretanto tinham chegado, serviram para arremesso. Nisto entrou pela porta principal um indivíduo ainda jovem, de estatura média, de estrutura larga. Vinha vestido à motard, trazendo um capacete na mão. Parou no meio da Tasca e sem olhar para nós exclamou:
- Quero falar com Dom Caxias. Alguém sabe onde o posso encontrar?
Reconheci logo aquela voz. Era o Jony. Um velho amigo que tinha saído em tempos da Organização.
- Olha quem é ele! – Disse eu – Sim senhor… já lá vai muito tempo. Que te traz por cá?
- Olha o Talk! – Disse ele sorrindo abertamente. - Pensava que já não estavas por aqui. Ehhh… e os outros cromos todos também ainda aqui estão!!!
Esta última frase, como se pode calcular, não caiu muito bem. Para evitar males maiores levei-o sem perder mais tempo ao encontro de Dom Caxias.
Dom Caxias ficou surpreendido. Não esperava aquela visita. Sentou-o numa cadeira de madeira gasta pelo tempo, em frente da sua secretária. Nós os cinco sentámo-nos onde podíamos para sabermos o que se passava, a fome tinha passado misteriosamente.
Com algum acanhamento Jony lá foi explicando as razões da sua visita:
- Dom Caxias… venho pedir a sua ajuda. O meu negócio na transacção de Unhas de Yeti não anda nada bem. Entrou no mercado um tal de Martelini. O tipo consegue vender o produto a metade do preço, para além de conseguir amolecer as unhas, o que é considerado uma vantagem em qualquer restaurante chinês. Está a roubar-me a clientela toda. Não sei que fazer…
Dom Caxias iniciou então o seu típico ritual: olhou o tecto fazendo uma estranha careta, bateu com o cachimbo na secretária, colocou tabaco no cachimbo acendendo-o com o isqueiro da bic que lhe ofereci no Natal, deu uma passa e começou a cantarolar um antigo êxito dos Modern Talking numa “língua” que apenas ele compreende. É assim que reflecte. É assim que interioriza as questões, que toma as suas sensatas decisões. Calou-se por um momento, fitou Jony com um ar sério e disse:
- Partiste um dia convencido que não precisavas de mim. Eras o maior. Senhor do teu destino. Passados estes anos todos voltas…. e vens ter comigo a pedir ajuda. Que sei eu do negócio de unhas do Bicho Grande das Neves? Em que te poderei ajudar? Eu que sou um humilde homem… que apenas percebo de iscas, vinho tinto e dominó.
- Por favor Dom Caxias… perdoe-me e ajude-me… – Implorou Jony.
Jony sabia o que tinha a fazer. Teria que prestar a devida vassalagem ao Padrinho no ritual secular. Cantando a famosa música “Dom Caxias é bom companheiro”, teve que o transportar ás cavalitas pelo Bairro das Palmeiras durante hora e meia. Depois disso juntou-se a nós na patuscada. Era de novo um dos nossos. O negócio das unhas de Yeti tornara-se agora um mercado alvo da Organização.

quarta-feira, outubro 19, 2005

O Padrinho – Capítulo 1

(A vitória do inquérito foi para “O Padrinho” com 30% dos votos, portanto inicia-se aqui um conto inspirado nessa fantástica trilogia. Mas fica a promessa da sequela da Última Bala e da Guerra das Estrelas (ambas com 23%) para qualquer dia)


O tráfego de influências é um conceito amplamente praticado. Foi na escola primária que comecei a realizar determinadas acções com vista a melhorar a minha qualidade de vida. Os dois “pés esquerdos” que possuo, cedo me transportaram para o banco de “suplentes” do pátio da escola, onde enquanto comia o meu papo-seco com manteiga, via o “Chalana “ escolher a equipa, definir as regras, marcar golos e tornar-se o herói do recreio. Cansado da situação, que se tornava insustentável, comecei a movimentar-me por entre círculos de influência (travando conhecimento com a maltinha da 4ª classe), tendo ainda adquirido uma bola de “catchu”. Ao fim duns meses, mesmo sem saber dar um chuto na bola, era eu quem escolhia as equipas, quem definia as regras e quem tinha os sorrisos das raparigas.
Hoje… à beira dos trinta anos, sou um dos pilares da Organização, chefiada por Dom Josepe Caxias. Muitos boatos correm sobre a Organização, nada do que se diz foi provado. Na realidade a Organização não é mais do que uma troca comercial: “eu apoio-te e tu depois apoias-me a mim”.
Dom Caxias é um homem sereno, jovial, de cabelo castanho ondulado e grosso, bigode à “Artur Jorge Campeão Europeu”, com uns sessenta anos que mais parecem quarenta e cinco.
As suas ordens tinham sido claras: “O Crazy “Olives” tem que ter aquele curso acabado…faz-nos falta. Façam o que for necessário.”
A gastroenterite devida ao consumo excessivo de azeitona tinha provocado a Crazy o chumbo na cadeira final de curso. Foram encetadas várias negociações com o Professor Mendes, regente da cadeira, que saíram infrutíferas. Era altura de pôr fim ás negociações e escrever um “aprovado” na pauta.
Eu, Angelo Stylish, Benedito Sparks, Santini Seducer e o próprio Crazy “Olives” partimos sem demora para uma conversa franca e civilizada com o Professor. O Departamento de Ciências Politicas é um edifício microscópico, escondido entre a cantina e um pequeno pinhal. O gabinete do professor situa-se no primeiro andar. A nossa passagem pelo Campus causara grande pasmo. Definitivamente não estavam habituados a ver cinco homens a cavalo, munidos de lanças, escudos e espadas. Os cavalos relinchavam, estavam inquietos, foi complicado guia-los até ao 1º andar do edifício.
A porta do gabinete encontrava-se fechada. Ouviam-se gargalhadas e reconhecia-se a música dos Pink Floyd. Sem mais hesitações prontifiquei-me a incitar o cavalo a derrubar a porta. Em dois tempos eu e Crazy “Olives” estávamos dentro do gabinete, montados nos cavalos e a minha lança cravada na secretária, furando sem dó nem piedade um livro do Código Da Vinci, enchendo de pavor o Professor e as suas duas assistentes.
Meia hora depois Crazy “Olives” saía da Universidade já Doutor com uma média final de 17 valores.
- Luigi – disse-me Crazy enquanto cuspia um caroço de azeitona – acho que foste um pouco ríspido. Estragaste a leitura ao homem.
- Não pá. – Disse-lhe eu – fiz-lhe um favor. Já está na hora dele começar a ler outro género de livros.
- Dizem-me que este livro tem um assunto bem interessante. – Disse-me Crazy.
- Interessante?! – Interroguei eu – Que interesse pode haver no focinho da Mona Lisa?!

segunda-feira, outubro 17, 2005

O calor prejudica o raciocínio

O Antunes era o cromo quase cliché. Alto, magríssimo, óculos desactualizados, borbulhas na cara, tímido, capacidade intelectual brilhante. Quase cliché e não cliché porque essa capacidade intelectual não era visível nos resultados escolares. Os 10 valores a biologia no décimo ano ficaram a dever-se à média dos 6 testes que se fizeram ao longo do ano. Antunes esteve presente em apenas três!!! Faltou aos outros porque, segundo ele, aqueles já eram suficientes.
Não era um tipo de trato fácil. Nunca em algum momento dos três anos de convívio escolar meteu conversa com quem quer que fosse. Todas as vezes em que se vez ouvir foi em resposta a alguma pergunta.
Ouve porém um dia em que Antunes decidiu causar impacto. Tornar-se o centro das atenções.
Ao chegar à 1ª aula da manhã (atrasado como sempre) era visível o estranho inchaço a que o seu corpo parecia votado, por debaixo da camisa e das calças de ganga. A inquietação na sala de aula durou até ao seu final, momento em que interrogámos o Antunes:
- Então pá. O que é que trazes debaixo da camisa? Parece que vens inchado!
- É surpresa. Mais logo vocês vão ver.
Na altura fiquei perplexo. Não pelo mistério criado mas pelo facto de ouvir duas frases seguidas da boca do Antunes.
Pois bem. E foi no 2º intervalo que veio a grande surpresa. Em pleno pátio da escola despiu a camisa, as calças e os sapatos, ficando em pijama e roupão, que estranhamente trazia vestidos por debaixo da roupa. Sentou-se num banco e sacou do jornal e de uma caneta que tinha na mochila.
- Antunes o que é que estás a fazer? – Perguntei-lhe.
- Estou a acabar as palavras cruzadas. – Respondeu-me ele com um sorriso.
- E para isso tinhas que o fazer de roupão? – Perguntei-lhe de novo.
- Não. Estava era a ficar com calor. Não consigo pensar quando tenho calor.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Glamour i – O Tributo aos i-glamour

Surgiu na senda bloguista uma singela homenagem à nossa banda. Licínio Chispes teve a ideia de criar um Grupo de Cantares Alentejano de Tributo aos i-glamour. Vocês poderão perguntar: mas porque carga de água um tipo criado no Barreiro, que nem sabe distinguir uma pauta de música dum livro de receitas ilustrado, forma um grupo de cantares alentejano? Pois… não sei… o que importa é que me sinto comovido com a ideia e que Chispes tem todo o meu apoio.
Importa referir que já assisti a uma actuação deste singelo grupo. Nomes conhecidos da região como Ti Bezana ou Manel “Espetadas” (estes sim alentejanos de gema) fazem parte do projecto, proporcionando com as suas vozes regadas em vinho do Esporão momentos de puro êxtase em experiências sonoras nunca ouvidas.
Mais do que um tributo aos i-glamour é um tributo ao glamour em si, visível nos coletes cintilantes ou nas pinturas das faces ao estilo dos “Kiss”. É também uma homenagem ao universo punk rockeiro em que a rebeldia do bombo dos Bombeiros Voluntários da Baixa da Banheira e as vozes em uníssono do Grupo de Cantares transportam as melodias para caminhos nunca antes trilhados.
Licínio… obrigado pá.

terça-feira, outubro 11, 2005

O malfadado pau de vassoura do Engenheiro Silva


Entrar no Hospital com um pedaço dum pau de vassoura encravado no ânus é ruim. A cena passar-se num Domingo à noite, que corresponde de certo modo à hora de ponta do serviço de Urgência, é muito mau. O médico de serviço ser o primo direito da ex-mulher é na realidade um azar do caraças.
O que de certa forma ajudou o Engº Silva, foi o facto da história que tinha para contar ser perfeitamente plausível. No gabinete médico juntaram-se duas enfermeiras, os dois bombeiros que o resgataram da sala de estar de sua casa, uma obstetra que mandou interromper um parto, quatro auxiliares e o próprio ex-primo, o médico de serviço. Todos procuravam saber a história que Silva tinha para contar. De forma fluida mas com a dificuldade de quem estava deitado de costas numa marquesa, o Sr. Engenheiro iniciou então os “relatos” daquilo que supostamente lhe tinha sucedido:
“Como qualquer homem divorciado, faço as lides da casa. Gosto de o fazer ao som duma música calminha (a música no link). Devido ao calor que se fazia sentir optei por tratar das coisas sem roupa, ou seja, totalmente nu. Na altura em que varria a sala reparei que uma das lâmpadas do candeeiro de tecto estava fundida. Coloquei a vassoura em pé junto ao sofá. Fui buscar o escadote para mudar a lâmpada. Depois de consumada a mudança e quando descia do escadote tropecei e caí precisamente sobre a vassoura erguida e aconteceu isto…”
Todos pensaram: “Que azar!!!!!!”. Bem… todos não, a seguinte questão veio à mente de uma das enfermeiras: “Se o tipo até nem tem o rabo assado e o pau da vassoura quer-se seco para não escorregar das mãos… para que é aquela vaselina toda?”

segunda-feira, outubro 10, 2005

i-glamour - Vitória esmagadora

Qual a melhor banda de charming punk rock do Mundo?

i-glamour
Votos - 10
Percentagem - 76,9%

Trio Odemira se enveredasse por ai
Votos - 2
Percentagem - 15,4%

Todos menos os i-glamour
Votos - 0
Percentagem - 0,0%

Esse estilo não existe
Votos - 1
Percentagem - 7,7%

Não sei ou não respondo
Votos - 0
Percentagem - 0,0%


E pronto!!! Mais quatro anos de mandato. Os i-glamour prosseguem a sua senda de vitórias com mais uma conquista, mantendo o titulo de maior banda charming punk rock do Globo!!
As estatísticas já assim davam a entender mas a consulta popular levada a cabo nos últimos dias veio confirmar e até superar as melhores expectativas. Maioria absoluta para os i-glamour. Com uma abstenção inexistente (0% de votos em “Não sei ou não respondo”), os grandes derrotados são mais uma vez o Trio Odemira, caso enveredassem pelo charming punk rock. No entanto no seio do grupo denota-se alguma mágoa pela descrença de 7,7 % dos eleitores que afirmam desconhecer a existência do charming punk rock. A esses aconselhamos a leitura assídua deste Blogue ou então que vejam nas páginas amarelas o telefone do Coelhinho da Páscoa e liguem-lhe…ele vai confirmar a nossa tese.
Resta-nos agradecer à população este voto de confiança e prometer que iremos, durante os próximos quatro anos, honrar este título que tão generosamente nos foi agraciado.
Caso nos vejamos de alguma forma envolvidos num assunto do foro judicial, prometemos não abandonar os nossos fãs e voltar a concorrer ao título de maior banda charming punk rock, doa a quem doer…

sexta-feira, outubro 07, 2005

The Love Boat – O Batelão do Amor


“Venha a bordo, estamos à sua espera”. Com esta frase publicitária, “Facadas” Canhoto inicia um projecto de elevado sentido empresarial que combina o turismo fluvial, a hotelaria e o … romantismo.
Com uma visão muito além do seu tempo, recuperou um dos batelões encalhados nos lodos da Praia do Rosário, dando-lhe o nome de Bota do Chispes, em homenagem ao seu velho amigo Licínio Chispes. Jovens atletas do Clube de Remo de Sarilhos Pequenos distribuídos por quatro embarcações puxam e guiam o batelão pelo Mar da Palha no circuito programado com escala nos seguintes 5 pontos turísticos:
- Foz do Coina – as chaminés da Siderurgia Nacional;
- Barra-a-barra – o mistério das fábricas da antiga CUF;
- Cais de Alhos Vedros – o contacto com as gentes;
- Praia do Rosário – os banhos de sol e mar;
- Ilha do Rato – a beleza histórica e natural do enclave;
Estão previstas inúmeras actividades a bordo, como a apresentação de ranchos folclóricos, jogos tradicionais, pesca da tainha e música ao vivo.
A bordo será possível assistir à actuação do Quarteto All 4-1, composto por Tony Crak, Peter the Voice, um piano e uma garrafa de whisky velho. Tony é um Yeti pianista de valor incontestável, Peter é um Peru das Neves cantante de experiência vasta no mundo da música, o piano é branco e com teclas bem grossas ao estilo yetiano, a garrafa permanece sobre o piano e vai sendo “manejada” por Tony ao longo do concerto. Músicas como Loving You, New York ou Love Boat farão parte do reportório que findará assim que a garrafa ficar vazia.
Os jantares serão ao ar livre, ao largo e com a maré-cheia (de forma a evitar os cheiros dos esgotos) e serão cuidadosamente confeccionados pelo Chefe Luís Azedo. Embora a carta seja vasta aconselham-se pipis fritos, caracóis ou pataniscas de bacalhau com arroz de tomate.
Para pernoitar serão montadas tendas de campanha cedidas pelos Escuteiros da Baixa da Serra, utilizadas na grande Reunião de Escutas em 1986. Aconselham-se os interessados a trazerem assadores e geleiras cheias de víveres e bebidas pois os almoços não estão incluídos.
Será o sítio ideal para uma segunda lua-de-mel ou para um simples fim-de-semana a brotar romance por todos os poros.
Bem-vindos a bordo.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Crónicas do Zé Caxias – Hoje são febras de pata negra, amanhã já são costeletas.


O Futebol Português é bastante volátil. A 3ª divisão distrital de Setúbal não foge à regra. O campeonato até nem nos está a correr mal: 5 jogos, duas vitórias morais, duas derrotas incompreensíveis e um empate técnico. No entanto este empate também não nos deu qualquer ponto, uma vez que foi obtido já o árbitro se encontrava no balneário. O “homem do apito” teve que procurar refugio, a meio da 1ª parte, devido às sandes de coirato e às minis que sobrevoavam o pelado do Estádio do Lombo, na Fonte da Prata. Mas a verdade é que os sócios já querem a minha cabeça. Desesperam por resultados.
Eu acho que neste último encontro para a Taça Inter-Tascas demos uma boa resposta: perdemos apenas por 3-0 com a selecção de casados da GNR da Moita. Chegámos a dominar grande parte da partida em que eles apenas marcaram um golo em contra-ataque. Refiro-me aos últimos 10 minutos em que os guardas jogaram com apenas 8 elementos, pois o guarda-redes e os dois avançados tiveram que ir entrar de serviço.
O cargo de Director Técnico que ocupo é bastante absorvente, exige esforço, sangue frio, pulso firme. É impressionante a falta de amor à camisola que por vezes se detecta nos jogadores. “Castanhadas”, o nosso defesa-central mais influente, recebeu uma proposta do Sporting Serrense e veio logo ter comigo exigir melhores condições. Parece que os tipos lhe ofereceram uma trotinete eléctrica para se deslocar aos treinos e dois quilos de Ovomaltine por mês. Isso está para além das nossas possibilidades, a nossa aposta é na formação, temos que controlar as despesas. No fim da época vai-se embora. Por certo outro de igual talento ocupará o seu lugar. Não será difícil encontrar nas nossas camadas jovens um defesa-central que faça culturismo, que seja porteiro de discoteca e que aguente por jogo pelo menos 20/25 minutos em campo.
Bem… a bola é redonda e geralmente começa-se com 11 de cada lado… portanto acreditemos que melhores dias virão.

terça-feira, outubro 04, 2005

O Rapto de Mogodochi – I´m Ready…


Seria complicado descobrir Mogodochi no meio de tanta gente idosa, por certo estaria com roupas ocidentais e o seu ar amadurecido pelos cabelos e barba branca ao estilo Gandalf do Senhor dos Anéis, tornaria a busca difícil.
Talk Talk procurava o Supremo com o olhar, Du Frak bebia um Sucol de Laranja junto ao bar e Crazy Charm dirigiu-se ao D.J. de serviço e pediu:
- Olá… tudo bem? É o seguinte… quero que tires já essa música e metas o Zoo Station dos U2.
- O quê?! – Admirou-se o D.J. – Deves estar a gozar. Os velhos davam em loucos…e o chefe iria pensar que eu estava a dar cabo das colunas.
- Isto não é um pedido, é uma ordem, meu cretino – Disse Crazy Charm de forma ameaçadora sacando da sua espada medieval – Esta espada trespassar-te-á em milésimos de segundo. Faz o que te digo. Agora.
Crazy Charm tinha razões para a exigência. Mogodochi era doido pelo tema, certo dia tinha perdido a compostura em pleno Templo Doirado. Perante centenas de convidados ao som do tema, criou uma dança/ritual única, que por certo iria repetir se se encontrasse na Discoteca e ouvisse de novo a música.
O D.J. colocou então a música. As centenas de pensionistas que procuravam diversão e cura para a espandilose pararam e ficaram sem saber como reagir à batida. De repente um indivíduo aparentando uns 80 anos levanta-se duma cadeira e inicia uma panóplia de movimentos bizarros no centro da pista. Era ele, o Mogodochi. Com o cabelo grisalho cheio de brilhantina e puxado para trás, agarrado por um rabo-de-cavalo e sem a sua barba tradicional estava praticamente irreconhecível. Mas aqueles movimentos eram reveladores. Ágil como um jovem bailarino num misto de break-dance e Thai Chi, Mogodochi estava incontrolável no centro da pista. Talk Talk dirigiu-se ao Grande Mestre e disse respeitosamente:
- Mogodochi, V. Exa. tem que vir connosco. Nós viemos buscá-lo, ninguém pode saber que aqui está.
- Tem calma meu – Respondeu-lhe num português quase sem pronuncia – Relaxa, bebe, diverte-te, amanhã já me vou embora. Não stresses …
Seria impossível levá-lo à força. E depois a promessa de regressar no dia seguinte acalmou os três amigos. Limitaram-se então a fazer o que Mogodochi tinha pedido. Relaxaram, beberam, divertiram-se, beberam…
Pelas 10 da manhã do dia seguinte já Mogodochi sobrevoava o Mediterrâneo a caminho da sua terra natal. Mas algo o deixava pensativo: “O que teria acontecido a Du Frak e aos dois valorosos Guerreiros Niitsumy que o acompanhavam? Só me lembro de vir embora e eles ficaram numa mesa a conversar com aquelas senhoras”.
Longe dali, algures em Cascais, um Crazy Charm ressacado acorda numa cama que fazia lembrar a de um hospital. Olhando para a mesa-de-cabeceira apercebe-se dum enorme arsenal de medicamentos que escondem parcialmente um copo com água. Ao desviar os medicamentos repara que no interior do copo está uma dentadura. Em pânico liga o telemóvel para falar com Talk Talk. No momento em que começa a ligar surge o próprio Talk Talk entrando apressadamente no quarto dizendo:
- Vamos “bazar” daqui Charm!!! Estamos num lar da 3ª idade!!!
FIM