terça-feira, dezembro 30, 2008

A Culinária e o Ténis

- Olha lá “Tók”, porque é que não falas um dia sobre grandes salames no teu blogue. É pá acho que é um assunto interessante e que vai atribuir uma seriedade ao teu blogue que este nunca teve.
- Uau… estou parvo contigo pá.
- Porquê?! Não achas que grandes salames é um bom assunto?!
- Não é isso. Salames são um óptimo assunto…
- Então?!
- Não estava à espera que usasses as palavras “atribuir” e “seriedade” em discurso fluído e logo na mesma frase… nem arrotaste pelo meio nem nada… parabéns!
- Ah deixa-te de merdas… e então vais falar em grandes salames ou não?
- Quer dizer… eu por mim falava em salames grandes e até em salames pequenos… mas eu de culinária percebo pouco!
- Culinária?! Mas o que é que culinária tem a ver com o “Wembleidone” e o “Rolando Garrôs”?!

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Topografia

- Talk, o que é um topógrafo?
- É um tipo que tira cotas.
- Tira cotas?! Mas tira os cotas donde?!
- (…)!

terça-feira, dezembro 23, 2008

sábado, dezembro 20, 2008

quinta-feira, dezembro 04, 2008

quarta-feira, novembro 26, 2008

Porque a bola é redonda… A Táctica

Cada treinador de futebol, perante a matéria humana que possui, as características do adversário, a qualidade do terreno de jogo e a altura da maré, define a melhor táctica possível para tentar levar de vencida a equipa adversária.
É isso que eu faço. Pessoalmente e salvo alguns percalços de última hora (como no caso do burro do Ti’Bezana que pastava no Campo do Brejos junto ao grande círculo) eu gosto de jogar em 4-3-3 em pressão alta, sempre pronto a lançar os contra-ataques baseados no “poder de tiro” do Zé Chico, o nosso trinco. Cada “lasca” do Chico é uma verdadeira bomba secreta e letal. Secreta porque não é acompanhada de qualquer efeito sonoro, dando-se a conhecer apenas quando os seus odores atingem as narinas dos adversários, ou seja, tarde demais para reagir. Letal porque até as ervas daninhas que desabrocham rebeldes, num raio de 40 metros no pelado do Estádio do Lombo desfalecem aquando da descarga.
Por vezes esta táctica transforma-se num 4-2-3. A dose de feijoada à transmontana que é administrada ao Manel, 15 minutos antes do início do jogo, possui outros efeitos secundários, provocando-lhe uma prolongada ida aos balneários, que é como quem diz uma corrida na direcção do monte de entulho, depositado nas salinas ali ao lado.
Mas tenho outros “truques” na manga. Costumo colocar o Shaka a jogar sobre a linha, fazendo marcação serrada ao fiscal de linha que acompanha o nosso ataque. Dessa forma consigo fazer com que o Zé “Brutaganhas” não seja apanhado em fora-de-jogo, apesar das duas canadianas e da lata de cerveja na mão.

Crónica de “Facadas” Canhoto, Treinador de Futebol

terça-feira, novembro 18, 2008

Crónicas do Facadas – Os treinos

Grandes gurus do exercício físico da região têm dissertado opiniões sobre como, quando e onde devem ser ministradas determinadas metodologias de treino.
Betinho Moreira, treinador do Real Banheirense na década de 80, responsável pela manutenção da equipa na 3ª Divisão Distrital durante 5 anos, foi o criador desse grande método do treino físico denominado “O Trolha”.
Betinho tinha uma pequena empresa de construção civil e punha a malta a trabalhar para ele. Ele não pagava ordenados e o pessoal treinava e aprendia uma profissão em simultâneo. Eu fui seu atleta/funcionário mas nunca consegui adaptar-me aos treinos. Acartar baldes de massa e mandar piropos foleiros às moçoilas que passavam não eram a minha especialidade. Ao fim de três meses fui dispensado para o Fonte Pratense e por lá fiquei até ao fim da carreira.
Já como treinador tentei aplicar um método similar mas com uma nova dinâmica: “O Arrumador de Carros”. Consistia em colocar os meus atletas a andar nos parques de estacionamento da região a… arrumar carros, obtendo gorjetas que revertiam obviamente para o treinador.
Certo dia um atleta colocou em causa o método e questionou-me: “Mister… não devíamos fazer antes trabalho de ginásio? Isto de andar a arrumar carros não é coisa para mitras?”.
Apesar da insolência e porque tive pena do rapaz, por ser burro que nem uma porta, respondi-lhe: “Meu trambolho de quatro patas! Como é que queres aguentar noventa minutos de jogo se nem fazes 5 euros numa manhã? Achas que o Flechas consegue baixar dos 16 segundos nos 100 metros à custa de treino de ginásio?! Não fosse o gajo ter que correr atrás dos condutores forretas todas as manhãs e o extremo mais rápido da região ainda era o Bobí, o cão do Ti Rodrigues.”


Escrito por “Facadas” Canhoto, Treinador de Futebol

quarta-feira, novembro 12, 2008

Cantar pelo gargalo

Eu - Porra Crazy Charm, estavas sempre a levar o garrafão aos beiços nos refrões. Isso deu mau aspecto pá!
Crazy Charm - Não vês que foi para dar a sensação de eco aos espectadores.
Eu - Eco?! Não vi diferença nenhuma e depois o garrafão está cheio de vinho!
Crazy Charm - No inicio… agora para o fim já estava vazio! Hic!

quarta-feira, agosto 13, 2008

A música do Talk Talk - The Ramones

Houve alguém que disse: “Olha lá pá… então estás a transformar o blog no quê?! Só tens posto musiquinhas de embalar!”

Pronto… isto tem andando realmente numa senda calminha… vamos lá espevitar isto…

Hey Ho… Let’s Go



segunda-feira, agosto 11, 2008

A 4ª Pena Branca – Capítulo I

Tinham passado muitas luas desde que Pé Grande visitara pela última vez a tenda de Urso Chorão. Voltara a trilhar aqueles caminhos cavalgando apressadamente o seu corcel negro, com receio que caísse a noite e com ela viessem os seres maléficos da floresta para o atormentar, os mosquitos.
A tenda, uma espécie de T3 em duplex, erguia-se numa clareia junto a um pequeno riacho. Pé Grande estranhou a placa que dizia: “Vende-se por bom preço, contacto por "sinais de fumo": 5 bolas de fumo grandes, espaço, 3 bolas de fumo pequenas”.
Penetrou sem grandes cerimónias no interior da tenda. Urso Chorão não se apercebeu da sua chegada. Pé reparou nos fantoches colocados em cada uma das suas mãos. Tinham estranhas parecenças com ele próprio e com outro velho conhecido, o Touro Enfezado. Começou a observar Urso Chorão a brincar com os bonequitos fazendo vozes esganiçadas:
“Olá Urso Chorão… queres vir brincar connosco?” “Anda Urso… vem brincar com os teus amiguinhos como no antigamente”.
Nisto Chorão apercebeu-se que estava a ser observado. Parou, jogou os bonequitos para longe e exclamou:
- Olá Grande Chefe Pé Grande… o que te trás por cá?
- Que é isso? A brincar com bonequitos “mene”?
- Não pá… estás louco?! Is… isto é para uma peça de teatro que ando a ensaiar!
- Ah bom! Olha temos que falar sobre uma situação que surgiu. O Velho Sábio Raspa o Tacho diz que preciso de encontrar uma tal de 4ª Pena Branca para ser aclamado Chefe Supremo da Tribo dos Glamouraches. O problema é que eu nem sei onde estão as outras três penas e como é que eu distingo essas da quarta e/ou vice-versa…é pá… tu que costumas comprar aquelas revistas sobre montes de coisas que não lembram ao diabo… pensei que me pudesses ajudar…
- Eu conheço a lenda das penas. Tens que as encontrar todas e quando encontrares a última entenderás. Vieste ter com a pessoa certa. Vais ter que partir numa viagem e que melhor batedor para te acompanhar do que eu? Sim, eu que conheço estes bosques como a palma das minhas mãos!
- A última vez que disseste isso andámos perdidos três semanas. E isto apenas porque queríamos ir à tenda do Cachimónia Verde… que ficava do outro lado do acampamento…
- Está bem… mas aquilo era um acampamento grande… e a fumaça de cachimbo naqueles tempos era bem forte… batia cá dentro como shots de Tropicais.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Consultório de Psicologia com Doutor James – II

Olá James:
Não sou um tipo bem-parecido. A última vez que ouvi a palavra “lindo” ligada à minha pessoa estava bêbedo e tinha vomitado nos estofes do carro do Zolinha. Disse-me ele: “Lindo serviço que aqui fizeste Zé Tó!”. Conheci uma moça muito gira que se chama Gigi. Acho que ela é tímida. Sempre que lhe digo “olá” ela responde-me “adeus” ou “baza” e até houve uma vez que disse “sai daqui oh monte de esterco”. O que posso fazer para a conquistar?
Z. T. Bodega, Baixa da Banheira


Primeiro quero agradecer-te por nos teres enviado uma foto de corpo inteiro, assim sempre ficamos com uma ideia melhor do que temos pela frente. Aconselho-te no entanto a não combinar o nu integral com meias brancas. A ideia até nem é má de todo, uma vez que as meias desviam um pouco a atenção da lástima que é tudo o resto, no entanto podias ter optado por meias de homem e não meias de senhora.
Quanto à questão que colocas tenho a dizer que… é melhor desistires. Trata-se obviamente de muita areia para a tua camioneta!
Não metas a fasquia tão elevada. Pensa mais de acordo com as tuas possibilidades reais. Que tal convidares uma manequim de loja, daquelas de plástico, para sair? Falam pouco e ao que consta são surdas, o que permite que tu digas os maiores disparates sem que elas se apercebam.
Dr. James

quarta-feira, julho 30, 2008

Consultório de Psicologia com Doctor James – I

Iniciamos aqui mais uma rúbrica. Desta feita teremos o apoio do Doctor James, um conceituado expert em Psicologia das Relações. As cartas que James recebe são aqui publicadas parcialmente, bem como as suas respostas.

Olá Doutor James:
Sou um tipo extremamente sensível. Só de fixar os olhos no luar caiem-me lágrimas… diz-se que as moças não apreciam homens sensíveis… será verdade?
Nuno, Brejos

Não Nuno, isso não é verdade. Ás vezes quando como gelados dóiem-me as gengivas e nenhuma moça me “deu com os penantes” por causa disso. Também já ouvi falar de tipos que são alérgicos a pêssegos, quando os comem a cabeça incha até ficar com a forma dum gigantesco balão de ar. São situações que acontecem.
Nunca tinha conhecido ninguém alérgico à Lua. Já experimentaste andar de óculos-de-sol á noite? Acho que irias parecer um bocado totó mas pronto, sempre é melhor do que começar a lacrimejar em frente das miúdas. Elas ainda iam pensar que tu estavas a chorar e ficavam a achar que eras maricas.
Dr. James

segunda-feira, julho 28, 2008

Manual do Guerreiro Niitsumy – Capítulo Final

- O Guerreiro Niitsumy é másculo. Ri-se perante as adversidades, desinfecta as feridas com aguardente, lava os dentes com Calgon. Se por algum acaso verter água dos olhos é porque bocejou ou porque inadvertidamente arrancou pêlos do nariz.
- O Guerreiro Niitsumy desconhece o sabor do medo. A sua espada é forjada para trespassar seres maléficos como Minotauros, Orcs, Trolls e por vezes baratas que aparentemente têm asas e vagueiam em salas de estar.
- O Guerreiro Niitsumy é uno com o Universo. O Guerreiro Niitsumy não lança comandos de televisão ao ar. A excepção a esta norma acontece quando está a passar o vídeoclip da Sabrina na TV.

sexta-feira, julho 25, 2008

A música do Talk Talk – The Cure

Já foi um blog. Agora passa a ser uma rúbrica aqui no I-Glamour.

Não conhecia esta música até a ouvir ao vivo em Março último… o concerto abriu assim... Plainsong!

quarta-feira, julho 23, 2008

Manual do Guerreiro Niitsumy – Capítulo Terceiro

- Aos Mestres Jedi é permitida a entrada na Ordem dos Guerreiros Niitsumy. No entanto devido ao Processo de Bolonha terão que realizar duas cadeiras de modo a obterem as devidas equivalências. As cadeiras são: “Cabeçadas à Cais do Sodré” e “Comer jaquinzinhos à mão”.
- O Guerreiro Niitsumy sabe que a sua descomunal superioridade física, técnica e intelectual relativamente aos outros resulta dessa fantástica qualidade que possui: a modéstia.
- O Guerreiro Niitsumy não deve tomar café quando bebe álcool. O café tomado após a ingestão de “algumas” imperiais e dois copos de whisky provoca-lhe visão turva, baralhação e um pouco mais tarde náuseas, vómitos e diarreia. Em combate este tipo de sintomas é chato. Em casa, ás 3 da manhã e sem voluntários para lhe fazer um cházinho, também.

segunda-feira, julho 21, 2008

Manual do Guerreiro Niitsumy - Capítulo Segundo

- O Guerreiro Niitsumy deve possuir traquejo no manejo da varinha mágica e deve gostar de bacalhau à Zé do Pipo e de sopa de nabiças passada. Deve ainda ser capaz de arrotar o nome completo sem recorrer a bebidas com gás.
- O Guerreiro Niitsumy, caso se veja na contingência de partir para alguma missão heróica num país distante, deve providenciar um jantar de despedida aos amigos. Durante o jantar e uma vez que nem pode mentir nem revelar a sua identidade secreta deve permanecer amordaçado, não comendo e ingerindo as bebidas pelo nariz.
- O Guerreiro Niitsumy não deve em caso algum andar no engate enquanto está em serviço. Seria extremamente injusto para todos aqueles homens que nunca poderão tentar a sorte vestidos de túnica bege, chapéu bicudo amarelo e botas de borracha lilases.

quinta-feira, julho 17, 2008

Manual do Guerreiro Niitsumy – Capítulo Primeiro

- O Guerreiro Niitsumy deve ser um modelo de virtude e honra. Deve dizer sempre a verdade, não deve, em caso algum, praguejar, falar com a boca cheia de comida e deve ser capaz de permanecer em posição completamente erecta mesmo quando está aflitinho para fazer chichi ou cocó.
- O Guerreiro Niitsumy não deve confraternizar com Yetis de pêlo longo. São bichos extremamente instáveis quando consomem vinho tinto e um coice de Yeti pode pôr fim a uma brilhante carreira.
- O Guerreiro Niitsumy não deve andar armado fora das horas de serviço. Como armas incluem-se sabres, fisgas, palhinhas e talões do Modelo de valor igual ou superior a 100 euros.

sexta-feira, julho 11, 2008

As Histórias do Bolinha III

Há coincidências engraçadas... Parabéns Zé!
O alvoroço criado só poderia significar uma coisa: Bolinha em acção! Rodeado por uma legião de amigos, caminhava calmo (e manco) pelo Campus na direcção da casa-de-banho do Edifício Central. Zé Martelo havia trazido uma espécie de pomada milagrosa com a qual pretendia curar Bolinha da entorse no pé direito. Todos queriam assistir ao milagre.
A casa-de-banho era pequena para albergar tanta gente. Uns empoleirados nas paredes laterais da retrete, outros dentro do próprio cubículo ladeando o “paciente”, outros ainda à porta aguardando novas lá do interior.
O pé do Bolinha estava qualquer coisa de medonho. A cor roxa (acho eu) provocada pela entorse quase chegava ao joelho. No fundo lembrava uma enorme batata-doce com dedos.
Zé, com a delicadeza que o caracteriza, iniciou o tratamento agarrando no chispe do Bolinha como se estivesse a preparar massa de pão.
- Então pá… está tudo bem? – Perguntou enquanto “amassava” o pé do desgraçado.
- Sim… es… está tudo óptimo! – Respondeu o Bolinha com um sorriso forçado nos lábios e uma lágrima no canto do olho.
- Estás a chorar pá?
- Achas?! Ah ah ah… estás louco! Eu lá ia chorar por causa dumas massagenzitas no pé!
A rapaziada estava duplamente impressionada. Por um lado a disformidade horripilante do pé, por outro a acalmia do Bolinha perante a adversidade. Zé não entendeu a ironia nas palavras do Bolinha. Achou que podia ir mais além, que podia esfregar ainda mais aquela espécie de pedúnculo que outrora tinha servido para caminhar e para servir de apoio ao corpo.
As dores começavam a ser mais do que insuportáveis. Bolinha parou a respiração e começou a assobiar. A melodia suave do assobio era duma música antiga que ele tinha ouvido num filme. É então que algo acontece: A rapaziada começou a assobiar a melodia acompanhando o Bolinha. O som foi crescendo e às tantas ecoava estrondosamente no interior da casa-de-banho espalhando-se pelos corredores e salas do Edifício.
E aos poucos a dor lá foi passando…


A melodia era esta...

quinta-feira, julho 03, 2008

Maré-cheia

A uma maré-vazia sucede-se uma maré-cheia. O rio tem os seus ciclos, tal como a vida. É bom ver os lodos cobertos pelo prateado do Tejo, ouvir o chapinhar das tainhas, cheirar a maresia trazida pelos ventos do norte. É para esses momentos que vivo. É neles que me inspiro.
Partir pela manhã na minha herdada barcaça, na subida da maré, indo até à Ilha do Rato, é um ritual que sigo desde que me lembro de existir. Comecei esta romaria com o meu Tio-Avô, o saudoso “Custou” Caxias. A alcunha provém das semelhanças físicas e de hábitos com o velho lobo-do-mar francês. Este meu tio possuía uma cultura impar, alicerçada nas horas passadas a jogar à bisca lambida e ao dominó com outros marinheiros.
Para além de marinheiro e estudioso do mar foi também um grande mecenas, tendo criado a famosa e tantas vezes incompreendida Fundação Caxias.
A Fundação, com sede na Tasca do Azedo, tem a responsabilidade cívica de apoiar jovens com valor, nomeadamente jogadores de dominó, poetas, músicos e todos aqueles que de alguma forma desejem viver da sua arte. Os tipos de apoio variam consoante a qualidade e experiência a nível artístico, podendo ir desde a motivante palmadinha nas costas até à entrega duma bolsa mensal. A bolsa pode alternar entre o azul-bebé, o rosa choque e o preto e tem fecho éclair. Contém várias coisas no seu interior como um isqueiro, canetas Bic (laranja e cristal), um baralho de cartas, dois bilhetes de autocarro dos Colectivos do Barreiro, saquetas de Ultra-levur e um after-shave da loja dos chineses.
Agora vou porque o tempo escoa. A Ilha do Rato espera-me para lá deste mar-chão. Voltarei na descida da maré, isto se o casco não decidir que é hoje que se rende à investida do rio ou se a lendária Ninfa não me raptar, mantendo-me cativo (contra a minha vontade, claro) nos areais da Ilha. Se esta última coisa suceder não se incomodem a pedir ajuda, eu cá me hei-de desenrascar!

sexta-feira, junho 20, 2008

O nosso último Concerto

O soalho de madeira polida que cobria o palco fez-me recordar o início. Era o mesmo tom da madeira dos bancos do barco “Pinhal Novo”, local onde conhecemos o Crazy Charm.
Mais de mil e quinhentas horas cruzando o Tejo, conversando, planeando, sonhando.
“A minha voz é assim uma mistura entre Júlio Iglésias e um martelo pneumático”, disse-nos ele.
Stylish, que na altura já adoptara o estilo invertido, fazendo tudo (incluindo a fala) ao contrário, franziu-lhe a nuca e disse: “Da Fonte da Prata deves ser tu o rouxinol!”.
Era de longe o nosso maior concerto. O armazém do Ti’Bezana tinha sido ampliado. Outrora confinado a quatro paredes e a um telhado em fibrocimento, um acidente com o tractor e o vento forte do último Inverno conferiam agora como limites do espaço a cerca da linha do comboio e o céu estrelado.
Estava lá gente de toda a região. Alguns movidos pela curiosidade de verem ao vivo a "Maior Banda de Charming Punk Rock do Universo". Outros porque tinham ouvido dizer que os I-Glamour eram um grupo de moçoilas apessoadas que faziam um espectáculo ao estilo cabaret francês. Este segundo grupo mostrou-se de alguma forma desiludido quando viu em palco quatro marmanjos de fato de gala e chapéu de cuco, com buço a mais e peito a menos para serem dançarinas francesas. Com a multidão em fúria e dando seguimento ao meu poder de atracção acabei por levar com uma patanisca de bacalhau no sobrolho.
Era o nosso último Concerto… a nossa última música… as nossas últimas frases enquanto animais de palco…

“De manhã na Tasca
A beber um vinho rasca
E a comer um coirato
Que até me soube a pato….

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Grandes ideias! Boa noite… fomos os I-Glamour… foge rápido Talk que os gajos estão a arrancar as cadeiras do chão!”

terça-feira, junho 17, 2008

As Histórias do Bolinha – II



- Não me consigo lembrar da música da Guerra das Estrelas…
- Não?! É fácil pá… então: Tantantan Tan Tantantan Tan… Tan Tan Tan
- Ah pois é! E a do Super-Homem, lembras-te?
- ….
- Então?
- È pá… não! E tu?
- Também não!
O Bolinha raramente usava camisas com botões normais. Preferia usar as de botões de molas. “São mais fáceis de abrir e de fechar!” dizia ele. Naquele dia tinha optado por uma de botões normais. Cruzávamos em passo acelerado o parque de estacionamento na direcção do “tanque de guerra” do Krillin.
Acontece então algo inesperado. De cabelos negros ao vento lá estava ela a sair do carro. Bolinha ao vê-la entra num estado difícil de descrever. Como que possuído por uma estranha força, iniciou então uma demanda que ficou para a história… para a nossa história!
- É pá… pessoal! Já me lembro da música… Tan Tantantantan Tan Tan Tan… – disse ele de forma entusiasmada… demasiadamente entusiasmada.
Nisto, enquanto cantarolava começou a correr na direcção dela. Esquecido da camisa que trazia, tentou abri-la ao estilo do Clark Kent. Os botões da camisa saltaram em todas as direcções, deixando a peitaça do Bolinha ao léu. Correu desalmadamente, correu e correu. À medida que se aproximava e ao ver que ela parara a olhar para ele começou lentamente a regressar a si. Olhou para trás e viu-nos de olhar esbugalhado (e boca aberta) a observá-lo. Acabou por parar, já a poucos metros dela.
- Olá Bolinha! Tudo bem? Que aconteceu à tua camisa? – Perguntou-lhe ela.
- Ah…pois… partiram-se os botões… por causa do Super-Homem!
- Do Super-Homem?!
- Sim… quer dizer… por causa da música do Super-Homem!
- Ah… mas olha que a música que vinhas a cantar era a do Indiana Jones!
- Não era nada! A do Indiana Jones é diferente… começa assim queres ver…
- Espera… não vais entrar na personagem e dar-me com o chicote pois não? – Brincou ela.
- Não… nas meninas não se bate nem com uma flor!

quinta-feira, junho 12, 2008

A Estática do Talk Talk

Quem me conhece sabe que eu não danço. Dirão alguns: “É uma questão de estilo, assim estático no meio da pista o tipo faz lembrar uma espécie de Menir gigantesco… é bestial e as miúdas adoram!”. Dirão outros: “O rapaz nasceu com dois pés esquerdos, por isso é que na escola quando íamos jogar à bola e estávamos em número impar ele não jogava e fazia de vendedor de coiratos”.
Isto são mitos que se vão espalhando, não correspondendo necessariamente à verdade.
A razão pela qual eu não danço, tendo mesmo adquirido o cognome de "o Obelisco da Baixa da Banheira", é outra.
Estávamos nos anos 90. A banda do momento eram os Boca Seca. Lideres do movimento “Granja” nascido e criado no “underground” da Vinha das Pedras. Não era propriamente um som que desse para dançar. Rico em batidas fortes, ganidos e guitarras que se partiam, tratava-se mais dum estilo musical a puxar para a introspecção e procura do sentido da vida.
Como qualquer adolescente da região fui influenciado por aquele som brutal. Certo dia consegui falar com o vocalista, o Smites Babarracho. Não foi fácil compreendê-lo pois era um tipo que se exprimia através do emprego de metáforas e mensagens codificadas, para além de na altura estar a ruminar uma sandes de torresmos ao mesmo tempo que falava.
- Ouve rapazote – disse-me ele exibindo de bocarra aberta um “bolo alimentar” que resultara da mescla de pão, torresmos e saliva – A malta não curte este tipo de cenas “méne”. Não vou aqui armar uma espiga por causa disso… mas não gramei ver-te a ti e a outros panhonhas a dançar ao som das nossas músicas. O Granja é como o Fado, não se dança, sente-se.
Ouvir isto da boca do ídolo, ainda para mais uma boca cheia de comida, é chocante para um miúdo de 14 anos. Tão chocante tão chocante que nunca mais fui capaz de mexer os pés ao som duma música. A não ser que fosse o Moonwalking … mas isso é outra história.

segunda-feira, junho 09, 2008

As Histórias do Bolinha – I

- Os olhos dela são quase pretos… só à luz se nota que são castanhos escuros – Dizia o Bolinha com o sorriso mais parvo do Universo! – E depois a forma dos olhos muda… muda consoante está nervosa ou calma, triste ou alegre…
- A forma?!
- Sim… nunca reparaste?
-…
- Pois… hás-de reparar!
- Está bem, e quando é que falas com ela e lhe dizes isso?
- Isso o quê?!
- Então… o que acabaste de dizer…
- Não sou capaz, não consigo juntar duas palavras seguidas ao pé dela!
O Bolinha era mesmo assim. Um coração enorme escondido dentro duma cápsula de timidez que o impedia de demonstrar o tipo fantástico que era. Excepção feita aos amigos, que tinham a sorte de o conhecer.
- Bolinha… são 13:20. Ela está prestes a passar na marginal. Vá… a gente fica cá em cima a torcer por ti e tu vais lá falar com ela.
- Hã!? Agora?! É pá… isso não pode ficar para amanhã? É que eu hoje tenho que…
- Cala-te e vai! Bora!
Cem íngremes metros separavam o Café Tobias da marginal. Bolinha iniciou a descida pela calçada ainda humedecida pela queda de chuva matinal. Os seus passos eram lentos mas o seu coração disparava a uma velocidade estonteante. Ainda nem a meio ia quando ela surge no seu campo de visão, a cruzar a marginal, junto ao pequeno muro branco que encostava à margem do rio. Bolinha ao vê-la engoliu em seco e estancou o passo.
Se há gajo com ideias rápidas e parvas, esse gajo é o Fred! Ao ver a hesitação do Bolinha correu na sua direcção e enquanto gritava “mexe-me esse cú gordo” deu-lhe um empurrão lançando o pobre rapaz numa descida vertiginosa. Bolinha, incapaz de travar, descambou pela rua abaixo, berrando desesperadamente!
Ela ouviu a algazarra e parou. Ao ver aquela massa de carne anafada aproximar-se a grande velocidade entrou em pânico, no entanto manteve-se imóvel, talvez petrificada pelo susto.
- Desvia-te … desvia-te que eu não tenho travões! – Gritou-lhe o Bolinha.
Nisto ela dá um salto para a frente saindo da trajectória do Bolinha que em grande estilo pula sobre o muro e cai num mergulho de chapa na água, provocando uma onda de proporções inimagináveis.
Duas horas depois estávamos todos sentados no muro a fazer companhia ao Bolinha, esperando que ele secasse para poder entrar no autocarro sem dar nas vistas. Todos menos ela que entretanto tinha ido tratar dos seus afazeres.
- Só a mim… isto só me acontece a mim!
- Calma rapaz, pelo menos ela agora já sabe algumas coisas sobre ti…
- O quê? Que eu não tenho travões? Que eu sou maluco?
- Não pá… que tu não sabes nadar, que tens amigos que te adoram… que a grua dos Bombeiros te consegue elevar…

quinta-feira, maio 29, 2008

Apetite artístico

Eu prezo os artistas. Especialmente os mais genuínos, aqueles que usam boina. Talvez por isso vá aos sítios que eles frequentam para ter a oportunidade de inalar um pouco da sua criatividade e intelectualidade. Tento entrosar-me e aproveito para lançar umas frases previamente elaboradas com a intenção de aos poucos ir entrando no restrito círculo de intelectuais e artistas da região.
No último sábado, numa dessas incursões, fui ao Bar “Cachopa Arrebita!”. Brotava do interior do estabelecimento uma áurea de intelectualidade rochosa que quase me levou ao deslumbramento.
Era uma noite especial. Um tal de Ermelindo Sarrafas recitava uns textos do alto dum palanque instalado no lado oposto ao bar. Acompanhava-o outro indivíduo vestido num estilo “espantalho em campos de trigo” que retirava sons de percussão dum tijolo com um martelo. Do pequeno livro de nome “Bolinhos da Avozinha” o orador, com aquela garra dos declamadores, gritava frases duma beleza feroz como “junta-lhe duzentas e cinquenta gramas de margarina” ou “polvilhar com canela a teu gosto”. Sempre com o rufar do martelo a dar o mote.
O bar estava cheio. O olhar daquela gente brilhava como as estrelas, perdidos em sonhos de contos de fadas… deliciados.
Eu, enleado naquele ambiente, não conseguia entender a profundidade do momento. Sentia apenas uma coisa: uma irresistível vontade de comer um bolinho da Avozinha. Esperei o fim da actuação e dirigi-me ao artista declamador e perguntei:
- Boa noite. E então esses tais bolos de canela são mesmo bons? E são fáceis de fazer? Aconselha-os com um cafezinho ou com chá?
Não obtive resposta. O olhar de reprovação do sujeito trespassou-me como um gume de aço afiado. Virou-me as costas a abanar a cabeça. Fiquei irritado e não resisti a lançar uma farpa em voz alta antes de sair:
- Está bem oh guloso, fica com os bolinhos só para ti! Espero que te engasgues!

segunda-feira, maio 26, 2008

Bebe que isso passa!

“Não há mulheres feias… há é homens que bebem pouco!”. A afirmação do Licínio deixou-me um pouco perplexo. Confuso até. O cheiro a courato assado que empestava a sala também não ajudava a clarificar a mente. A ventilação do local era feita através dum buraco na parede provocado por um disparo de carabina. O velho Manecas, o Camões da Verderena, sempre gostou de praticar o tiro aos pratos nas tardes de Domingo. Ter Parkinson e um olho vesgo são, no entanto, claros entraves à pontaria afinada!
“Mas eu já bebi oito imperiais e continuo a achar que a moça não é propriamente a Miss Alhos Vedros”, respondeu o “Facadas”.
“Pois, bebeste pouco. Para uma tipa daquele “calibre” precisas no mínimo de 15 imperiais!”.
“Bem… eu também não estou aqui para ver mulheres bonitas. A Tasca do Azedo não é sítio para isso… reparem na nova empregada: tem um bigode maior do que o meu!”
“Sim… e esta está ao balcão, imagina as que trabalham no armazém!”
Estava na hora de alguém com um pingo de dignidade intervir. Começava a ficar revoltado com tamanha insensibilidade. Aquelas mulheres, por baixo das carcaças desleixadas, eram seres-humanos com sensibilidade e coração, merecedoras de respeito. Decidi falar.
“Oh senhores não sejam assim, vocês também são uma rica parelha de saguins, feios como uns bodes, e eu estou aqui a conversar convosco e a beber uns copos… quer dizer… beleza não é tudo.”
“Feios?! Achas que somos feios?”
“É pá… bonito é que tu não és!”
“Fogo Talk… então porquê? O que te leva a achar que eu, “Facadas” Canhoto, o Don Juan da Vinha das Pedras, não sou um tipo jeitoso? Vá… diz lá!”
“Não sei explicar “Facadas”… talvez seja dos dentes ao estilo “piano quase sem teclas brancas”, ou então são os pêlos do nariz que recordam toda aquela vegetação da Mata da Machada no início da Primavera, o facto é que há algo em ti que me diz que não serás propriamente um tipo atraente!”
“E eu Talk e eu?!”. Perguntou o Licínio Chispes.
“Bem… não sei o que te dizer…”
“Achas que ainda sou mais feioso que o “Facadas”?!”
“Não… quer dizer, creio que daqui a 6 ou 7 imperiais já não!”

quarta-feira, maio 21, 2008

Chácha Talk

Dois meses passados na Irlanda e finalmente temos o Crazy Charm de volta. O dia-a-dia da maior banda de charming punk rock do Mundo volta assim ao normal. Uma hora depois do combinado, aparece o gajo no café do Zeca com ar de “Não se passa nada”.
- Ena… estou a ver que trouxeste a pontualidade da Irlanda! - Disse-lhe eu.
- Trouxe trouxe… isso e um trevo de quatro folhas para te oferecer… só não achei foi um duende!
- Procuraste bem?! Diz-se que vivem nos campos verdejantes, debaixo das bostas de vaca!
- Pois aí não procurei… bostas é mais o teu pelouro! Vi foi uns tipos muito parecidos contigo pá!
- Ah sim?! Quer dizer que a Irlanda tem gajos giros?
- Não é bem isso… estive numa feira de História Natural, vi umas belas réplicas de hominídeos pré-históricos… isto é, em português que tu percebas, Macacões!
- Pois… disso percebes tu. Não é por acaso que vives numa gruta e comes raízes de árvores e insectos!
- Pois claro… de outra forma seria impossível dar-me contigo… em Roma sê romano, ou melhor, ao pé dum australopiteco sê um australopiteco.
- Sim, australopiteco mas da nobreza. Repara neste ar altivo!
- Sim sim… deves ser o Sir Pitecos!
- É… e tu és um Lorde Magnon!
Alguém na mesa ao lado intervém:
- Bem… vocês tratam-se muito bem!
- Somos como os miúdos – disse eu – Tratamo-nos mal porque somos amigos.
- Ah… está bem! – Respondeu o tipo não muito convencido.
- Não é oh gorila? – voltei à carga.
- É sim… saguim cabeçudo.
- Bem, deixemo-nos disso e vamos falar do que interessa – disse eu – falemos da Banda!
- Da Banda?! É pá isso não… isso é conversa de chácha. Para isso tinha ficado em casa a olhar para uma pintura rupestre e a beber um batido de carocha!

segunda-feira, maio 19, 2008

O fim do Mito – Parte II

Começava a ficar nervoso. A dita prova estava ali em cima da mesa. Um conjunto de folhas A4 presas em argolas com uma capa de plástico de cor alaranjada que dizia: “Guerreiros Niitsumy”. Vinha assinada por um conhecido jornalista de investigação que já tinha desmascarado entre outras a história das pegadas de dinossauro na Praia dos Tesos. Provou-se que Licínio Chispes tinha andado por lá durante uma apanha de lamejinhas. Mais uma vez o tamanho dos pés do Licínio a lançar a confusão.
Comecei a desfolhar o documento e quando dei por mim já estava a bordo duma nave espacial a caminho de Plutão. Tal como a nave do Pete, a minha também não era a Galáctica. Era mais uma espécie de queque gigante, mas em vidro, onde podia olhar tudo à minha volta!
“Então mas os Yetis não existem?!”, perguntei em pânico.
“Não… são ursos polares que viste provavelmente no jardim zoológico”. E de repente vi a Lua a ficar para trás no espelho retrovisor do queque voador.
“E o pardal do Mogodochi que às vezes me fala ao ouvido?!”.
“Imaginação Talk… já pensaste em escrever um livro… ou em ir ao médico?”. Ao olhar para Marte, conclui que afinal não é bem encarnado é mais para o bege.
“Mas… mas e eu já estive lá! Já estive no Tibete… eu, epá eu conheci o Mogodochi!”.
“Tens a certeza? Não estiveste antes na Serra da Estrela? E olha que velhos barbudos vestidos de túnica de seda amarela, com chapéu de cuco e que gostam de fazer sapateado é o que não falta por ai…”. Confirmo, Plutão não é um planeta… é uma bola de ténis, foi pena não me ter lembrado de trazer a raquete.
“Mas… mas eu sou um Guerreiro Niitsumy! Porra… confesso, eu sou um deles… como explicam isto hã?!”
“Ah pois é! Apanhado! Eh eh eh eh eh eh”. Queque de vidro colide com bola de ténis.
“Era isso que nós queríamos… que confessasses que eras um guerreiro Niitsumy! Nós andávamos desconfiados… aquele pardal sempre a poisar no teu ombro… a forma estranha como comes o arroz… tinhas que ser!”, disse o Panchito.
“Oh Pete… já viste isto… apanhado pá! Fogo, eu… apanhado!”.
“Hã!? Epá está calado senão os gambozinos ouvem-te e fogem!”.

quinta-feira, maio 15, 2008

O fim do Mito – Parte I

Pete, o Dartanhã do Petisco, já me tinha avisado: “Olha que os brócolos não combinam com sumo de ananás, costumam dar azia… ou isso ou então ficas num estado tal que tens a sensação que entras numa viagem. Quando deres por ti estás a apanhar gambozinos, pela tardinha, numa lua de Saturno. Eu sei. Eu já lá estive”.
Não sei se foram os brócolos ou se são efeitos retardados daquela couve voadora, que extraviada, me atingiu durante uma performance num concerto do Patanisca Tour, mas a verdade é que nestes últimos tempos dei por mim a viajar para muito longe.
Sempre me considerei um tipo racional. Racional ao ponto de pôr em causa a origem de Mogodochi, líder Supremo dos Guerreiros Niitsumy! Não pensem que foi à primeira que me convenceram que o homem tinha nascido duma semente de girassol! Não. Só depois de confirmar que o “Guerreiro Velhote” está sempre virado de frente para o Astro Rei, é que dei a mão à palmatória e acreditei.
“Vá Talk, só para acalmares senta-te ai e vê isto”. Com estas palavras Panchito deu inicio à histórica derrocada do Mito: Talk Talk o Guru da Percepção!
Seguindo a ordem de Panchito sentei-me ao lado de Pete, o tal que me tinha avisado dos brócolos, que por aquela altura já levantara voo a caminho dum planeta distante.
“Então Pete tudo fixe, o que é que esta rapaziada me vai fazer?”
“Já vez já vez… epá agora não posso dar-te atenção porque vou entrar numa chuva de meteoritos e este calhambeque não é propriamente a nave espacial Galáctica!”
“Comeste brócolos e bebeste sumo de ananás não foi?!”. Não me respondeu.
Panchito também se sentou e disse: “Agora a minha irmã e a Franceska tratam do resto…”
Panchita e Franceska tinham aquele ar de quem era capaz de vender rifas para ajudar os necessitados e até ao mais forreta dos tipos venderiam um bloco inteiro!
“Talk vamos provar-te que os Guerreiros Niitsumy são fruto da tua imaginação, que eles nunca existiram”, disse a Panchita.
“Como?!” respondi eu. “Ah ah ah ah ah ah… ah!”. “ E a seguir provam-me que o Peru das Neves não tem melhor voz que o Júlio Iglésias!”.
“Hum… também pode ser… acreditas mesmo que um Peru consegue cantar?!” Perguntou a Franceska.
Por momentos pensei: “Será que a porra do Peru me mentiu e faz playback?”
(Continua)