sexta-feira, janeiro 20, 2006

Voz Difusa

Foto de António Azevedo


(A Outra Face do Canto Insano)

Cantava eu, num melodioso timbre próprio dos rouxinóis, quando a Besta vem até mim. Qual Minotauro, de olhos vermelhos de raiva, tronco poderoso e mãos grosseiras. Faz-me perder as forças de medo e estatelar-me a seus pés, de joelhos, completamente à sua mercê. Gritei de raiva, de pavor, de ânsia. Então as forças que me restavam escoaram, fazendo-me desfalecer ali mesmo.
Quando volto a mim estou a três metros de altura com as suas mãos pestilentas no meu pescoço. Comecei a rezar em voz alta. A Besta ruge algo imperceptível e eu sou projectado contra o vidro que separa a régie do estúdio. “Mas que raios!!”, pensei eu, “ como é que este animal entrou cá dentro pá?”, “logo agora que isto até estava a correr benzinho!!” Senti vontade de chorar. O gajo estava a destruir o estúdio e de seguida iria por certo destruir-me a mim. Agora é que iam ser elas, acabara-se o sonho de vir a ser uma estrela do charming punk fado.
- Fica quieto – Exclamou ele com uma voz gutural. – E vê se te calas. A tua voz de cana rachada começa a enervar-me. Se me irritas lanço-te um feitiço e deixas de ver, de ouvir, até de pensar. Transformo-te num ser rastejante.
Chorei e ri em simultâneo, tal qual uma mulher da vida. Era irónico!!! A oportunidade ali e aparece um Ser Mitológico, com um belo par de adornos de marfim e estraga-me tudo. A lei de Murphy é lixada.
Fiquei quieto por um momento, ele também. Olhei-o mais atentamente e reparei que me fazia lembrar alguém que conheci em tempos… mas eu não queria acreditar que era ele.
Ordenou-me que me levantasse, que fosse com ele. Fiz ouvidos moucos e fechei os olhos. Então a criatura prendeu-me numa camisa de forças e disse-me para não me mexer, que depois me viria buscar para me levar com ela para os confins do Inferno.
Adormeci. Dormi profundamente e ouvi aquela estranha voz nos meus sonhos.
Acordei de manhã, na rua… no outro lado da cidade, imerso em caixas de papelão, dentro de um outro corpo.
Sim, porque aquele tipo do outro lado do espelho não era o Eu que aprendi a ver.

Outra Voz Difusa…nas Ruas sem Nome

6 comentários:

Francis disse...

Uma perguntita: Conheces os Ramones?
;-)

Talk Talk disse...

Sim Francis... é uma das minhas bandas favoritas. Porque perguntas?

Francis disse...

Pergunto por isso mesmo :-)
Imaginei que os curtisses. Eram uns bacanos muita maucos :-)))
Tenho em casa o CD original daquela gravação ao vivo que fizeram em 1978(?) "It´s alive".
Um grande abraço, amigo!!!

Miguel Baganha disse...

"Existem momentos,em que a paixão
pelo pecado,ou por aquilo a que o mundo chama pecado,domina
de tal modo um temperamento,que cada fibra do corpo, assim
como cada célula do cérebro, parece estar possuída de impulsos
temíveis. Em momentos desses, os homens e as mulheres perdem o
livre-arbítrio. Encaminham-se, como autómatos, para um fim
terrível. É-Lhes retirada a possibilidade de escolha,e a
consciência é morta, ou,se conseguir sobreviver, vive
unicamente para dar sedução à rebeldia e encanto à
desobediência.Pois todos os pecados,como os teólogos não se
cansam de nos lembrar,são pecados da desobediência."

-Gostei do texto,Talk...levou-me a uma reflexão deveras importante para mim.

Um Abraço do Copa!

Mac Adame disse...

Gostei do texto, mas não te esqueças de ir dando informações sobre a próxima Patanisca Tour, ou então mais curiosidades sobre a última.

Anónimo disse...

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