segunda-feira, novembro 14, 2005

O Código 14 – Capítulo II

Apressadamente Pedrito estacionou a sua “pasteleira”, prendendo-a a um sinal de trânsito com um cadeado, junto à Tasca do Azedo. Não era a primeira vez que entrava naquele mítico estabelecimento. Era homem vivido, conhecia a região como a palma de suas mãos. A amizade que mantinha com inúmeras personalidades da terra tinha ganho corpo ali. Talvez por isso achava estranho não se recordar de Nuno Jerico. Quem seria esta personagem que afirmava frequentar a Tasca do Azedo?
Ao entrar na Tasca, sentiu algo no ar que o fez viajar no tempo. Era uma miscelânea de aroma a bafo de álcool, cheiro a fritos e fedor a transpiração. Olhou em redor e não viu ninguém que correspondesse à descrição do anúncio. Sentiu fome. Dirigiu-se ao balcão e disse para o empregado:
- Olá Manel tudo bem!
- Olá Sr. Bodega como está? Já não aqui vinha há muito tempo!
- É verdade. Sabes como é. Olha… quero duas coisas. Para comer quero uns pipis fritos com arroz de tomate acompanhados por vinho tinto da casa. E depois quero uma informação sobre um tal de Nuno Jerico.
- Nuno Jerico?! – Mostrou-se surpreendido.
- Uh… é um jovem que diz que o tratam por Piaçá – lembrou-se Pedrito de acrescentar.
- Ahh… o cromo da juba!!! É pá o tipo deve estar para ai a chegar. Ele vem sempre cá almoçar.
- Ok. Mas porque é que eu não me lembro dele sendo ele um frequentador assíduo?
- Ele começou a vir para cá apenas há alguns meses. Costuma sentar-se numa cadeira ali ao canto. Farta-se de observar as pessoas e de tirar notas para um caderninho. Olhe… até houve um dia que apanhou o Sr. Azedo mais mal disposto e levou um enxerto de porrada.
Ainda mais intrigado, Pedrito sentou-se e aguardou. Entretanto chegou o petisco e começou a comer. Quando já ia a meio do repasto, absorvido por pensamentos é surpreendido por um estrondo que vinha da zona da porta de entrada. Virou-se e contemplou o que se passava. Um rapaz, que não teria mais de 20 anos, de óculos, com o cabelo mais volumosos e grosso que alguma vez tinha visto, estava estatelado no chão. Em redor do corpo inerte, espalhados pela queda, estavam papeis soltos, livros, disquetes, canetas, marcadores, uma bússola, um jornal, duas revistas Gina, dois bonecos de plástico (o Homem Aranha e o Incrível Hulk) e uma pasta de cabedal. De repente o jovem levantou-se atrapalhado e começou a apanhar as coisas colocando-as dentro da pasta e proferindo algumas palavras do género “ai só a mim”, “eu tenho um azar do caraças…chiça”. Após concluir a operação dirigiu-se a Pedrito e identificou-se:
- Olá Sr. Pedrito Bodega, eu sou o Nuno Piaçá.
Pedrito sentiu um calafrio em forma de desilusão. Tinha perante ele o maior cromo que alguma vez tinha visto. A história do enigma seria certamente um engano. Aquele rapaz magro, de sobretudo até aos pés, com um cabelo que contrariava a lei da gravidade, com quase tantas borbulhas na cara como chaparros há no Alentejo, certamente não teria nada de estrondoso para lhe revelar. Tentando disfarçar a desilusão disse:
- Olá Nuno. Então diz-me o que é aquele enigma? Que mistérios se escondem por detrás de tão enigmática frase?
- Ai Sr. Pedrito – Disse Piaçá sem conseguir esconder o entusiasmo. – Esta frase guia-nos ao Graal e a outros mistérios ainda mais profundos. Prepare-se para o que eu lhe vou dizer.

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