segunda-feira, abril 13, 2009

As Histórias do Bolinhas – A Serenata

Esbarrada a minha entrada nos Queijinhos Frescos em 1986 porque “não cantava propriamente como o Marco Paulo”, nunca supus que fosse o Bolinhas a levar-me de novo ao implacável mundo do Showbiz.
- Preciso do teu apoio, se cantar sozinho a voz falha-me com os nervos!
Estranhei a sua escolha. Porquê eu que nem o “Parabéns a você” canto para não fazer murchar a massa dos bolos!?
O plano era um bom plano. O pessoal da Tuna ia fazer a parte instrumental dispondo-se a ir ao restaurante onde a rapariga jantaria com os pais e com o… namorado! Eu e o Bolinhas iríamos ficar numa mesa perto e assim que os músicos chegassem começávamos a cantar. Eu quietinho na mesa, embora de olho em qualquer movimento do namorado, enquanto ele caminharia na direcção dela!
Até estava tudo a correr bem. A nossa mesa era perto do “alvo”, o pessoal da Tuna tinha ligado a dizer que vinha a caminho, a letra da música estava decorada. Mas subitamente tudo mudou. Eu tinha avisado o Bolinhas para os perigos que as ostras, que ele comeu compulsivamente de entrada, trariam ao nosso plano! Mas ninguém se intromete entre Bolinhas e um prato de petisco. Ainda deixou escapar um “aguenta aí as coisas” enquanto corria abruptamente na direcção do W.C..
Eu estava mentalizado para tudo. Para ser corrido pelo gerente, para levar com uma perna de frango assado no focinho ou até para ter que lançar uma cadeira nos cornos do panhônha do namorado.
Mas não estava mentalizado para isto: Para “aguentar aí as coisas”, enquanto o Bolinhas se desfazia em cocó, enterrado numa sanita!
Os tipos da Tuna eram uns gajos porreiros, mas eram… vá… precipitados! Mal subiram a escadaria começaram a tocar a música sem confirmar se o Bolinhas estava preparado ou não. Acho que já nem sabiam quem lhes tinha pedido para irem ali, sabiam apenas que depois da performance havia bebida á borla.
Tinha que pensar rápido. Levantei-me e comecei a cantar. Obviamente não me virei para a mesa da moça. Não queria que ela ficasse confusa. Olhava em frente. E em frente estava a cozinheira ucraniana de sessenta anos e 130 quilos de boca aberta a olhar para mim. Tinha conquistado uma espectadora. Todos os outros me detestavam. No momento em que pressenti que o primeiro caroço de azeitona iria voar na minha direcção surge o Bolinha a correr ao mesmo tempo que tentava abotoar as calças. “You trying now not to show it… Baby!”, gritou/cantou enquanto corria apontando para a mesa da apaixonada. “But Baby… i know it… you lost…” e nisto tropeça numa cadeira e cai estatelado no chão aos pés da rapariga. Caiu mas não se foi abaixo. Cantou o resto da música de joelhos ao pé da amada.
No fim uma salva de palmas do restaurante inteiro! Do panhônha inclusive. Acho que temeu o meu cabedal e o ar alucinado do Bolinhas… ou então achou que os sete malucos com as pandeiretas, guitarras, ferrinhos e garrafas de vodka podiam intervir!
- Obrigado amigo, epá acho que correu mesmo bem – exclamou o Bolinhas entusiasmado enquanto me dava chapadinhas na cara!
- Olha lá pá… chegaste a lavar as mãos?!
- (…)

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