Eu prezo os artistas. Especialmente os mais genuínos, aqueles que usam boina. Talvez por isso vá aos sítios que eles frequentam para ter a oportunidade de inalar um pouco da sua criatividade e intelectualidade. Tento entrosar-me e aproveito para lançar umas frases previamente elaboradas com a intenção de aos poucos ir entrando no restrito círculo de intelectuais e artistas da região.
No último sábado, numa dessas incursões, fui ao Bar “Cachopa Arrebita!”. Brotava do interior do estabelecimento uma áurea de intelectualidade rochosa que quase me levou ao deslumbramento.
Era uma noite especial. Um tal de Ermelindo Sarrafas recitava uns textos do alto dum palanque instalado no lado oposto ao bar. Acompanhava-o outro indivíduo vestido num estilo “espantalho em campos de trigo” que retirava sons de percussão dum tijolo com um martelo. Do pequeno livro de nome “Bolinhos da Avozinha” o orador, com aquela garra dos declamadores, gritava frases duma beleza feroz como “junta-lhe duzentas e cinquenta gramas de margarina” ou “polvilhar com canela a teu gosto”. Sempre com o rufar do martelo a dar o mote.
O bar estava cheio. O olhar daquela gente brilhava como as estrelas, perdidos em sonhos de contos de fadas… deliciados.
Eu, enleado naquele ambiente, não conseguia entender a profundidade do momento. Sentia apenas uma coisa: uma irresistível vontade de comer um bolinho da Avozinha. Esperei o fim da actuação e dirigi-me ao artista declamador e perguntei:
- Boa noite. E então esses tais bolos de canela são mesmo bons? E são fáceis de fazer? Aconselha-os com um cafezinho ou com chá?
Não obtive resposta. O olhar de reprovação do sujeito trespassou-me como um gume de aço afiado. Virou-me as costas a abanar a cabeça. Fiquei irritado e não resisti a lançar uma farpa em voz alta antes de sair:
- Está bem oh guloso, fica com os bolinhos só para ti! Espero que te engasgues!
No último sábado, numa dessas incursões, fui ao Bar “Cachopa Arrebita!”. Brotava do interior do estabelecimento uma áurea de intelectualidade rochosa que quase me levou ao deslumbramento.
Era uma noite especial. Um tal de Ermelindo Sarrafas recitava uns textos do alto dum palanque instalado no lado oposto ao bar. Acompanhava-o outro indivíduo vestido num estilo “espantalho em campos de trigo” que retirava sons de percussão dum tijolo com um martelo. Do pequeno livro de nome “Bolinhos da Avozinha” o orador, com aquela garra dos declamadores, gritava frases duma beleza feroz como “junta-lhe duzentas e cinquenta gramas de margarina” ou “polvilhar com canela a teu gosto”. Sempre com o rufar do martelo a dar o mote.
O bar estava cheio. O olhar daquela gente brilhava como as estrelas, perdidos em sonhos de contos de fadas… deliciados.
Eu, enleado naquele ambiente, não conseguia entender a profundidade do momento. Sentia apenas uma coisa: uma irresistível vontade de comer um bolinho da Avozinha. Esperei o fim da actuação e dirigi-me ao artista declamador e perguntei:
- Boa noite. E então esses tais bolos de canela são mesmo bons? E são fáceis de fazer? Aconselha-os com um cafezinho ou com chá?
Não obtive resposta. O olhar de reprovação do sujeito trespassou-me como um gume de aço afiado. Virou-me as costas a abanar a cabeça. Fiquei irritado e não resisti a lançar uma farpa em voz alta antes de sair:
- Está bem oh guloso, fica com os bolinhos só para ti! Espero que te engasgues!
6 comentários:
Falaste em artistas genuínos dos que usam boine e lembrei-me imediatamente dum senhor que dá pelo nome de Joe Berardo e que é grande especialista em cozinhados :))
Já devias saber que um gajo que usa boina é um génio do pensmento...
Erros pagam-se caro!
:-)))
Um abraço!!!
E eu a pensar que tu gostavas era de bolachas de baunilha!
Ao confundires poesia com culinária, vê-se logo que ainda não inalaste intelectualidade suficiente. Abraço e continua a tentar.
Ora, conta lá o que é que snifaste (inalaste) afinal para queres comer o "bolinho" da avó!
ahahahah
:P
... farinha ;)
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