Andam a cacetear-me o charme. Não nasci para isto. Depois de duas horas duma desmedida espera, vem uma funcionária da Câmara, com um corpinho como se tivesse sido esculpida em bronze por um grande artista dos tempos antigos, dizer-me que o Presidente não me recebe: “O senhor Presidente está numa reunião importantíssima com altos cargos do Estado”. Só visto. Então que individualidades poderia ele estar a receber que não merecessem uma célere interrupção para falar com o Barão da Ilha do Rato? Indisposto, mas lançando o glamour sobre a jovem, de um modo que a deixou à beira do arrebatamento, questionei-a: “Olhe para mim, assim não que se desmaia não a poderei aparar com estas pastas na mão, e diga-me se acha que Zé Caxias, vulto incontornável da política da região, senhor de terras, mestre da arte do Estilo, aceita assim um não?”. Talvez pressionada pelo edil demente, ou porque estava com o período, ou então por preferir berbigão ao grande pepino, a resposta dela foi um seco “Acho”. De lá voltei sem o que queria, vergado a um pesado contratempo que me afasta daquilo que é meu por direito, a Independência da Ilha do Rato.
Para vingar a triste epopeia camarária decidi ir dar um pezinho de dança na Cleópatra, discoteca cá do burgo onde jovens arranjam casamento e idosos fazem fisioterapia através da dança. Foi a loucura. Bebi cerveja como um camelo bebe água após milhares de quilómetros no deserto. Dancei com uma energia tal que se me ligassem uns cabos de média tensão dava para proporcionar electricidade grátis a meio Portugal. Por fim apaguei. Não me recordo de nada mais. Só sei que acordei no dia seguinte em Cascais, num quarto dum lar de luxo, com a misteriosa visão dum copo cheio de água com uma dentadura lá dentro. Apanhei um táxi até ao Terreiro do Paço e depois aproveitei a boleia do meu amigo Albino Calhau até casa.
terça-feira, junho 14, 2005
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1 comentário:
Ó Caxias agora andas a "comer" velhotas pá?
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