quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Os Rústicos – Episódio II

Episódio I


Todas as noites eram noites de festança e naquele dia não seria diferente. As mesas de plástico, dispostas numa clareira na zona sul do acampamento, estavam devidamente enfeitadas, cobertas com toalhas brancas, sobre as quais se dispunham litros de cerveja, pão da Lagoinha, manteigas, caracóis, torresmos, queijo e as indispensáveis pernitas de codornizes. Um barbo com a sua concertina animava a festa com sucessos antigos. Os Rústicos adoravam aquelas músicas!!!
Lacerda, o líder da tribo, estava no entanto alheado de tudo isto. Os seus pensamentos levavam-no até à orla da floresta. Quem seria aquela mulher que os tinha salvo dos soldados? Seria uma musa do Tejo? Uma fada da floresta? E porquê salvá-los?
Após esboçar um sorriso para com os que com ele se sentavam, levantou-se e sem nada dizer partiu sem rumo na direcção do rio. Protegido pela escuridão trazida pela lua nova, era apenas uma sombra caminhando por entre chaparros ao som dos grilos e das cigarras. Sentia um estranho chamamento, era algo de diferente, não apenas aquela vontade de “arrear o calhau” que sempre que comia queijo da Serra o fazia correr veloz na direcção das águas do rio. “Que posso eu fazer”, pensava ele tantas vezes, “Ainda não inventaram as ETAR´s, e um gajo arreá-lo ao pé do acampamento causaria por certo um motim”. Mas hoje era outra coisa. Algo de novo. Em pouco tempo tinha chegado à praia , da qual de dia é possível ver Ratolon, a Ilha Proibida. Ao olhar as águas reparou que estas largaram o estado de letargia em que se encontravam. Sobressaltaram-se criando pequenas ondulações que lhe molharam os pés. “Mas que raios, os catamarans do Montijo não passam a esta hora, outra coisa está a fazer mover as águas!!”, pensou ele. É então que uma luz imensa brotou do rio. A luz aproximava-se dele. Notou deslumbrado que era a jovem em que tinha estado a pensar, coberta por uma áurea imensa, desta vez munida de biquini completo cor-de-rosa.
A jovem sorriu para ele e disse:
- Olá Lacerda, sabes quem eu sou?
- Nã ..não.
- Sou uma Musa do Tejo. E tenho a obrigação de te avisar que já é hora de vocês deixarem de ser um grupo de saltimbancos e tornarem-se verdadeiros rebeldes na luta contra o Amadus… que achas?
- Acho que tem toda a razão – Lacerda ao olhar para aqueles olhos castanhos (e para o resto) jamais conseguiria discordar de qualquer coisa que ela dissesse.

6 comentários:

Francis disse...

É assim com as musas e as sereias. Até as "papar" um gajo concorda com tudo o que dizem :-)))

Miguel Baganha disse...

És único,Talk-Talk...

-Continuo a encontrar semelhanças entre o Lacerda e o Suga,eheheh...

1abraço!

marCOX disse...

gostei dos "litros de cerveja"!

Titá disse...

As coisas que eu tenho aprendido aqui sobre o suga...quer dizer o Lacerda.
Obrigada pelos esclarecimentos.

Mac Adame disse...

Ai, como eu gosto de musas, sejam lá de que rio forem!

Anónimo disse...

Where did you find it? Interesting read »