sexta-feira, junho 30, 2006

Missão: Impossível – 7º Parte

A comissão começava a desconfiar que tudo aquilo não passava duma fraude! Bem montada, mas uma fraude. Mike começava a sentir o cheiro da vitória. Encoberto talvez pelo odor da transpiração do Bodega e pelo amoníaco, mas mesmo assim cheirava-lhe a vitória. Inspirado, decidiu então lançar a sua última arma. Uma pergunta que ninguém estava preparado para responder:
- Bodega, como é que uma Anta, supostamente pré-histórica, depositada sobre material do séc. XX pode ser considerada Património Histórico? Ou será que o Homem pré-histórico sobreviveu até aos dias de hoje e pode ser encontrado neste local?
A risada foi geral. Eu também me ri. Não é que costume rir quando estou nervoso, mas achei que rindo-me contribuiria para que se esquecessem que Pedrito Bodega teria que responder a essa questão. Em vão! Quando acabou a risota toda a gente olhou para o Bodega aguardando uma resposta.
- Bem… eu… quer dizer….ah… bom..
- Pergunta interessante essa – Interveio Stylish, tentando salvar o momento - Ainda bem que perguntou meu caro Benquisto. Questionar faz parte da natureza humana, cada questão insere em si causas e consequências inerentes a algo que me parece pertinente. Blablabla blabla blablablabla blabla blablablabla blabla blablablabla blabla …
O pessoal parecia entretido. Envolvidos pelas palavras de Stylish, ditas de forma pausada, suave e num volume quase imperceptível. No entanto havia algo que os fazia acreditar nelas. Claro que aquilo não iria durar sempre. Talvez três, quatro horas, mas não eternamente. Alguma ideia genial teria que surgir para nos safar desta situação. É então que algo inesperado surge. Vindo da direcção da Anta aproximava-se um hominídeo semi-nu, com apenas uma tanga em tom de pele de tigre. Tinha sem dúvida um ar grotesco. A forma como caminhava era a de um animal selvagem, a pelugem corporal fez-me recordar uma tarde passada no Jardim Zoológico, quando lancei amendoins na direcção da jaula dos orangotangos. Toda a gente pareceu assustada. Apenas eu o estava a reconhecer. Era o Charm! Numa jogada de génio o nosso companheiro de armas parecia virar a peleja a nosso favor.
- Estão a ver!! – gritei eu – Ali está. Ainda há Cro-Magnons no Barreiro!!
- Pois claro que há! – disse um Pedrito Bodega entusiasmado – Aliás, há registos que o indicam, há registos que o indicam!
Todos fugiram a sete pés. A comissão, após este susto, iria concerteza embargar a obra, protegendo esta espécie, que se julgava extinta à milhares de anos!
Eu, Pedrito, Stylish e Seducer aguardávamos o herói do dia. Como ar totalmente desinteressado, Charm chegou até nós.
- Então pessoal, onde foi a malta toda? Desistiram?
- És um maior Charm. Conseguiste pá. Os gajos pensaram que tu eras um Homem das Cavernas e fugiram com cagaço. Foste genial!
- Genial?! Homem das Cavernas? Estás louco pá. Empresta mas é ai as chaves do carro que eu esqueci-me do protector solar. A Lili diz que está a sentir o Sol a queimar. Quer que eu lhe besunte os costados!!


FIM

sexta-feira, junho 23, 2006

Missão: Impossível – 6º Parte

A notícia da Anta, instalada na Bacia intermédia dos Depósitos de Gesso, correu veloz, espalhando-se como uma praga de gafanhotos no deserto.
Nós, grupo Missão Impossível, agora inteligentemente denominado Colectivo Choco Frito XXII, tratámos de enviar para as entidades competentes uma petição a pedir o embargo das obras de Mike Benquisto. Com o apoio técnico de Pedrito Bodega, nosso especialista em História, Arqueologia, Sociologia, Antropologia, Dominólogia e outras artes e ciências, contávamos com o sucesso desta 3ª e ultima parte da operação.
Os cépticos estranhavam o facto de nunca ninguém ter dado pela Anta e, principalmente por estar colocada sobre toneladas de gesso, material ali depositado em Eras muito posteriores à da Anta!!
Uma desmesurada comitiva recebeu a vinda dos homens do Património Nacional. Eles próprio constituíam um numeroso grupo de especialistas em diversas áreas, como arqueólogos, historiadores, psicólogos, advogados, contorcionistas, instaladores de agrafos, etc. Da parte de quem os recebia estava o interessado Benquisto e seus capangas, o Directivo (nós), Pedrito Bodega, políticos da região, curiosos e outras personalidades.
Pedrito vez as honras apresentando o monumento com um breve discurso sobre a importância arqueológica e cultural para a região.
A maioria estava impressionadíssima, mas haviam alguns cépticos. Entre eles Benquisto que bombardeou Bodega com uma série de questões.
- Diga-me lá Sr. Bodega, como é que aparece uma Anta assim da noite para o dia?
- Oh meu caro, ainda você não era nascido e isto já aqui estava! Se calhar você nunca a tinha visto por causa da neblina do rio…
A discussão prosseguia. Entretanto Charm, um impaciente por natureza, reparou na doce assessora que acompanhava a comitiva da Instituição do Património. Troca de olhares e o “charme do Charm” começou a surtir efeito. Em poucos minutos lá se deslocaram eles na direcção da praia ali ao lado.
- Onde é que vais pá? – perguntei-lhe eu com a minha natural falsa serenidade.
- Vou banhar-me ali nas águas, já venho.
- Já vens?! - Eu nem queria acreditar. A missão num momento-chave e aquele gajo decide ir mostrar o “reservatório” de esgoto da região à moçoila!

terça-feira, junho 20, 2006

Missão: Impossível – 5º Parte

Na hora combinada lá estava Chispes com o material solicitado: dois batelões (também conhecidos por “Os chinelos do Chispes”), dois botes de borracha do Jumbo, remos, pomada para os calos, jeropiga, cordas e as duas retro-escavadoras do Mestre Santos.
A brisa trazida pela subida da maré, acompanhada da chegada da noite, fazia da praia do Rosarinho um local inóspito. O objectivo encontrava-se no outro lado do braço de rio, os montes brancos de gesso, protegidos a tardoz pelas chaminés fabris, resultavam numa paisagem única.
A colocação dos calhaus nos batelões revelou-se uma tarefa hercúlea. A tentativa de não dar nas vistas foi quase infrutífera. Valeu-nos a hora ser a da novela, o que fez com que a curiosidade dos populares não fosse revelada.
Rebel remando num bote e Crazy Charm no outro, rumaram sem grandes demoras até aos Depósitos de Gesso. Enquanto isso, eu e Stylish comandava-mos a frota terrestre de duas Retro até ao mesmo local.
Existem duas entradas terrestres para o local. Uma a norte, vigiada pela Segurança das Fábricas, outra a Sul, numa enorme brecha existente no muro, protegida pelos lodos, pelos canaviais e pelas barracas de férias de ilustres figuras da terra. A hipótese dois foi a escolhida. Com o terreno preparado para a passagem das máquinas, lá entrámos nós nos depósitos de gesso.
Os depósitos de gesso ocupam uma área de 10 hectares, possuindo três denominadas bacias, que fazem lembrar arenas. Na bacia intermédia iríamos colocar a Anta. Subindo ao morro nascente da bacia lá vislumbramos os dois batelões, quase a aportar na praia junto a nós.
Passaram cerca de duas horas até o trabalho estar concluído. Bem no centro da bacia, jazia altiva, a única Anta (de pedra) da Margem Sul.
A primeira parte da missão estava cumprida. No dia seguinte era altura de ir aparar as sobrancelhas ao estabelecimento do Toni Barbeiro. Ali, local de divulgação jornalística, lançar-se-ia o boato. Em poucos dias a rapaziada do Património Nacional iria concerteza embargar as obras do Mike Benquisto.

terça-feira, junho 13, 2006

Missão: Impossível – 4º Parte

O tempo escasseava. Cada dia que passava, mais Benquisto se aproximava dos seus objectivos. Tinha obtido autorização para ali, na zona de Depósito de Gessos, rodeado de fábricas, lodos e rio, afastado das zonas populacionais, construir uma Loja dos Trezentos. Uma vergonhosa fachada! Era ridículo demais para ser verdade. Toda a gente sabe que o que está a dar agora são as Lojas dos Chineses, já ninguém vai ás Lojas dos Trezentos portuguesas.
O tipo, um vigarista reconhecido, quer é arranjar uma plataforma para se instalar na vizinha Ilha do Rato, assumindo uma posição estratégica na geopolítica local.
Para evitar-mos tal coisa só nos restava provar que aquilo é uma zona onde nada pode ser construído.
Primeiro pensei em arranjar qualquer “bicheza” assim mais exótica, colocá-la no local e depois dizer que ali é um nicho natural da espécie, que não pode ser destruído. Só depois me lembrei que os bichos mais exóticos não devem aguentar muito tempo com o cheiro do amoníaco. O tempo que demoraria a ir chamar o pessoal do Ambiente dava para extinguir mais de uma dúzia de espécies com as descargas das fábricas.
A solução passaria pela História. Sim… iríamos fazer dos Depósitos de Gesso uma santuário histórico… E para isso nada como uma Anta!!! São fáceis de forjar (basta alguns calhaus gigantes amontoados)… existem às centenas pelo país e têm um peso (histórico e físico) indestrutível.
Alugados três tractores da Cooperativa dos Amoladores de Pedra-pomes do Sul foi tempo de rumar ao Alto Alentejo e ir pedir emprestada a Anta existente na Quinta do primo do Chispes, o Jorge Bagaceira.
Com a promessa de que a devolveríamos antes do Inverno, para que as cabras se protegessem da chuva quando andassem no pastoreio, e com o fornecimento da colecção do cromos do Itália 90, autografada pelo João Raimundo, ponta-de-lança dos Juvenis do Sporting de Alburrica na época, lá conseguimos trazer os calhaus.
Difícil seria agora levá-los até aos Depósitos de Gesso. Mas também é por isso que isto se chama Missão Impossível.

quinta-feira, junho 08, 2006

Missão: Impossível – 3º Parte

Não conhecia o Café do Kalu, situado numa rua escondida da “Nova” Fonte da Prata. No entanto ao entrar pela primeira vez senti que já lá tinha estado. Talvez numa outra vida, ou então durante uma qualquer rambóia esquecida pelos efeitos do álcool e pela escabrosa passagem do tempo. As bandeiras de Angola e de Portugal (com os seus característicos pagodes chineses a fazer de torres), decoravam o suporte da enorme televisão. Um boneco nu, munido dum cachecol do Benfica, a fazer um manguito, instalado sobre o aparelho completava o ramalhete futebolesco.
Pretendia encontrar Charm. Mas o dia era de sorte, para além do Charm também lá estava o Seducer. Eram dois coelhos numa cajadada, ou como diria a minha Anuska, duas lebres num cajado!
Estavam sentados nos bancos junto ao balcão, bebendo cerveja e petiscando umas azeitonas. Charm, nome de código: Xarope Pá Tosse, viu-me pelo espelho e desviou o olhar, nas esperança que eu não o tivesse visto. Seducer, nome de código: O Leiteiro, nem reparou na minha aproximação, entretido que estava a contar os caroços de azeitona.
- Olá pessoal. Como é que é? Tudo bem?
- Ah Talk… tudo fixe? Nem tinha reparado que aqui estavas… - Disse Charm.
- Grande Talk, nunca aqui te tinha visto… - Acrescentou o Seducer.
- Pessoal, vim cá de propósito porque quero que vocês façam parte duma missão…
- Missão?! Fixe, já estava com saudades dessas aventuras. Nunca mais me esqueço da vez em que fomos resgatar a mula da Tia Joaquina ao quintal do Toni Barbeiro…. – Disse entusiasmado o Seducer.
- Não contes comigo – Retorquiu o Charm – I´m out! Já não me meto nessas “cowboyadas”.
- Nem para proteger a Ilha do Rato?
- Proteger do quê? Dos mosquitos e das tainhas? Andas a fumar cascas de tremoço estragadas pá!! Vocês são mas é malucos! Não contes comigo. Esquece. Nada me fará mudar de opinião…
- Nem mesmo este DVD pirata de Os Jovens Heróis de Shaolin?
- Legendado em português? – Perguntou o Charm – É que o mandarim é uma língua difícil de entender…
- Sim sim, claro! – respondi-lhe eu.
- Ok, conta comigo. I´m in.

segunda-feira, junho 05, 2006

Missão: Impossível – 2º Parte

Hoje em dia não é fácil formar uma equipa. Nem para fazer uma jogatana de futebol salão, quanto mais para realizar uma missão ultra-secreta com o intuito de resolver uma tramóia de âmbito internacional, pondo em risco a própria integridade física.
O primeiro objectivo era convencer Stylish, nome de código: Anjo do Amoníaco. Treinado em ambientes agressivos, teórico de piscinas, especialista em missões como infiltrado. Marcámos um encontro no sitio do costume, o campo de basquete. O objectivo era não dar nas vistas, e para isso nada melhor do que conversarmos enquanto lançávamos umas bolas ao cesto.
Estranhei o atraso de 20 minutos. Não era seu costume chegar tão adiantado. Denunciava alguma ansiedade. Vinha, segundo os seus padrões, vestido de forma apropriada para a ocasião. Botas, camisa preta, calções pretos e claro, boné branco e óculos escuros para se proteger do sol.
Após os normais cumprimentos, começámos a conversar e a fazer uns lançamentos.
- Bem Stylish, o Chispes deu-me uma missão. Queria que fizesses parte da equipa.
- Eu já não estou no activo. Não me metas nisso pá.
- Querem destruir o Gesso…
- O quê?
- O Benquisto anda a tramar das suas. Vai fazer daquilo um quartel-general. Já estás a ver para quê não é?
- Para ter um melhor acesso à praia da Barra-a-Barra e fazer uns piqueniques com as moçoilas?
- Não pá. Para atacar a Ilha do Rato!
- Bem Talk… então conta comigo…
Nisto surgiram dois indivíduos no campo de basquete. Vinham munidos dum grande transístor, donde brotava o som dum Rap dos anos 80, desse grande vulto da música, Vanilla Ice. Vinham ambos vestidos à hip hop. Um era o Chico Ice Man, o outro não conheci, mas também tinha ar de ter feito o liceu (tal como o Chico) há já muitos anos.
- Hey Yo!! – Exclamou o Jaquim sempre a rappar– Quero desafiar-vos para um jogo. Até aos 20. Quem ganhar é chefe e senhor deste cubículo, yo.
Não conhecia esta faceta do Chico. Também não sabia que jogava basquete, pelo menos que jogava assim tão mal. Em pouco mais de 15 minutos, eu e o Stylish conquistámos o titulo de “chefes do cúbiculo”.

quinta-feira, junho 01, 2006

Missão: Impossível – 1º Parte

Nunca entendi os devoradores de amendoins, especialmente quando há tremoços para acompanhar a cerveja. O tipo que se encontrava sentado na mesa à minha frente, acompanhado duma telefonia ligada e duma marioneta com a figura do Pinóquio, não parava de devorar aquele fruto seco, ao mesmo tempo que seguia com um olhar arregalado todas as raparigas (e rapazes) que cruzavam a esplanada.
Mas… não era isso que me ali me trazia. Licínio Chispes, nome de código: Patas d´Urso, tinha-me mandado um SMS. Queria falar-me com urgência.
A sua chegada foi tudo menos discreta. Eu estava sentado no meio da esplanada. Licínio veio de norte. Quando entrei em contacto visual com ele, encontrava-se a 20 metros de mim, entre nós haveria cerca de 4 mesas com cadeiras, quase todas vazias. Nenhuma manteve a mesma posição após a sua passagem.
- Boas Talk!
- Olá Chispes. Que se passa?
- Como sabes não podemos falar abertamente. Bebe isto, já vais perceber…
- O que é isso? Alguma nova tecnologia?
- Sim… não, quer dizer… é Pepsi… bebe, vá lá…
- Pepsi?! Mas tu sabes o que me acontece quando bebo Pepsi?!
- Sei. E é mesmo por isso… depois segue os teus instintos…
“Cum catano!!”, pensei enquanto descia velozmente a escadaria de acesso ao W.C. “Vou conseguir… vou conseguir… já estou lá quase… “ pensava eu. Foi por um triz!! Já confortavelmente instalado na sanita e deveras aliviado dei inicio a um processo que me levaria à descoberta de toda aquela tramóia do Chispes. E agora? Qual seria o próximo passo? Ao tentar utilizar o papel higiénico descobri a resposta. O papel, à medida que era desenrolado, continha a seguinte mensagem:
“Bom dia Talk. Sabes o que os Depósitos de Gesso, no Lavradio, bem de frente para a nossa amada Ilha do Rato, representam para nós. Mike Benquisto, conhecido traficante de caricas e rolhas de plástico, tem um plano maquiavélico para a zona. Tenciona fazer da área o seu quartel-general, criando um ponto estratégico para conquistar a Ilha do Rato. A tua missão, caso a aceites, é destruir os seus intentos. Mais uma vez se tu, ou qualquer membro da tua equipa for apanhado, a Agência negará qualquer ligação a vocês. A mensagem destruir-se-á à medida que fores limpando o traseiro. Boa sorte Talk!"