segunda-feira, janeiro 19, 2009

Agente 007 – Parte III

Ninguém gosta de se apanhado em certas situações. Estar de mãos e pés atados (geralmente) não é bom. Se for de cabeça para baixo torna-se mesmo bastante desconfortável. Se se estiver todo nu, num palco, com 6 dançarinas exóticas a chicotear o nosso lombo e uma plateia de boçais a grunhir transforma-se em algo difícil de suportar. Se a música de fundo for o Upside Down da Diana Ross então garanto: estamos na presença da pior experiência de todos os tempos.
Por fim Bifanas achou que a diversão devia sofrer uma pausa e mandou que me desatassem. Caí estatelado de costas no chão. Recebi em seguida um roupão duma das dançarinas que me encaminhou para a mesa do patrão. A água com gás pedida inicialmente lá estava.
Era uma boa hora para fazer contas à vida. Setenta e seis indivíduos prontos a aniquilarem-me, onde o mais meiguinho de todos era um Yeti de 300 quilos ansioso por me quebrar a espinha!
- Bifanas… para quê isto? – Comecei eu – só vim cá conversar…
- Não gosto de tipos com mau perder – disse ele – especialmente se trabalham para os serviços secretos.
- Vá lá… esquece lá isso que eu esqueço esta cena agora… amigos como dantes ok?
- Amigos?! Ah ah ah ah ah ah ah. Só te aproximaste porque querias algo… e é isso que te mantém vivo. Quero saber o que tu queres?
- Epá, eu não estava lá no casino profissionalmente. Apanhaste-me entre dois vícios foi o que foi: As bolachas-baunilha e o dominó!
- Pensas que sou parvo?! Achas que consegui este grande império por não ter cérebro?!
De facto foi aqui que se fez luz. Chamar grande império a 2 casas nocturnas ilegais que se resumem a duas barracas de 20 m2 e ao monopólio da venda de rifas da região era no mínimo exagerado, para não dizer mesmo estúpido. Prossegui:
- Longe de mim meter-me com alguém tão poderoso e influente como tu… olha corria o risco de ainda acabar nu, atado de cabeça para baixo a ser humilhado por moças com os seios à mostra…
- Então mas foi mesmo isso que…
- Está bem – interrompi – O que eu queria dizer é que se me metesse com alguém teria que ser alguém mais pequenino… menos poderoso… tipo o Mestre do Crime!

terça-feira, janeiro 13, 2009

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Agente 007 – Parte II

Podia ter sido pescador de tainhas e andar ao sabor da maré nos mares da Palha, ou então amolador de malhas do chinquilho ou até, quiçá, vendedor de lamejinhas na Praça. Mas não, optei por abraçar a profissão de agente secreto. Tenho seguido este caminho sempre com um sorriso nos lábios… pelo menos seguia até ficar sem dois dentes, ainda durante a formação, quando o chão me fugiu e embati de fronha na quina dum varandim.
Muitos amigos questionam: “Porquê James? Porquê esta vida?”, ao que eu respondo: “É de facto uma profissão de risco mas… dá estilo!”
Ainda de cabeça dorida dirigi-me à nova boáte do Bifanas. Uma barraca em fibrocimento pintada de branco junto ao caminho-de-ferro. Há muito que a Vinha das Pedras clamava por um local assim.
Á chegada deparei com a resistência de dois estranhos seguranças. Uma tipa minúscula e um Yeti de penugem acinzentada com mais de 2,5 m.
- Tu não entras aqui! – Disse a tipa.
- Então porquê? – Perguntei.
- Estás proibido de entrar e se tentares alguma coisa o meu bichano trata de ti – Disse ela olhando orgulhosa para o Yeti.
Com o Yeti podia eu bem, o problema era mesmo a tipa. Imanava um hálito a bagaço misturado com queijo da Serra que estava a causar-me náuseas. Já à beira do vómito exclamei:
- Oh princesinha… deixa-me lá entrar que estou a ficar almareado, preciso de ir à casa de banho!
- Não entras não e não me venhas com falinhas mansas…
- Então vai aqui mesmo à porta…
O Bicho das Neves ao ver-me a tentar contrariar a “dona” alçou da pata direita e tentou desferir um golpe certeiro, mas em simultâneo agachei-me para aliviar as entranhas. O membro do Bicho continuou a trajectória circular sobre mim e acabou por embater em cheio na companheira minorca. Tal qual uma bola de golfe saiu disparada para o interior da boáte ouvindo-se um estrondo brutal. Cinco segundos depois Bifanas e sua trupe estavam à porta para ver o que se passava.
- Tu de novo?! É preciso ter lata… agora é que vais ver como elas te mordem…
- Calma Bifanas… só quero uma águazita com gás para ver se arroto, ok?

(Continua)

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Agente 007 – Parte I

Era um casino como tantos outros. Da pequena cave de 10 metros quadrados oculta num prédio de oito andares imanava um estranho odor. Talvez fosse do ambiente carregado de puro dramatismo ou então eram apenas os sovacos do Roberto Bifanas a produzir suor.
Somente eu e Bifanas permaneciamos em jogo. Quem vencesse limpava a mesa. E ainda era uma mesa razoável: 15 rebuçados de sabor a morango, 7 pastinhas gorila de cores diversas e 1 pacotito de 5 bolachas-baunilha.
Uma peça apenas me separava da vitória. Sentia-me confiante, era caso para isso, já por duas vezes tinha sido campeão regional de Dominó. Bifanas ainda tinha três peças para despachar. Com a vitória quase certa dei um trago no Sumol laranja e esboçando um ligeiro sorriso disse:
- Sabes Bifanas, ainda vais a tempo… desiste agora e as bolachas são tuas…
- Não posso meu caro James, não posso… vou arriscar…
E arriscou. Jogou a peça 6-1. “Amarelei” e fui buscar uma peça ao monte. Bifanas esguichou um risinho estúpido e joga 1-4. "Avermelhei” e fui buscar outra peça. Bifanas soltou uma gargalhada ridícula e jogou 4-4. “Amuei por completo” e pontapeei a mesa que virou sobre Bifanas deixando-o estatelado no chão. Os seguranças do Bifanas saltaram como loucos sobre mim. De forma quase ágil, esquivei-me com estilo, pulando sobre a mesa tombada na direcção da porta. Mas… tanto estilo para nada. Uma cave com 2,00 metros de pé-direito não é o sítio ideal para um calmeirão andar aos pulos. A minha cremalheira embateu contra o tecto da sala. Caí inanimado. Acordei no dia seguinte deitado numa cama do Hospital. Mal abri os olhos ouvi uma voz familiar que me disse de forma doce:
- Olha lá oh minha besta! Que escabeche foi aquele ontem?
- Calma chefe… o Bifanas mais um pouco e vai revelar-me quem é o Mestre do Crime…
- O quê?! Tem juízo James. Ele vai é lambuzar-se com as bolachitas de baunilha que os contribuintes da Ilha do Rato pagaram. E da próxima vez que te ver vai mandar os capangas dele darem-te um sova.
- Não vai nada… ele sabe!
- Sabe o quê?
- Ele sabe de que material é feito aqui o “je”!
- Pois, pelo menos a cabeçorra deve ser de pedra, abriste um buraco na laje!