terça-feira, março 27, 2007

O fim anunciado duma Era.

O tempo não volta para trás. Sim… é uma frase mais gasta do que as partes íntimas duma prostituta de 50 anos a atacar há 30 no Pinhal de Coina. Mas a vida é mesmo assim. É por isso que eu olho sempre em frente, nunca para trás. Também nunca olho para o chão o que juntando ao facto de calçar o 45/46 (e com a ajuda da falta de civismo) vem demonstrar que a relação que tenho com a merda de cão não é simples coincidência. Eu também quase nunca acredito em coincidências. Quase nunca. Mas às vezes elas acontecem. E às vezes não são boas coincidências. Mas o que interessa é continuar a caminhar… convém é ir olhando para o chão, não vá pisar-se uma “mina" de cão ou meter o pé dentro duma sarjeta.
Mas no fundo todos temos memórias e vivemos com elas. Lembro-me de começar a desenvolver a minha aptidão para conseguir o que queria com o menor esforço possível. Sem pedalar, o meu triciclo percorria as ruas da Vila de baixo para cima, de cima para baixo. Também me lembro de começar a desenvolver o lado imaginativo (ou incompreensivelmente estranho se preferirem) nas horas passadas naquela janela a olhar o rio, a Ilha do Rato, os barcos, os aviões militares a aterrar no Montijo, ao mesmo tempo que comia torradinhas ou bolachas baunilha.
Já não cabo num triciclo e duvido que haja alguém de bom senso que me tente puxar num com a ajuda de um cordel, cada vez há menos aviões a aterrar no Montijo, olho o rio e a Ilha do Rato de outros sítios, as (verdadeiras) bolachas baunilha estão a desaparecer, as torradinhas já não têm o mesmo sabor e a machadada final: o último dos meus Velhotes foi-se. Não vou voltar àquela casa nem àquela janela, mas também não vou precisar… há coisas que a memória, até num tipo que anda à procura do telemóvel com ele na mão, teima em guardar.

Para o meu Avô, rijo, torto e com um feitio de meter medo ao susto, no entanto sempre tão bondoso e doce comigo.

quinta-feira, março 15, 2007

As crónicas do Zé Caxias – A minha sobrinha Aurora

A minha sobrinha Aurora vai ficar para tia. O Stylish já o tinha previsto numa leitura de Tarot. Ninguém acreditou quando ele disse que vinha a caminho um novo membro da família, especialmente numa altura em que a mãe da Aurora, a minha irmã Irene Caxias, já contava com quase 50 primaveras. O pai tratou de confirmar a profecia do Stylish. Fugiu com uma francesa de 20 anos que tinha acabado de conhecer no Algarve. Passados 5 meses a jovem dava à luz trigémeos.
O raio da miúda já leva 35 anos e nada de namoricos, pelo menos ainda não me apareceu nenhum “cão” a “verter águas” à porta. Não é que eu queira despachar a moça, ela nem dá trabalho nenhum e ainda ajuda na lida da casa. Mas se ela arranjasse um namorado vinha mesmo a calhar. Sinto necessidade de arranjar outro discípulo para formar nas minhas artes do charme e sedução, especialmente agora que o Talk Talk já está mais que lançado e nem aparece cá para receber conselhos. Acha que já sabe tudo.
Não sei se há algum moçoilo casadoiro nos leitores desde blog se sim deixem que lhes diga que a minha Aurora é moça séria. Por favor, não se deixem intimidar pelo seu olhar de camaleão, nem pela voz aguda a fazer lembrar a sirene dos bombeiros. A tendência que ela tem para lançar perdigotos quando fala também só acontece porque a placa dos dentes lhe está um pouco larga, é que já foi pertença da mãe, que tem uns maxilares ainda mais largos (e tortos) do que a filha. Apareçam e estejam à vontade para lhe fazer a côrte. Não venham é depois das 9, sobretudo se forem sensíveis ao cheiro a Queijo da Serra, é que depois de jantar a Aurora gosta muito de andar descalça pela casa, diz que se sente mais à vontade.

terça-feira, março 13, 2007

Às vezes não há coincidências.

O Jean Cacilhas é um castiço. Massagista do maior clube da associação de futebol de Setúbal, o Fontepratense, coleccionador de caricas da Sumol, criador de caracoleta ibérica e ainda arranja tempo para ser um visionário. Visionário porque inventou uma profissão: Fornecedor de coincidências. Ele inventa coincidências e vende-as a bom preço a quem delas precisar.
Por exemplo: imagine-se que se tem uma apresentação no trabalho daqui por dois dias, não está nada preparado, dava um certo jeito ficar doente para não ter que passar a vergonha de fazer má figura em frente da Administração. Um telefonema ao Jean Cacilhas e ele arranja a forma da pessoa ficar mesmo doente… pimba, e parece mesmo uma coincidência!!!
Certa vez recorri aos préstimos do meu amigo Cacilhas. O que eu pretendia não era fácil… talvez exigisse mesmo mais do que uma grande coincidência, chegava a roçar o milagre. Era necessário criar uma situação em que eu me cruzava numa rua do Barreiro com uma determinada rapariga, tinha que estar a chover, ela não podia trazer guarda-chuva e em simultâneo passava na estrada uma fanfarra dos bombeiros, com cinco tambores, a tocar a banda sonora do Rocky Balboa, ao mesmo tempo que dois aviões da força aérea do Madagáscar desenhavam no céu um enorme coração.
Talvez tenha sido o único fracasso do Jean Cacilhas. A coisa não correu como o esperado. Os bombeiros trouxeram apenas quatro tambores!

sexta-feira, março 09, 2007

É o que dá levar piratas ao Bowling!

Já vos falei do Capitão Migas. Corsário do Tejo, homem de poucas falas, conhecido no submundo das Tascas pelo Esponja do Tinto. Eu, em jeito de respeito, trato-o apenas por… capitão!
Certo dia, reparando no olhar vago e saudosista do capitão decidi convidá-lo para uma jogatana de bowling com a rapaziada. Não é coisa que façamos todos os dias, nem sequer todas as semanas. Acontece. Aconteceu há dias. Um telefonema do Charm desencadeou o processo. Eu, o capitão, o próprio Charm e o Stylish partimos então para uma noite de ramboia, entre cervejas (sumos de maracujá no caso do Stylish) e lançamentos.
A chegada à recepção começou como sempre começa: Hora de gozar com o tamanho dos meus chispes:
- Minha senhora será que para além de sapatos também tem submarinos?! – Perguntou o Charm
- Porquê? – Perguntou ela sorrindo.
- Porque eu calço o 46! – Disse-lhe eu tentando matar ali a brincadeira.
- Ah… isso arranja-se. Nós temos todos os números possíveis. Também o senhor com essa altura tinha mesmo que calçar um número grande, não é? Tem que ser todo grande…
- Pois… – Confirmei eu.
- Mas minha senhora, para mim é que acho que não vai arranjar número, nem que se pinte de roxo – Disse o capitão.
- Há não?! Então porquê? – Perguntou ela.
- Porque eu tenho uma perna de pau!

terça-feira, março 06, 2007

Histórias da adolescência – A miúda chamada Gina

Não há pessoal da minha geração que não se lembre da Gina. Falo-vos obviamente da revista Gina. Quem nunca teve o prazer de desfolhar a revista, pelo menos chegou a ouvir histórias rocambolescas sobre os seus didácticos conteúdos, sobre a qualidade gráfica das imagens, sobre a sua arte linguística.
Mas afinal quem era a Gina? Não sei. Mas em tempos, na escola Secundária, conheci uma miúda com esse nome. Era inevitável o sorriso sempre que a chamava ou ouvia o seu nome. Talvez por isso ela nunca me tenha levado realmente a sério. Talvez por isso aquela pasta carregada de livros me tenha acertado em cheio na mona numa célebre tarde em que, para além do galo com que fiquei, ainda fui a tempo de comer um Donut apanhado por alguém do chão.
Um dia contei-lhe:
- Tens nome de revista… é isso!
- Está bem e depois? Também há a Maria e outras… porque é que implicas só comigo?
- A revista… como é que te hei-de dizer… a revista é… olha não consigo explicar-te só mostrando-te.
- Tens aí alguma Gina contigo?
- Não. Mas o Carlitos costuma andar sempre com uma… espera aí um bocadinho. Oh Carlos pá tens aí alguma Gina?
- Tenho.
- Então empresta ai…
- Não posso.
- Porquê?
- Ainda não plastifiquei todas as páginas. A Gina não é para estragar! Estou farto de ver páginas coladas nas minhas revistas… perde-se a sequência da história é o que é!