segunda-feira, novembro 20, 2006

Comes e calas-te.

Se há uma boa altura para redefinir estratégias, repensar a forma como levamos a vida, como encaramos o dia-a-dia, esta é uma boa altura. Mais que não seja por causa do tronco de árvore, que alguns baptizaram de “braço da Berta”, que transcreve de momento uma perigosa trajectória na direcção da minha tromba.
Pum!
Como é belo o arco-íris visto aqui do chão. Impressiona de tão colorido, ali mesmo sobre o balcão, tapando a água-pé do Poceirão e a cerveja do Glorioso. Sinos? Não. Eu nunca oiço sinos quando levo nos cornos. Eu é mais bombos, ferrinhos e cavaquinhos… nisto de levar porrada sou muito popular.
A Berta tem destas coisas. Acha que pode bater num gajo assim sem mais nem menos. Num homem feito, com barba e tudo! Pois…acha que pode bater e bate. Bate sem dó nem piedade.
E um gajo fica-se. Não por medo, claro, apesar dos 135 quilos de massa gorda serem de certa forma intimidativos. Mas bater numa mulher fica sempre mal. Mesmo quando ela tem uma voz mais grossa que nós, se aguenta em pé após despejar uma garrafa de litro de água ardente nos queixos e não rape os pelos das axilas desde que estes lhe apareceram, para ai aos 7 anos de idade.
E tudo isto porque quis praticar o meu inglês. Porra, mas agora um gajo não pode praticar o inglês? Como é que vai ser depois em Armação de Pêra no Verão?
“In my hands you are a doll!!” Não vejo qualquer mal nesta frase.
“Vai chamar doll ao raio que ta parta, deves pensar que sou alguma Barbie não…”.
Chiça… mulher com mau feitio!

sexta-feira, novembro 17, 2006

O sucesso não me subiu à cabeça – Lição de humildade

Muitos têm sido os felizes comentários. “Ah … o gajo é um grande malaico”, “O rapaz apesar de brutamontes é dum charme hipnótico”, “Caraças… se não fosse o tipo o que seria dos I-Glamour?!”. Frases que sabem bem ser ouvidas. Frases que ficam marcadas na mente e também nos post-its que tenho colados na porta do frigorifico.
Um artista, para atingir o sucesso esplendoroso que eu atingi e conseguir este nível apenas ao alcance dos predestinados, tem que ser humilde. A humildade é o segredo.
Não tenho paciência para aqueles que me delatam. Os tais que dizem que a música dos I-Glamour não é original (ah ah ah… ah), que anda a perder qualidade desde que deixámos de oferecer sandes de coirato nos concertos. São todos uma cambada de parasitas da sociedade, “chulecos” que querem é boa vida, vinho verde a martelo e tremoços da Tasca do Azedo.
Acima de tudo temos que olhar para nós e pensar: sim, não foi só devido ao talento que consegui isto, há que saber dividir os louros do sucesso por todos aqueles que tiveram “olhinho” e me elegeram como ícone do Charming Punk Rock. Sem eles eu não passaria dum genial artista incompreendido. Obrigado rapaziada e fiquem descansados: o sucesso (ainda) não me subiu à cabeça.

quarta-feira, novembro 08, 2006

O tempero especial

Almoçar com o Crazy Charm não é para todos. Nem sequer para alguns. Cabe-me essa honra uma vez por mês, na pizzaria do costume. Hora de encontro: meio-dia e meia, com tolerância de trinta segundos. Marcava o meu relógio as doze e meia em ponto e lá estava ele, ainda à porta da pizzaria mas já a dar início à retirada.
Gritei e ele parou virando-se para mim com ar de poucos amigos.
- Calma Crazy…então, cheguei mesmo à hora.
- Só se for no teu relógio. O meu marca doze e meia e trinta e sete segundos…
- Está adiantado pá.
- Não, o teu é que deve estar atrasado.
- Vá lá pá, vamos sincronizar isto para não voltarmos a ter esta discussão.
- Ok. Vamos entrar então.
A empregada gira e simpática que normalmente nos atendia não estava. Na sua vez um tipo ainda noviço mas com cara de mau.
- Fumadores ou não fumadores?
- Eu sou fumador, ele não – Disse o Crazy Charm.
- Mas vão comer separados?
- Em principio não. Pelo menos tencionamos começar a comer juntos, depois se nos chatearmos somos capazes de requerer uma segunda mesa. Olhe, deixe uma mesa de parte para o que der e vier. – Disse eu.
- Mas afinal vão querer comer na zona de fumadores ou de não fumadores?
- Por mim tanto faz.
- Pode ser na zona de não fumadores, por causa das janelas. – Acrescentou o Crazy Charm.
O tipo guiou-nos até uma mesa encostada a uma parede. Com o restaurante completamente vazio e após a referência do Crazy em relação às janelas isto só podia ser uma provocação. Sentamo-nos, olhamos um para o outro, levantamo-nos de novo e fomos nos instalar numa mesa junto às janelas. Quando veio registar os pedidos o rapaz vinha realmente mal disposto.
- Já sei que vamos ter direito ao tempero especial. – Afiançou o Crazy Charm.
- Tempero especial?
- Sim. O mesmo que o Zé das Farturas aplica no óleo para ver se já está quente.
- Fosga-se!!!! Espero que não estrague as natas da pizza.

segunda-feira, novembro 06, 2006

A história de Rocky – Parte VI

Uns após outros, todos os temíveis adversários foram sendo derrubados. Rocky era, ao fim de três meses, a grande estrela da Margem Sul Boxe Association.
Tal qual erva daninha em plantação de beterrabas, começou a surgir o boato: Rocky Beiças dopava-se. A inveja, a incredibilidade perante tamanha força e a necessidade de Norberto, o maior alcoviteiro do género masculino da zona, aparar as patilhas na barbearia do Treme-treme fizeram crescer o rumor.
Começaram então a surgir artigos orais nos mercados, mercearias e cabeleireiros da região. O “opinion maker” Pedrito Bodega na sua crónica semanal no Jornal da Barra Cheia chegou mesmo a dizer: “Desiludidos e defraudados. É assim que todos nos sentimos. A estrela Beiças é afinal mais um produto das tecnologias farmacêuticas. E nós a pensarmos que aquele ar grosseiro e aquela voz de grunho eram genéticos. Assim também eu tinha sido capaz…”
Tudo isto abalou Rocky Beiças. Ele sabia que era mentira. A única coisa esquisita que tinha tomado era limalhas de ferro. Ao que consta não faziam parte do lote de substâncias proibidas.
Provar a sua inocência tornara-se primordial. Chelas mandou vir os membros da Associação para assuntos de Dopagem e também dois enfermeiros. A ideia era fazer análises ao yeti e assim provar que tudo aquilo tinha sido uma grande cabala.
Assim que Rocky viu as agulhas tremeu de medo. Depois soltou um grito que se ouviu no bairro inteiro. Por fim desatou a correr, para nunca mais ser visto por aquelas paragens.
Chegou assim ao fim a história do maior pugilista de todos os tempos. Imbatível nos ringues, mas derrotado por um boato e pelo medo das agulhas.
Nunca mais voltou a combater. Diz-se que regressado à sua terra natal montou uma escola de pintura em azulejo, que ainda hoje mantém.
No entanto algo de Rocky perdurou por aqui. Ainda hoje, quem entra no Ginásio do Chelas sente o seu cheiro. Suor de yeti quando entranha em soalho de madeira…