sexta-feira, julho 29, 2005

As Crónicas do Zé Caxias – Maré-Alta

Nem sempre a Maré está baixa. É como a vida. É bom ver os lodos cobertos pelo azul do Mar da Palha, ouvir o chapinhar das tainhas, cheirar a maresia trazida pelos ventos do norte. É para esses momentos que vivo. É neles que me inspiro.
Partir pela manhã na minha herdada barcaça, na subida da maré, indo até à Ilha do Rato é um ritual que sigo desde que me lembro de existir. Comecei esta romaria com meu Pai, o saudoso Júlio “Custou” Caxias. A alcunha provém das semelhanças físicas e de hábitos com o velho lobo-do-mar francês. Meu pai era um homem fantástico, com uma cultura alicerçada nas horas passadas a jogar à bisca de nove com outros marinheiros, com um charme natural capaz de amolecer o coração duma estátua de bronze, com um sentido de humor capaz de fazer chorar a rir um calhau da calçada. Para além de marinheiro e estudioso do mar foi também amolador de pedra-pomes, escritor, pintor e ainda teve tempo para criar a Fundação Caxias.
A Fundação, com gabinete no Bar Sedução, tem a responsabilidade cívica de apoiar desportistas (jogadores de dominó, descascadores de ervilhas, jogadores do chinquilho, etc.), poetas, músicos e todos aqueles que de alguma forma desejem viver da sua arte. Os tipos de apoio variam consoante a qualidade e experiência a nível artístico, podendo ir desde a motivante palmadinha nas costas até uma bolsa mensal. A bolsa pode alternar entre o azul-bebé, o amarelo e o preto e tem fecho éclair, podendo conter variadas coisas como uma malha, canetas Bic, um baralho de cartas, uma cassete pirata dos i-glamour ou fantásticos conselhos manuscritos de lendas da região como Licínio Chispes, “Facadas” Canhoto ou Tia Albertina.
Agora vou porque o tempo voa. A Ilha do Rato espera-me. Voltarei na descida da maré.

Manual da Boa Educação

A boa educação é um hábito e aprende-se.
Sendo eu um bom exemplo do expoente máximo de boa educação decidi dar-vos a partir de hoje um curso reconhecido pelo IDIBE (Instituto de desenvolvimento e inspeção da boa educação).


Primeiro "case study":

Um gajo chega aos correios para comprar um selo e depara-se com uma fila que quase chega á porta de saida, o que fazer uma pessoa bem educada que está cheia de pressa?????????

Um gajo bem educado não pergunta ás pesoas que estao á sua frente se lhe dão passagem que ele está com pressa, porque isso iria despertar nas pessoas um sentimento de arrogância do tipo "olha este armado em chico esperto a querer passar á frente da malta, deve julgar-se mais esperto do que o povo". Por isso faz o seguinte: ou flete um pouco as pernas e liberta um volumoso (mas silencioso de preferência) gás do seu interior e esvazia a sala por completo (ter em atenão a potência já que existe a possibilidade de os funcionários desertarem também), ou então se não for possível na altura abre a boca e bafeja vezes sem conta a pessoa que está á sua frente com o seu hálito a peixe podre do tipo "trazeiras da praça da cruz de pau" sem que o cavalheiro(a) que nos precede perceba de onde veio aquele fétido e putrefacto bafio (não estranhar se algumas pessoas verificarem todos os caixotes do lixo á procura de algo morto ou em decomposição).
Em ambos os casos o sucesso é garantido e conseguimos assim o nosoo objectivo sem dar a impressão a ninguem que lhe estamos a faltar ao respeito.
Não percam aqui mesmo os proximos "case study´s" nas próximas semanas.

quinta-feira, julho 28, 2005

Receitas com Chispes – Farófias do Chispes

Finalmente está chegada a hora de falar de culinária. No passado, na tropa, fui cozinheiro, granjeando grande fama entre os meus camaradas. Era com alguma mestria que preparava cozinhados que levavam muito boa gente à loucura. Mas a arte dos doces, das sobremesas, era o que mais me motivava. Preparei doces que chegaram a ser usados em pleno campo de batalha, nas selvas da Guiné. Dizia-se que a minha mousse de chocolate era ideal para limpar as G3 ou em contacto com a água transformava-se numa boa argamassa para construir muros de tijolo.
Hoje pouco cozinho. Limito-me a preparar uns repastos para enganar o estômago ou para conquistar uma moça de vez em quando, é como diz o povo: “pela boca, cai na rede o peixe”.
Todos temos os nossos momentos de inspiração artística, o meu foi as Farófias do Chispes. Embora seja verdade que este doce não é de fácil digestão (houve quem tenha apanhado congestões 2 semanas depois), de se tratar dum produto que não pode ir ao frigorífico (pode se for o único produto nele contido) e de, em caso algum, poder ser ingerido acompanhado por qualquer bebida, é sem duvida uma obra-sobrinha da doçaria lusitana.
Passemos sem mais demoras à Receita:


Ingredientes:
- Açúcar na quantidade suficiente para encher uma mão dum homem adulto;
- Cascas de ovo de Avestruz;
- Maisena na quantidade de duas mãos do mesmo homem;
- 7,5 dl de vinho, marca Carrascão ;
- 1 casca de limão ;
- Cascas de tremoço na quantidade dum pires bem cheiinho;
- Casca de queijo em pó;
- A parte interior (se a encontrarem) das cascas de ovo referidas atrás;


Confecção:
Separam-se as partes mais claras das mais amarelas (se entretanto não estiverem ambas negras) do interior das cascas de ovo. Mexem-se freneticamente as partes claras e quando estiverem bem firmes junta-se o açúcar e as cascas de ovo e de tremoço, continuando a mexer até se obter uma mistela bem espessa e seca. Entretanto, leva-se o vinho ao lume com a casca de limão. Quando ferver, reduz-se o calor para manter apenas uma fervura suave. Deitam-se dentro colheradas da mistela de ovo, cascas e açúcar. Deixam-se cozer rapidamente, voltando-as. Retiram-se as farófias com uma escumadeira e colocam-se num passador para escorrer. O vinho que vai escorrendo das farófias junta-se ao do tacho. Depois dispõem-se no prato ou travessa de serviço, fundos. Deixa-se arrefecer o vinho em que as farófias cozeram e adiciona-se a maisena desfeita num pouco de vinho e as partes amarelas dos ditos ovos de Avestruz. Leva-se ao lume, mexendo sem parar para cozer e engrossar. Rectifica-se o açúcar se for necessário. Cobrem-se as farófias com o molho e polvilham-se com a casca de queijo. Servem-se mornas e a seco. Bom Apetite.

quarta-feira, julho 27, 2005

As Caxíadas - Canto I (De Zé Caxias, Barão da Ilha do Rato)

O grande Fred Caxias estava preparado
Quando da dos Tesos decidiu zarpar
Pelo Mar da Palha nunca antes navegado
Para lá da praia da Barra a Barra foi parar
E em ventos e gases de fábrica empenhado
A então lendária Ilha do Rato o viu chegar
E logo ai, um belo Reino, Fred edificou
Como foi grande este meu nobre avô

E também as memorias glorificantes
De todos os meus outros ascendentes Caxias
Das alcagoitas e dos tremoços viciantes
Devorados nas tabernas todos os dias
E também os jogos de dominó alucinantes
Que libertam a dor, dando tantas alegrias
E o belo xarope, vinho puro carrascão
Servido com azeitona e coirato no pão

Oh meus nobres senhores do passado
Que ao divino apelo disseram presente
Nas tascas e ruelas onde se canta o fado
Desgarradas e versos que encantam a gente
Ou então no terrível Mar da Palha enlodado
Lutando por uma Ilha do Rato independente
Caçando conquilha, apanhando Alga Mutante
Dançando na Cleópatra em charme constante

terça-feira, julho 26, 2005

Mr. Stylish – Baterista e Cavalheiro

Muitos apregoam o seu cavalheirismo. Poucos têm a perfeita noção do que isso significa. Raros são aqueles que se regem por tais princípios. Mr. Stylish é um incomum exemplar dessa estirpe, seguindo um milenar código de conduta à letra, transpirando a arte da honra e da etiqueta por todos os poros. Para cada gesto, cada palavra, cada movimento, Stylish utiliza uma sucessão de acções planeadas que se aplicam ao pormenor a cada situação.
O ainda petiz Stylish, durante a loucura da Pop dos anos 80, ouvindo músicas como Crazy in the Night de Kim Carnes, Boys Boys Boys da Sabrina, ou o generico da Galáctica, motivado pela ideia de que parte do cavalheirismo se baseia na originalidade de quem o pratica, decidiu iniciar algo de extraordinário. A partir de dado momento todos os seus actos, como andar, correr, jogar ao cubo mágico, mascar pastilhas Gorila, jogar ao Paradise Café no Spectrum, tirar fotografias, comer bolachas baunilha avulso, tomaram uma nova “face”, um novo método. Seriam feitos de costas. Por esse motivo a cara de Stylish permanece desconhecida por todos, ainda para mais, sendo ele um cavalheiro, nunca vira as costas a ninguém e as costas dele são, na realidade… a sua parte da frente.
Nos i-glamour tornou-se uma imagem de marca. As fãs deliciam-se com o efeito mistério que provoca, os mais distraídos julgam que nós (os outros membros da banda) o andamos a praxar.
Mas a arte de Mr. Stylish a nível de comportamento social não fica por aqui. O cavalheirismo não se esgota nesta criativa forma de estar. A sua inovadora forma de comer pastéis de nata, a classe que transporta ao mastigar um pão com manteiga ao mesmo tempo que atende o telemóvel e faz o pino, a forma suave com que agride verbalmente os outros condutores no trânsito, são exemplos de que Stylish é um Cavalheiro.

domingo, julho 24, 2005

“Kamacharme, por Crazy Charm”

Inicio hoje um curso online sobre o sexo: “Kamacharme, por Crazy Charm”. Embora seja um curso sobre sexo, é preciso considerar que o curso reinventa a arte e os modos da prática sexual corrente. Trata-se de um meltingpot de sensações atingindo e abrangendo todos os sentidos: o tacto, a visão, o paladar e o olfacto. Levando a alma e o corpo a atingir estágios nirvánico-orgásmicos.

Lição nº1: Prolongar o clima

Após fazer o amor, os parceiros que se preocupam genuinamente um com o outro desejarão prolongar a intimidade que só o amor traz, ficando próximos, emocional e fisicamente. É uma óptima altura para a mulher cortar as unhacas dos pés do seu parceiro enquanto este puxa de um cigarro e se põe a cantarolar a "Casa da Mariquinhas". É importante que os parceiros discutam o que mais apreciam acerca do seu relacionamento sexual, e se sentirem livres para dizerem um ao outro se existe algo que gostariam de mudar na maneira de fazer o amor. Por exemplo: “Óh filha isto foi bom, mas para a próxima lava a passarinha, porquê cheiras a sandes de coirato”. É frequente um casal querer repetir a dose, nesse caso, e se a mulher ainda tiver forças para continuar a lavoura, deve masturbar o parceiro para provocar nova erecção. Se os parceiros não pretendem retomar o acto, mas a mulher não conseguiu um clímax satisfatório, então é porque o homem não leu o Kamacharme.

Ajudando-a atingir o orgasmo

Se a sua parceira não atingiu pelo menos por 25 vezes o clímax durante o acto sexual, ou se deseja ter mais orgasmos, mas um gajo ainda não está pronto para fazer o amor de novo, ou seja, está na pausa dos 5 minutos para uma imperial, ajude-a usando os seus dedos para estimular o clitóris, passando-os delicadamente pelas laterais e pela ponta.

sexta-feira, julho 22, 2005

Para ti Marrrrluce

A pedido da nossa(o)????? doce Marrrrluce aqui vai um poema do melhor que já se viu em toda a nossa galáxia, pois melhor do que isto só "Finrod Felagund" fez no inicio do povoamento da Terra Média.

Marrrrluce é o teu nome,
de onde vens ninguem sabe,
queres ser a nossa number one,
mas só podes contar com a nossa amizade.

Marrrrluce estás muito carente,
para onde vais ninguem sabe,
gostas muito da nossa gente,
que até nem parece verdade.

As dicas de Pedrito Bodega – As Caxiadas


Em boa hora Crazy Charm referiu, na sua ultima crónica, uma obra de invulgar rigor histórico-mitico escrita pela mão de Zé Caxias, Barão da Ilha do Rato. Refiro-me claro a “As Caxiadas”, obra cujo original se encontra arquivado na Torre do Lombo. Segundo informações obtidas em tascas e barbearias de prestígio, a Editora Livros Pastilha publicou cerca de 17/18 exemplares da obra, todos únicos, uma vez que todos eles foram escritas à máquina, servindo cada novo exemplar de modelo para o seguinte, e o dactilógrafo de serviço, “Facadas” Canhoto, gosta de colocar um cunho pessoal naquilo que vai copiando na sua máquina de escrever.
Mas afinal que retrata esta obra estrondosa? Que chamamentos de memoria ela reproduz?
“As Caxiadas” retratam de forma apaixonada a história de família Caxias, desde a Descoberta da Ilha do Rato por Frederico da Silva (Fred Caxias) até ao seu descendente e autor da obra Zé Caxias. É de certa forma peculiar o modo com Zé explica o facto do seu tetravô, procurando descobrir o caminho Marítimo para a Moita, desembarcou em plena Ilha do Rato, aproveitando para reabastecimento de água e víveres.
Deixo-vos agora com o início desta epopeia familiar:

O grande Fred Caxias estava preparado
Quando da dos Tesos decidiu zarpar
Pelo Mar da Palha nunca antes navegado
Para lá da praia da Barra a Barra foi parar
E em ventos e gases de fábrica empenhado
A então lendária Ilha do Rato o viu chegar
E logo ai, um belo Reino, Fred edificou
Como foi grande este meu nobre avô

terça-feira, julho 19, 2005

As crónicas de Zé Caxias - O fim do Defeso

A época futebolística está aí. É com incontida alegria que torno pública a informação de que este ano serei o novo Director Técnico para o futebol, do meu muito querido Fonte Pratense Futebol e Chinquilho. O presidente do Clube, Vargas Canhoto, escolheu-me para este difícil cargo, depositando em mim as esperanças da subida à 2ª Divisão Distrital. Para isso e como primeiro acto de gestão, contratei “Facadas” Canhoto para treinador. Era lógica a escolha, trata-se dum homem que conhece os meandros do futebol, que trata a bola por tu, um comandante natural de homens, mestre em estratégia futebolística, mas principalmente porque foi um pedido do tio Presidente.
Este ano exige-se profissionalismo, não haverá mais patuscadas no campo a meio da 2ª parte, não permitirei que cães alinhem no 11 inicial, pelo menos sem sapatilhas apropriadas, acabaram-se as sandes de coiratos e a cerveja distribuídas aos jogadores no intervalo e durante as assistências aos lesionados. A Disciplina será atroz. Os jogadores sabem-no.
Outra grande novidade a revelar projectar-nos-á um futuro risonho. Vargas Canhoto e Manel Espetadas, dos Talhos Torre do Lombo, assinaram um acordo pelo qual o nosso campo de jogos, conhecido pelo Campo da Fonte da Prata, passará a chamar-se Estádio do Lombo. A contrapartida a nosso favor será dois quilos de tubaros de porco por mês e no final da época uma churrascada para atletas e staff técnico.

segunda-feira, julho 18, 2005

A Torre do Lombo

O talho do Manel Espetadas, situado na Baixa da Bannheira, mais conhecido por Torre do Lombo, é um organismo público de âmbito regional, tutelado pelo Ministério da Cultura da Ilha do Rato e pela Associação de Amigos da Carne de Perú, dotado de personalidade jurídica, património próprio (para além do estabelecimento cientifco-comercial, o talho é detentor de 2 bancadas de venda de verduras na Praça do Pinhal Novo e de uma Oficina de Amoladores de Pedra Pomes na freguesia do Gaio-Rosário) e autonomia administrativa.

Exerce simultaneamente funções de Arquivo Histórico, tutela directa sobre arquivos, na medida em que integra o Arquivo Regional do Mar da Palha, e ainda a Biblioteca Pública da Região das Arroteias e Bairro Francisco Pires.

Exerce funções de superintendência técnica e normativa sobre todo o sector dos talhos do concelho, coordenação da Rede Regional de Arquivos, bem como funções de execução da política arquivística definida pelo Ti’Bezana (inventor do código de identificação 12º, mais conhecido por VMC - Vinho a Martelo Code – que estipula o modo como os documentos estão organizados segundo as dez grandes escalas de carraspanha do prório Ti’Bezana) a quem pode aconselhar na matéria.

É também neste local de culto, onde o cheiro a presunto de porco preto, criado nas verdejantes pastagens do quintal do Manel Espetadas, se mistura com o cheiro a papel, da mais famosa obra literária da margem sul do Tejo, as "Caxiadas", do grande Zé Caxias.

Outras obras de referência que se podem encontrar, repousam junto à arca frigorifica dos miúdos de frango, entre elas, as famosas "Odes da Scovia" da autoria do Poeta do século XIX Camilo VensseMuto e de origem mais recente "Os Sonetos da Punheta" do pensador, artista plástico, narrador de filmes mudos, Tó PocaMêta.

Para além das já referidas obras emblemáticas, podem encontra-se uma panóplia de temas do mais profundo conhecimento, das quais se destaca a maior colecção de volumes de literatura de roulotte, a grande fonte de inspiração dos romancistas e poetas do Mar da Palha.

sexta-feira, julho 15, 2005

A Floresta da Fonte das Ratas


A floresta da Fonte das Ratas já não existe. Com lágrima no canto do olho escrevo esta crónica. Hoje aquelas dezenas de hectares, onde no passado místicas histórias de fadas, de duendes e de gambozinos à solta nos enchiam o imaginário, são hoje um amontoado de prédios. Eu não diria que os prédios são feios, ou que fiquem mal onde estão, até porque eu sou grande fã de paralelepípedos gigantes, recortados por buracos minúsculos a que alguns Patos Bravos chamam janelas ou até varandas.
Mas as lágrimas tornam-se ainda mais sentidas ao recordar Zacarias Tarzan. Era ele o Rei daquela Selva. Nela vivia, dela se alimentava. Zacarias era um homem inadaptado à vida urbana. Depois da tropa, onde tinha sido preso e posteriormente expulso por agredir um alferes com um cotonete usado, veio viver para o Vale da Amoreira. Meses depois, o desajustamento à realidade citadina, tornou-se um fardo difícil de carregar, era-lhe impossível conviver com os automóveis que teimavam a andar no meio das estradas, com o pudor das pessoas que o agrediam verbalmente por andar nu nas ruas, com as mordomias da casa que habitava. Acabou por se refugiar na Fonte das Ratas. Tornou-se Mito. Turistas de toda a parte procuravam fotografar o Homem Selvagem. Começaram a surgir rumores sobre o seu suposto parentesco com os BigFoot americanos ou os Yetis do Tibete. Puro equívoco. Embora as suas feições fossem de certa forma grotescas e os pêlos no nariz e orelhas lhe escondessem o sorriso, era sem qualquer dúvida um exemplar da raça humana.
Nunca mais ninguém soube de Zacarias Tarzan. Diz o sábio povo que nas noites de lua cheia ainda se ouve o seu grito. Ouvidos mais atentos dizem tratar-se de Licínio Chispes a tentar cantar o fado na tasca do Azedo. Outros ouvidos mais saudosistas juram que é ele, no terraço de um prédio alto, a chorar o fim da Fonte das Ratas.

quinta-feira, julho 14, 2005

As Dicas de Pedrito Bodega – A Importância da apanha de algas na Economia da Região



Factos são factos. As centenas de restaurantes chineses, que se têm espalhado por esta região, estão dependentes da popular e tradicional apanha de algas. Em locais tão distintos e vastos como as praias do Rosarinho, dos Tesos, da Barra-a-barra ou até nos areais da Ilha do Rato, são capturadas inúmeras espécimes de algas e limos que são posteriormente vendidos ao quilo, servindo de pitéu nos fantasticamente saudáveis pratos da terra do Sol Nascente.
O Mar da Palha tem tradição milenar como viveiro natural de algas de rio. No entanto é a partir do século XX, com o surgimento das Industrias no Barreiro e Seixal e com o exponencial aumento dos esgotos residuais lançados ao rio, que novas espécies de algas e limos começam a germinar numa curiosa metamorfose da natureza. A Alga Mutante. Mais saborosa, mais rica em minerais, mais fácil de fritar e trincar. Claro que, como qualquer área de negócio, a concorrência é feroz. Ouve quem tenha tentado o monopólio da apanha da Alga Mutante, sem sucesso. Hoje dezenas de pequenas empresas encarregam-se da apanha e comercialização das mesmas, havendo mesmo uma associação, a Associação das Empresas Extractoras da Alga Mutante.

terça-feira, julho 12, 2005

One Patanisca - O Renascer dos i-glamour


Ontem à noite ocorreu magia na Tasca do Azedo. Quatro indivíduos, alcoolizados, cansados da amargura do charme, à beira da rotura, souberam dar a volta, caminhar juntos na descoberta de novos ideais, renascer da morte anunciada.
Talvez desgostoso pela acesa discussão que teimava em pairar sobre nós, ou motivado pelo vinho tinto carrascão espesso como xarope para a tosse (mas menos saboroso), ou então devido ao óleo de 14 meses com que foram fritos os pasteis de bacalhau que freneticamente trincava, decidi, num momento de puro simbolismo, levantar-me e iniciar uma desgarrada ao estilo charming neo-punk/rock/fado. Aí, como que por feitiço, Crazy começa a dedilhar acordes de profundo glamour hipnótico. Quase de seguida a concertina de Rebel inicia uma viagem de melodioso glamour, apimentada pela alucinada pandeireta improvisada do místico Mr. Stylish.
Desta improvisação nasceu um novo caminho para os i-glamour. Uma nova etapa. Um Renascimento que uniu a banda num ideal que saiu fortificado. Partilhamos aqui a letra da canção que vem mudar a face da música como a conhecíamos:

One Patanisca

The charme já não mete medo
Or do you feel the same

Will you heat a patanisca no Azedo
Now you got someone to blame

You say
One love
One life
When it’s one patanisca
De bacalhau
It’s one charme
We get to share it
It leaves you companheiro
If you don’t bebes copos 3

Did it disappoint you comilão?
Or leave a bad taste in your mouth?
You act like the wine fosse carrascão
And you want me to go without

Well it’s too late
Neste serão
To drink all the wine
Do garrafão
We’re one
But we’re not the same
We get to carry the charme
Carry the charme
One patanisca

Have you come here for eat rissois
Have you come to drink laranjada
Have you come here to play dominó

Ao som duma boa guitarrada

Did I ask too much
More than two pataniscas
You gave me nothing
Nem umas iscas
We’re one charme
But we’re not the same
We hurt each other
Then we do it again

You say
Love is a tasca
Love a higher law
Love is a tasca
Love the higher law
You think that I’m rasca
But then you make me crawl
And I can’t be holding on
To what you got
When all you got is frisson

One patanisca
Com arroz
One copo 3
You got to do what you should

One style
With each other

Sisters Brothers
One patanisca
But we’re not the same
We get to carry the charme, carry the charme
Carry the charme

One patanisca

segunda-feira, julho 11, 2005

Comunicado à legião de fãs – Calma, é apenas mais uma travessia no deserto

Amigos:

Os i-glamour atravessam uma crise profunda. O momento é de reflexão, de introspecção. Temos caminhado juntos ao longo de anos, momentos difíceis como este tivemos alguns. Poderia aqui recordar a época em que Crazy Charm decidiu tornar-se eremita, indo viver para a Mata da Machada, caçando pequenos roedores e apanhando cogumelos para sobreviver. Meses mais tarde eu e Mr. Stylish fomos resgata-lo na feira de Coina, onde vendia chás de eucalipto, de ervas daninhas e de casca de cebola. Poderia também referir a altura em que Mr. Stylish decidiu que a cartomancia e a adivinhação eram o seu futuro. Fomos atrás dele e encontramo-lo ás portas de Évora, num acampamento de ciganos espanhóis, trazia um lenço na cabeça e uma argola na orelha direita. Para o trazermos connosco tivemos que lá deixar o Fiat 127 e a gaita-de-beiços do Crazy como moeda de troca. A verdade é que sempre superámos esses momentos e agora conseguiremos também atravessar este deserto. Até porque os i-glamour estão na Estrada e compromissos são compromissos. Mais propriamente na Via-Rápida entre Moita e Coina. O próximo concerto será no 3ª viaduto a partir da Moita na direcção do Barreiro. Apareçam.

domingo, julho 10, 2005

Fim à vista?...ou será a carreira 44 para o Bairro Alentejano?

O fim está a vista?...A banda está a caminhar sem a brilhantina de outrora. O meu grande amigo Talk Talk, Senhor do baixo e Lord da Baixa da Banheira, anda completamente alucinado e já há algum tempo que me tenta convencer a introduzir instrumentos de sopro do famoso jazz Alhos Vedrense, que ainda hoje é tocado nas matinés de sábado à noite da Cleópatra. Mr. Stilish desde que colecciona pacotes de Dolviran mudou o estilo na bateria...agora raramente se senta e prefere tocar de pé, vá-se lá saber porquê. Mas o principal problema foi a contratação do novo membro, que só tem trazido complicações à banda. Um tipo que se veste como a pipi das meias altas, masca tampas de Colgate e snifa raspas de casca de queijo não tem nada a ver com o charme que deu origem a este ideal, a este movimento de pop/punk/rock charming. Estou a perder o entusiasmo e assim tenho de me esforçar ainda mais por manter o charme da banda, mas por quanto tempo? A musicalidade do grupo tem de tomar um novo rumo...chega de serões no Pinhal de Coina. Basta de orgias de tremoços e pevides na Vivenda da Ti'Alda...é tempo de partir e sonhar tudo outra vez. É tempo de reinventar a arte de comer um coirato com duas batatas quentes na boca...ou então a fonte do charme e a origem da sedução acabarão por se desvanecer...ou então, isto pode ser tudo impressão minha e ser apenas a carreira 44 para o Bairro Alentejano, que lá vem...

sexta-feira, julho 08, 2005

As Crónicas de Zé Caxias – As Férias

Aí estão as tão ansiadas férias. Finalmente poderei descansar de mais um ano de lutas, de conquistas, de emoções desvairadas, das longas horas de reuniões, de debates, dos bailes da Cleópatra. Partirei para o sossego de Armação de Pêra. Servirá certamente para o meu treino do inglês. É de facto uma dificuldade que pretendo colmatar. Um futuro chefe de Estado, mesmo de um pequeno país como a Ilha do Rato, tem que saber falar o inglês de forma a travar diálogos sobre o futuro do planeta com os outros chefes de Estado, inclusive o chefe de Estado da Republica Portuguesa. Para além disso acho que está na hora de internacionalizar o Charme Caxias, de o tornar um produto de culto no estrangeiro como o vinho do Porto, as loiças Vista Alegre, os i-glamour ou o Whisky de Alverca. Começarei então esse processo neste Verão. Procurarei em bares, em discotecas ou entre as rochas na praia, conversar com turistas femininas estrangeiras. De forma educada mas convicta, com leveza mas rapidez, mostrar-lhes-ei de que é feito o Macho Lusitano, da sub-raça da Ilha do Rato claro.
A minha experiência com moças estrangeiras, exceptuando as meninas do Bar Sedução, resume-se até ao momento à bielorussa Irina Patunchova, imigrante, funcionária da taberna do Butongo, ex-atleta Olímpica da URSS. O facto dela falar o português impedia-me de treinar outra língua. O facto dela na época ter tomado uns comprimidos para melhorar a performance física, impedia-a de usar qualquer roupa mais feminina, de sair de casa sem fazer a barba e de usar relógios com braceletes de mulher.

quinta-feira, julho 07, 2005

Uma questão de estilo

Talk Talk és um estilo pá!!!!!

Tasca do Azedo – Capital Mundial do Fado

Ainda estou ligeiramente em estado de alucinação. Os fadistas: Dona Josefa, Dona Maria (a Comporta de Alhos Vedros), Pontadas Caxias (primo do Zé Caxias), Tio Bento, “Facadas” Canhoto e Belmiro Santinho proporcionaram uma raçuda e memorável noite, que em determinados momentos atingiu níveis de plenitude musical. O fado vadio invadiu esta singela casa do Bairro das Palmeiras, desgarraram-se poesias, desenharam-se acordes, bateram-se palmas em saudoso entusiasmo. Fiquemos aqui com uma desgarrada cantada entre “Facadas” e Belmiro que termina com a vitória apoteótica do primeiro:

Belmiro Santinho
“Facadas” meu velho traste
Onde aprendeste a desgarrar?
Não sei porque aqui passaste
Tu nem sequer sabes cantar

“Facadas” Canhoto
Belmiro tu és companheiro
De bebidas e patuscadas
Na vinhaça tu és o primeiro
Mas és último nas desgarradas

Belmiro Santinho
Onde foi que tu aprendeste
A rimar de forma tão feia
Desiste pá, tu já perdeste
Foge desta grande tareia

“Facadas” Canhoto
Meu pai era tipo honrado
Homem de alma bem pura
Com ele nasci para o fado
Ouve bem ó cabeça dura

Belmiro Santinho
Já o vinho começa a falar
Admite que estás derrotado
Já noto o teu bafo no ar
Empestas esta casa de fado

“Facadas” Canhoto
Estás atento ao que bebi
Mas de resto estás distraído
Verias que toda a gente ri
Do traje que trazes vestido

quarta-feira, julho 06, 2005

Receitas com Chispes – Eu também sei ser sensível

Embora a rudeza extravase do meu aspecto físico, eu, Lícinio da Silva Chispes, até sou um tipo sensível. Não sou de chorar lágrimas de jacaré, mas por vezes surge a lágrima no canto do sobrolho. Recordo-me de ter ficado sensibilizado no dia do meu casamento, a minha futura mulher vinha deslumbrante ao entrar na igreja. Aquele vestido branco, comprado na casa de cortinados da Rua de Trás-os-Montes na Baixa da Serra, ficava-lhe a matar. Era largo, escondia perfeitamente os 107 quilos e o véu ocultava-lhe na perfeição o estrabismo e o amarelo escuro dos 14 dentes e meio que possuía. A marcha nupcial, tocada pelas gaitas-de-beiços dos meus amigos da taberna do Azedo, o Zé Rui e o Alfredo, foram um momento chave do acontecimento. Era um dia de chuva e como diz o Povo: casamento com chuva, vai batendo até furar. E furou. Dois meses depois a minha bela mulher deixou-me para ir viver em pecado com uma colega de trabalho. Segundo consta a tipa é sindicalista e também presidente da comissão de defesa da caracoleta ibérica, que pelos vistos está à beira da extinção. Desde então tenho caminhado sozinho na jornada da vida. Aqui e ali umas aventuras mais ou menos selvagens com moças que acabam por me deixar por me acharem um tipo grosseiro, dizem que não ligo aos seus sentimentos, que apenas me preocupo em leva-las ao desmaio extasiado. Mas eu também sei ser sensível.

segunda-feira, julho 04, 2005

As Dicas de Pedrito Bodega – O Kasparov do Charme

A Feira Cultural da Ilha do Rato foi um sucesso. Gentes dos 4 cantos da Margem Sul reuniram-se, neste fim-de-semana, durante as horas de maré-cheia, para celebrar em harmonia com o Universo a cultura, a intelectualidade, o misticismo incomum. Em colóquios e conversas de café empolgantes, discutiram-se assuntos tão vastos e profundos como o panorama geral do cinema do Kazaquistão, a reacção quase compulsiva à comichão devido a lombrigas, o crescimento de pêlos nasais e a sua relação com a proliferação de burriés, a cultura urbana aplicada a livros erótico-pornográficos de banda desenhada e também, como seria de esperar, o densificado e brutal charme. Foi de facto um “melting pot” de emoções, uma experiência de enriquecimento grandioso.
O momento chave desta Feira foi preconizado por Zé Caxias. O nosso fidalgo decidiu lançar-se a um desafio digno dos grandes mestres da Sedução. Sozinho, confrontou 67 mulheres, sentadas de fronte duma pequena mesa individual e perfiladas ao jeito daqueles torneios de xadrez, onde um qualquer genial jogador defronta dezenas de indivíduos, realizando uma jogada em cada mesa sucessivamente até ao cheque mate final. Neste caso o cheque mate correspondia ao arrebatamento feminino, perceptível na forma rendida com que nomeiam Caxias o homem de suas vidas ou então em simples espasmos corporais mais ou menos disfarçados. O toque, por parte do Zé Caxias, em outras zonas que não as mãos ou a cara das jogadoras estava proibida. Apenas palavras em português corrente estavam autorizadas. Neste jogo de sedução tivemos 49 arrebatamentos comprovados, 11 prontamente negados pelas seduzidas mas confirmados pelo júri e 7 desistências a meio da contenda.